"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 24 de janeiro de 2015

ALÇA DE MIRA

Petrolão: empreiteiro rompe o silêncio e mostra que a Lava-Jato chegou ao Palácio do Planalto

gerson_almada_01Quando afirmou, em matéria do dia 29 de agosto de 2014, que a Operação Lava-Jato em breve subiria a rampa do Palácio do Planalto, o UCHO.INFO o fez com base em informações do editor, um dos denunciantes do esquema de corrupção que foi gestado pelo finado José Janene, à época deputado federal pelo PP do Paraná e um dos caciques do esquema criminoso que sangrou os cofres da Petrobras na esteira de superfaturamento de contratos e pagamento de propinas.
O outro denunciante foi o empresário Hermes Magnus.

Preso em 14 de novembro de 21 durante a Operação Juízo Final, sétima etapa da Lava-Jato, o vice-presidente da construtora Engevix, Gerson de Mello Almada, decidiu soltar o verbo na tentativa de provar sua falsa inocência.

Em documento de 85 páginas, o advogado de Almada, ao rebater as denúncias oferecidas pelo Ministério Público Federal, acusa o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, de promover “achaques em nome de partido, ou em nome de governo”.

De acordo com a petição produzida pelo renomado advogado Antonio Sérgio de Moraes Pitombo, os diretores da Petrobras que operavam o esquema de corrupção “foram cooptados para o objetivo ilegítimo de poder político”.

O empreiteiro afirma também, por meio de seu defensor, que Paulo Roberto Costa “e demais brokers [operadores] do projeto político de manutenção dos partidos na base do governo colocou os empresários, todos, na mesma situação, não por vontade, não por intenção, mas por contingência dos fatos. Quem detinha contratos vigentes com a Petrobras sofreu o achaque, este sim, a força criadora do elemento coletivo”.

Se o conteúdo do documento carreado ao processo que tramita na Justiça Federal é verdadeiro não se sabe, mas o achacado que aceita passivamente a ofensiva criminosa, sem comunicar o fato às autoridades, é tão culpado quanto o achacador. De tal modo, Gerson Almada pode ter dado um tiro no pé ao tentar vender a ideia de que foi vítima do carrossel de corrupção que girava na estatal.

Mais adiante, no documento, Pitombo destaca que “[Almada] compõe, tão só, o grupo de pessoas que pecaram por não resistirem à pressão realizada pelos porta-vozes de quem usou a Petrobras para obter vantagens indevidas para si e para outros bem mais importantes na República Federativa do Brasil”. Em outras palavras, o advogado reconheceu que seu cliente fez pagamentos ilegais para os operadores do esquema que funcionava em algumas diretorias da petroleira nacional.

A tese que escora o documento é o da leniência, que fracassou em várias tentativas de negociação com as autoridades que integram a força-tarefa da Operação Lava-Jato. Mesmo que rebuscado e capaz de comover os incautos, o documento não convence quem conhece os bastidores do poder.

Depois de mais de dois meses atrás das grades por ter participado do maior escândalo de corrupção da história brasileira, Gerson Almada está a duvidar da perspicácia do juiz federal Sérgio Fernando Moro e dos procuradores da República que trabalham no caso.

Contudo, apesar dos rodopios redacionais que emolduram o documento, há na petição em questão dois detalhes importantes e que confirmam um fato que teve espaço contumaz em várias matérias do UCHO.INFO: os alarifes que giravam a roda criminosa da fortuna na Petrobras agiam com o consentimento explícito do Palácio do Planalto. Isso significa dizer que Luiz Inácio da Silva, o agora lobista Lula, e Dilma Vana Rousseff sempre souberam da roubalheira que ocorria na estatal.

Entre os trechos da petição que merecem destaque, o mais incisivo é o que segue: “Vale registrar alguns fatos notórios, outros emergentes dos próprios autos do inquérito policial, que desapareceram da acusação: faz mais de doze anos que um partido político passou a ocupar o poder no Brasil. No plano de manutenção desse partido [PT] no governo, tornou-se necessário compor com políticos de outros partidos, o que significou distribuir cargos na Administração Pública, em especial, em empresas públicas e em sociedades de economia mista.” Traduzindo, o PT planejou perpetuar-se no poder a qualquer custo.
 
O trecho do documento que confirma a afirmação do UCHO.INFO sobre a conivência do governo do PT é o que acusa Paulo Roberto Costa de exigir dos empreiteiros o pagamento de propinas em troca da manutenção dos contratos com a Petrobras.

“Sabidamente [Costa] passou a exigir percentuais de todos os empresários que atendiam a companhia. Leia-se, exigir. O que ele fazia era ameaçar, um a um, aos empresários, com o poder econômico da Petrobras. Prometia causar prejuízos no curso de contratos. Dizia que levaria à falência quem contrastasse seu poder, sinônimo da simbiose do poder econômico da mega empresa com o poder político do governo.”

A coragem que faltou ao executivo Gerson de Mello Almada sobrou aos que denunciaram o esquema criminoso que passou a funcionar depois do escândalo do Mensalão do PT, como forma de manter o abastecimento financeiro da chamada base aliada. Depois de uma década de bandalheira ininterrupta, período em que os cofres da Petrobras foram acintosamente saqueados, querer destilar inocência é excesso de ousadia ou confiança na impunidade.

24 de janeiro de 2015
ucho.info

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