"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 14 de março de 2015

ALÍVIO, POR ORA

BRASÍLIA - A coisa anda tão feia para o governo que a anemia das manifestações a seu favor da sexta-feira (13) foi motivo de alívio para o Planalto. Talvez tenha sido um bode na sala, mas o governo ventilava temer que os atos pudessem sair do controle chapa-branca e virar protestos duros contra o ajuste fiscal.

Como se viu, manifestantes a soldo cumpriram o ritual previsível de apoio acanhado ao governo, à tal reforma política e, enfim, ao que chamam de defesa da Petrobras.

O último item embute um dado fascinante de negação da realidade, visto que foram justamente a gestão e a corrupção ocorridas na era Lula/Dilma na megaestatal que a levaram para o buraco. Cereja do bolo, quando uma figura do naipe de João Pedro Stédile "abraça" um prédio qualquer, fica-se com a piada pronta.

Uma nota positiva foi a ausência de confrontos com os radicais de Facebook, grupelhos inexpressivos no real –aqui não se fala de black blocs, mas de boitatás que defendem a volta da ditadura e afins. Mais um respiro para o governo: não se viu gente de vermelho em batalhas campais.

Agora é ver o que ocorre neste domingo, quando a agenda das ruas não conta com organização militarizada do condomínio CUT/MST/MTST, mas aparenta ter a seu lado o enorme descontentamento popular com o governo e o WhatsApp.

A expectativa palaciana, ressaltando aqui o caráter de "hedge", é de algo concentrado em São Paulo. Se confirmada, já é um problema para Dilma: o motor do país reafirma o "espírito de 1932", de rejeição ao governo central, e deixa aberta uma agenda de novos protestos.

O panelaço do domingo passado, imprevisto apesar das teorias conspiratórias, sugere que algo de maior ressonância pode estar a caminho. Neste caso, a questão para o governo não é nem o grito por impeachment, extremo que poucos de fato desejam, mas sim o ainda maior enfraquecimento do Planalto.


14 de março de 2015
Igor Gielow, Folha de SP

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