"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 10 de maio de 2015

BBC PERGUNTA A PETISTAS HISTÓRICOS SE O AINDA PT TEM FUTURO



Em meio ao momento político delicado, a BBC Brasil ouviu pessoas historicamente ligadas ao PT. Entre os entrevistados, predomina a certeza de que a legenda precisa recompor ligações mais estreitas com os movimentos sociais para se fortalecer até as disputas presidenciais de 2018, quando o ex-presidente Lula poderá ser novamente candidato.
“Se o ajuste fiscal de Dilma penalizar apenas os mais pobres, o PT dificilmente deixará de sofrer significativa derrota nas eleições municipais de 2016″, afirma Frei Betto, que nunca foi filiado ao PT, mas participou da construção do partido e coordenou o programa ‘Fome Zero’. “O caminho para superar a crise é o PT assegurar a governabilidade por seus vínculos com os movimentos sociais, ainda que isso desagrade o mercado e divida sua base aliada no Congresso. Fora dos movimentos sociais o PT não tem futuro”, acrescenta.
Lideranças do partido como Lula, Tarso Genro e Marco Aurélio Garcia discutem a possibilidade de lançar a candidatura à Presidência em 2018 não em nome do partido, mas de uma frente ampla inspirada no modelo uruguaio, que reunisse sindicatos, associações, outras siglas, ONGs e movimentos sociais. Não está claro ainda como isso poderia ser viabilizado, já que pelas regras atuais o candidato tem que ser registrado por uma legenda.
UM PASSO ATRÁS
Para o autor do livro “A história do PT”, o professor da USP Lincoln Secco, essa estratégia “seria um passo atrás, uma resposta desesperada à crise”.
“O PT se afirmou historicamente como um partido hegemônico no campo da esquerda. Se ele propuser essa frente ampla, vai assumir que não é mais esse partido e precisa se esconder. Ele entraria numa linha meio defensiva”, analisa, dizendo que a maioria das lideranças de centrais sindicais e movimentos sociais continua fiel ao PT. No entanto, precisam manter uma distância segura do governo neste momento para não perderem apoio de suas bases.
“O governo está promovendo um ajuste fiscal contrário aos trabalhadores, passa por uma crise de legitimidade. Ninguém ganha muito ao ficar do seu lado”, diz Secco, ressalvando que isso pode mudar caso a economia volte a crescer.
CORRUPÇÃO
Outro enorme desafio é enfrentar as denúncias de corrupção na Petrobras.Fundador do PT, o economista octogenário Paul Singer defende o partido, dizendo que a Lava Jato foi promovida pelo governo federal e a Polícia Federal está subordinada ao Ministério da Justiça. Segundo ele, o PT “não é leniente com a corrupção” e afastará quem for culpado, assim como já foi feito com o ex-deputado André Vargas.
“Está mais do que sabido que esse processo de corrupção ocorre em obras públicas em geral e, na Petrobras, antes do governo do PT. Por que não foi feito antes a investigação?”, questiona ele, atualmente secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego.
Secco, por sua vez, é a favor de uma “limpeza profunda” no partido. Para ele, o PT já deveria ter afastado também seu tesoureiro, João Vaccari Neto, que, após ser preso preventivamente, apenas se licenciou do cargo. “No caso do mensalão, o PT ficou num discurso ambíguo, ora dizia que era um julgamento político, ora abandonava seus dirigentes. Mas agora nenhuma estratégia mais vai funcionar, porque por mais que o PT diga que todos os partidos façam (corrupção), e até acho que seja verdade, mas o PT está há 13 anos no poder e não fez nada para mudar isso”, diz Secco.
DOAÇÕES ILEGAIS
O PT defende uma reforma política que proíba doações de empresas, mas a proposta enfrenta resistência de outros partidos. Singer acredita que a decisão pode beneficiar o PT. “Penso que isso vai ser usado nas eleições como argumento contra os adversários”, disse.
“Se o PT renunciar inteiramente aos recursos empresariais e o Supremo ou o Congresso não decidirem pela proibição, isso terá um impacto negativo enorme em sua campanha, pois será uma concorrência desigual com o PSDB, mas vai lhe devolver grande força simbólica”, concorda Secco.
DEPENDÊNCIA DE LULA
“O PT é muito dependente da figura carismática de Lula, e não renovou suas lideranças nos últimos anos”, afirma Frei Betto, destacando ainda a perda de quadros proeminentes acusados de corrupção, como José Dirceu e José Genoíno, condenados no Mensalão.
“Ao promover a inclusão econômica do povo brasileiro nos últimos 12 anos, o PT não promoveu inclusão política. A nação foi despolitizada, perdeu o horizonte histórico de mudanças sociais. Hoje, o PT tem milhares de filiados e eleitores, mas não tem militantes”, acrescenta ele.
PT CONSERVADOR?
Nem todos que fundaram o PT, porém, consideram que o partido ainda segue seus princípios originais. E o próprio papel do ex-presidente não é unanimidade entre as figuras históricas do partido. Um de seus fundadores, o sociólogo Francisco de Oliveira, considera que “Lula matou o PT”.
Oliveira deixou o partido em 2003, logo após Lula vencer sua primeira eleição presidencial, por acreditar que o partido “se aburguesou”. Ele lembra que, em 1980, quando o PT foi fundado, tinha ideais reformistas e era crítico ao capitalismo.
“Lula é um conservador, não um revolucionário. Aliás, nunca foi. Mas o partido sim, era maior do que ele. O Lula virou maior do que o partido. As declarações de líderes partidários (hoje) são patéticas, porque se o Lula disser em outra direção, acabou”, critica o sociólogo.
“Então, se ele voltar em 2018, é, como se dizia antigamente, a pá de cal”, diz.

10 de maio de 2015
Deu no iG

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