"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O MORTO E OS MUITO VIVOS

BRASÍLIA - Nem José Mojica Marins, o lendário Zé do Caixão, seria capaz de inventar essa. Com a Lava Jato na cola de aliados, o presidente da CPI da Petrobras anunciou a exumação do cadáver de um ex-deputado. O objetivo, explicou, era investigar se o paranaense José Janene realmente morreu de infarto, em 2010.

Hugo Motta, o peemedebista que comanda a CPI, levantou uma suspeita de outro mundo. O finado, ou supostamente finado, teria simulado a própria morte para fugir da prisão. Seria o último e mais espetacular golpe de um político que conseguiu inscrever seu nome nos dois maiores escândalos da última década: o mensalão e o petrolão.

"A viúva disse que o caixão chegou lacrado e existem fortes indícios de que ele possa estar vivo. Ninguém viu Janene morto", disse Motta. "A suspeita é que ele possa estar vivo. Seria um personagem a ser trazido para a CPI", prosseguiu, acrescentando que o ex-deputado poderia estar escondido na América Central.

A teoria foi ironizada até por deputados do PP, o partido de Janene. "Sou um fã do Sherlock Holmes, li 53 livros do Arthur Conan Doyle, que escrevia coisas assim. Mas nunca vi nada parecido na política", me disse o catarinense Esperidião Amin.

"É uma fantasia que só desmoraliza a classe política. O Janene morreu no Incor, que é um hospital respeitado e jamais participaria de uma fraude", afirmou Paulo Maluf. "Aliás, você sabe quem fez o Incor? Foi o governador Maluf que fez", emendou.


O circo só foi desmanchado no fim da tarde, quando a viúva de Janene foi localizada por repórteres. Ela desmentiu o presidente da CPI e disse que a suspeita nunca existiu: "É absurdo, estou enojada. Esse trabalho perdeu a credibilidade", desabafou.

Se a história era tão frágil, por que Motta lançou a ideia da exumação? "Isso fez a gente passar o dia todo falando sobre um morto", constatou o deputado Júlio Delgado. "Mas serviu para tirar o foco dos investigados, que estão muito vivos."


21 de maio de 2015
Bernardo Mello Franco

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