(O Globo, hoje) Em sua primeira entrevista como ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou não acreditar que os ajustes a serem feitos pelo governo na economia provoquem “uma parada brusca” em 2015. Segundo ele, a evolução da atividade econômica vai depender da forma como ela responderá às novas ações, mas apresentou um cenário mais positivo, com expectativa de recuperação da economia internacional. Levy assumiu o cargo prometendo em seu discurso reequilibrar as contas públicas e disse que possíveis ajustes em alguns tributos serão considerados.
— Possíveis ajustes em alguns tributos serão também considerados, especialmente aqueles que tendam a aumentar a poupança doméstica e reduzir desbalanceamentos setoriais da carga tributária — disse. O governo, segundo ele, já começou a tomar medidas na área fiscal e citou a alteração nas regras de benefícios como o seguro-desemprego e a pensão pós-morte. — A gente está começando esse tipo de ajuste pelo lado do gasto. A gente deve, eventualmente, considerar alguns ajustes também no lado da receita — observou o ministro.
Levy evitou responder sobre a regulamentação da lei que altera o indexador da dívida dos estados. Disse apenas que o governo fará o máximo de diálogo possível e que o tema é tão importante que é acompanhado com atenção até fora do Brasil. Segundo ele, o país tem de focar em redução do custo de financiamento da dívida brasileira. Lembrou ainda que o rating do país influencia todo o setor privado. Evitou, entretanto, dar detalhes sobre o que pretende fazer.
— Nesse momento o que a gente vai fazer é dar espaço para respirar. A economia (brasileira) tem demonstrado muita resiliência. Não acredito numa parada brusca. Certas coisas talvez diminuam (em 2015) um pouco, mas outras vão aumentar. (...) Vai haver efeito positivo nos Estados Unidos e na Europa (...) Mercados que vinham fracos vão começar a se recuperar — destacou. Levy disse que trabalha com um crescimento de 0,8% para a economia este ano, número que já foi incluído pelo governo na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015.
RETOMADA DA CONFIANÇA
Levy afirmou não acreditar em “fórmula mágica” para estimular a participação do setor privado no investimento no Brasil. Segundo ele, a expectativa da nova equipe econômica é que ocorra uma retomada da confiança dos empresários na economia a partir de 2015, o que tende a ajudar na redução dos custos de financiamento e das taxas de juros no país.
— Não tem fórmula mágica. Isso vai ser o resultado de uma série de ações e é baseado na evolução da situação fiscal. Na medida em que for mais fácil, houver maior concorrência, tudo isso tende a baixar os custos e com isso, naturalmente, você vai atraindo investidores, mais pessoas interessadas a fazer negócios — afirmou.
O novo ministro da Fazenda disse ainda acreditar que o setor sucroalcooleiro consegue retomar a competitividade com bastante vigor, diante de sua capacidade e das condições climáticas do Brasil. — Eu acho que o setor sucroalcooleiro, com a capacidade que tem, (com) as condições da agricultura, climáticas no Brasil — que, de forma geral, são favoráveis — acho que ele consegue retomar a competitividade com bastante vigor — disse.
SUPERÁVIT PRIMÁRIO
Levy disse também que o Brasil tem condição de cumprir a meta de economia que o governo faz para pagar juros da dívida — o superávit primário — de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Segundo ele, isso pode ser alcançado com um impacto mínimo da economia. Ele ainda garantiu a continuidade de programas essenciais.
— Qualquer mudança de rumo significa fazer esforço. Não há expectativa infringente de direitos. A gente tem capacidade de alcançar (a meta de superávit) com o impacto mínimo na economia — explicou ele —Garantida a continuidade de programas essenciais — acrescentou.
Joaquim Levy frisou que, assim, a confiança deve voltar. — Algumas decisões que tem sido postergadas e suspensas vão voltar e vamos ver a economia se relançando. É natural. É como quando a gente está muito cansado, depois a gente se recupera — comparou.
Questionado sobre as previsões de que a inflação medida pelo IPCA convergirá para o centro da meta, de 4,5% ao ano, apenas em 2017, o ministro disse que espera que a inflação possa ir em direção à meta “muito antes”. — Eu não vou exatamente me pronunciar sobre metas de inflação até porque estou neste prédio (do Banco Central). Agora, eu diria assim: convergir, voltar para a meta, ir em direção à meta, espero a inflação fazer isso muito antes. Agora, alcançar a meta, a data exata, as projeções do Banco Central, com a devida faixa de erro, indicam o melhor cálculo que a gente tem no momento — afirmou.
OPERAÇÃO LAVA-JATO
Questionado sobre os efeitos que a operação Lava-Jato pode ter sobre a economia e sobre a oferta de crédito no mercado brasileiro, o ministro da Fazenda deu uma resposta genérica. Ele afirmou que desses episódios sairão empresas mais fortes.
— Tenho certeza de que esses episódios todos vão resultar na melhora das companhias, na melhora de como as coisas são feitas, em companhias mais fortes, que é o que faz uma economia ser inovadora. Essas coisas nascem de um desafio. Somos uma sociedade em transformação. Nossa economia tem que responder a isso — afirmou.
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