Ao entregar ao senador Renan Calheiros o projeto de Diretrizes Orçamentárias para 2015, o ministro Nelson Barbosa, do Planejamento, ao destacar a previsão de uma queda de 0,9% no PIB e dizer que o exercício deverá fechar com uma inflação hoje estimada em 8,2%, confirmou oficialmente que o país ingressou numa fase de recessão, segundo reportagem de Marta Beck e Cristiane Bonfanti, O Globo de quinta-feira.
Ele próprio usou a expressão, já rejeitada certa vez pela presidente Dilma Rousseff ao recriminar declarações feitas pelo ministro Joaquim Levy, mas agora acentuada pelo titular do Planejamento. Quais poderão ser as consequências? No plano político, uma fragilização ainda maior do governo, elevando seu grau de dependência do Congresso e dos partidos que aparentam um apoio que, aliás, não possuem nas ruas. No plano econômico, ampliar a retração do mercado de consumo, sobretudo em função do temor que contamina grande parte da população em perder o emprego e não ter assim como pagar as prestações assumidas.
A retração no consumo reflete-se diretamente na arrecadação de impostos tanto os federais quanto estaduais e municipais. Nelson Barbosa anunciou uma reação positiva no PIB de 2016, porém há uma distância grande, no caso, entre o hoje e o amanhã. Isso de um lado. De outro, traduzindo-se a afirmação de Barbosa, vamos verificar que o recuo de 0,9% no PIB deste ano equivale a uma receita financeira da ordem de 50 bilhões de reais, aproximadamente, já que o PIB situa-se numa escala de 5 trilhões (de reais) em números redondos. É muito dinheiro. Sobretudo levando-se em conta que a massa salarial brasileira corresponde a cerca de 40% do Produto Nacional Bruto, denominação que, no calendário econômico, antecedeu o PIB, seu nome atual em uso.
RENDA EM QUEDA
Uma retração de 0,9%, este ano, significa uma queda no valor da renda per capita, que nada mais é que o resultado da divisão do PIB pelo número de habitantes. Hoje, portanto, na escala de 2,5 mil reais. Mas que, em vez de subir, vai baixar até dezembro, pois o Produto Bruto declinará 0,9% e a população aumentará 1%, já descontado o índice médio de mortalidade, em torno de 0,7%. Em síntese: enquanto o PIB recua 50 bilhões de reais, a taxa demográfica acrescenta mais um milhão de habitantes no território nacional. Um desastre, como se vê, com reflexo direto no poder aquisitivo de todas as classes sociais.
Não incluindo os superricos, é claro, pois estes se fortalecem com as elevações da Selic, que produz juros anuais de 12,75%, muitos degraus acima dos índices inflacionários atuais.
Diante desse quadro desenhado por Nelson Barbosa, ao analisar a vida econômica do país a partir da lente da recessão, qual poderá ser o reflexo psicológico, e também lógico, dos assalariados? Consumir menos, é claro. Inclusive porque as tarifas elétricas já subiram, o custo da gasolina e dos combustíveis em geral também, os transportes em consequência pelo mesmo caminho, fora outros aumentos que virão por aí. O preço médio dos alimentos, por seu turno, sobe quase diariamente. Como focalizamos em relação a dezembro do ano passado.
Temos então, menos empregos, recuo do PIB, maior inflação oficial. Três fatores extremamente negativos. Não existem, portanto, razões para vermos um mar azul projetado para 2016. Pois o tempo passa depressa e as soluções custam a aparecer. É isso aí.
18 de abril de 2015
Pedro do Coutto
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