Quem acompanha a Petrobras desde a CPI de 2009, sabe que a estatal montou uma verdadeira máquina de mentiras para confundir a opinião pública. Uma das suas táticas era só responder aos pedidos da imprensa por escrito, evitando, assim, ser confrontada com outras versões. As respostas à imprensa eram publicadas antes em blog próprio, o Fatos e Dados, que continua ativo até hoje. Para isso, colocou na sua folha de pagamento centenas de jornalistas que atuam oficial ou extra oficialmente para as maiores assessorias de comunicação do país. Leia aqui o case de comunicação da Petrobras escrito por um dos participantes. Mas antes tome um Engov, um Dramin ou qualquer outro medicamento contra vômitos.
Neste final de semana, entrou em curso a operação midiática da Petrobras para assassinar a reputação de Venina Velosa da Fonseca (foto), ex-gerente que está na estatal desde 1990, onde ocupou diversos cargos. Ela começou a apresentar denúncias em 2008, quando era subordinada a Paulo Roberto Costa como gerente executiva da Diretoria de Abastecimento, cargo que ocupou entre novembro de 2005 e outubro de 20009. O jornal Valor Econômico publicou matéria exclusiva que, baseada em provas documentais apresentadas por Venina, comprovam definitivamente que Graça Foster tinha pleno conhecimento da corrupção que corria desenfreada dentro da Petrobras.
Vamos relatar de forma sintética a "linha do tempo" das denúncias de Venina, que podem ser conhecidas em detalhes na matéria do Valor, publicada aqui no Blog.
- Denunciou as falcatruas na área de comunicação da Petrobras, em 2008, informando à diretoria e presidência que estavam sendo pagos serviços não realizados. A Petrobras investigou e demitiu o gerente responsável, porque encontrou R$ 58 milhões em serviços pagos e não realizados e mais R$ 44 milhões em notas fiscais "frias".
- Em 2009, denunciou vários problemas na refinaria Abreu e Lima, como a contratação de obras sem licitação, escalada de preços via aditivos inexplicados, cláusulas abusivas contra a Petrobras. Num ofício de 4 de maio de 2009, Venina criticou a forma de contratação que, em pelo menos quatro vezes naquela etapa, dispensou as licitações e, em várias ocasiões, beneficiou as empresas que hoje estão envolvidas na Operação Lava Jato.
- Documento interno da Petrobras de 2009 mostra que Venina fez 107 Solicitações de Modificação de Projetos (SMPs), o que resultaria numa economia de R$ 947,7 milhões nas obras da refinaria. Mas as sugestões da gerente não foram aceitas.
- Outra sugestão não atendida foi a de acrescentar uma cláusula chamada "single point responsibility" nos contratos pela qual a construtora se tornaria responsável por eventuais problemas nas obras da refinaria, devendo arcar com os gastos.
O desgaste de fazer as denúncias e não obter respostas, segundo o Valor, fez com que Venina deixasse o cargo de gerente de Paulo Roberto, em outubro de 2009. No mês seguinte, a fase 3 de Abreu e Lima foi autorizada. Em fevereiro de 2010, a geóloga foi enviada para trabalhar na unidade da Petrobras em Cingapura. Chegando lá, lhe pediram que não trabalhasse e foi orientada a fazer um curso de especialização.
Durante os anos em que esteve fora, Venina continuou a alertar Graça Foster e José Carlos Cosenza, presidente e diretor que disseram na CPI que não estavam informados da corrupção na Petrobras, de diversas falcatruas na área internacional.
Uma última mensagem sobre o assunto foi enviada por Venina em 17 de novembro. Dois dias depois, a direção da Petrobras a afastou do cargo. Após fazer centenas de alertas e recomendações sobre desvios na empresa, ela foi destituída pela atual diretoria, sem saber qual a razão, ao lado de vários funcionários suspeitos na Operação Lava-Jato. A notícia lhe chegou pela imprensa, em 19 de novembro.
Agora vejam o que a Petrobras está plantando na Imprensa, através da sua milionária máquina de moer reputações:
A empresa publicou nota oficial, um dia depois da matéria no Valor Econômico, onde afirma:
A Petrobras instaurou comissões internas de apuração, entre as quais uma referente aos procedimentos de contratação nas obras da RNEST, em 2014. A empregada foi ouvida nesta comissão, momento em que teve a oportunidade mas não revelou os fatos que está trazendo agora ao conhecimento da imprensa. A empregada guardou estranhamente por cerca de 5 anos o material e hoje possivelmente o traz a público pelo fato de ter sido responsabilizada pela comissão.
Ora, as denúncias sobre as fraudes bilionárias na refinaria Abreu e Lima (RENEST) foram feitas por Venina em 2009. Por que a Petrobras "instaurou comissões internas" apenas em 2014, depois que a Operação Lava Jato confirmou o que Graça Foster e o governo do PT já sabiam?Além disso, já em 2008 o TCU apresentava relatórios conclusivos sobre corrupção na obra. Leia aqui.
Como é que a Petrobras afirma em nota oficial que "a empregada guardou estranhamente por cerca de 5 anos o material", se está provado por e-mails que ela fez as denúncias em 2009, conforme publicado pelo jornal Valor Econômico? Por que a Petrobras não investigou naquela oportunidade e optou por calar a funcionária, transferindo-a para Singapura?
É de se perguntar a Petrobras: por que demorou cinco anos para imputar um crime a Venina, justamente no momento em que todos os fatos comprovam que ela estava certa e que se a estatal agisse conforme a sua orientação bilhões teriam sido poupados?
Além disso, a Petrobras fez vazar para a imprensa que o "plano" de Venina para a Abreu e Lima foi adotado e aumentou o custo da obra em R$ 4 bilhões. Baseado nisso a estatal demitiu a ex-gerente. É ou não é estarrecedor? Se a ex-gerente foi afastada do projeto em 2009, justamente por estar sugerindo ações que não foram implementadas, como pode ter gerado tal prejuízo?
Além disso, a Petrobras fez vazar para a imprensa que o "plano" de Venina para a Abreu e Lima foi adotado e aumentou o custo da obra em R$ 4 bilhões. Baseado nisso a estatal demitiu a ex-gerente. É ou não é estarrecedor? Se a ex-gerente foi afastada do projeto em 2009, justamente por estar sugerindo ações que não foram implementadas, como pode ter gerado tal prejuízo?
A nota oficial da Petrobras, que publicamos abaixo na íntegra, não para em pé. Mas poderá ser transformada em verdade, haja vista o poderia de comunicação da estatal. Já começaram a pipocar as primeiras matérias atacando Venina, especialmente na esgotosfera que vive de patrocínios do PT. Alguns grandes jornais também já aceitaram a pauta. Que nos salve a Justiça, pois Venina vai depor ao Ministério Público, em Curitiba, onde tramita o processo da Lava Jato, nos próximos dias.
A nota da Petrobras, na íntegra:
Esclarecimento
Com referência às matérias publicadas na imprensa a respeito de denúncias feitas pela empregada Venina Velosa, a Petrobras reitera que tomou todas as providências para elucidar os fatos citados nas reportagens. Não procede a afirmação de que não houve apuração por parte da Companhia em nenhum dos três casos citados por ela: RNEST, Compra e Venda de BUNKER e Irregularidades da Gerência de Comunicação do Abastecimento.
A Petrobras instaurou comissões internas de apuração, entre as quais uma referente aos procedimentos de contratação nas obras da RNEST, em 2014. A empregada foi ouvida nesta comissão, momento em que teve a oportunidade mas não revelou os fatos que está trazendo agora ao conhecimento da imprensa. A empregada guardou estranhamente por cerca de 5 anos o material e hoje possivelmente o traz a público pelo fato de ter sido responsabilizada pela comissão.
A empregada foi citada no relatório desta Comissão com referência a responsabilidades por não conformidades consideradas relevantes. O resultado foi enviado às Autoridades Competentes (MPF, PF, CVM, CGU e CPMI) para as medidas pertinentes. A empregada foi destituída da função de diretora presidente da empresa Petrobras Singapore Private Limited em 19/11/2014, após o que ameaçou seus superiores de divulgar supostas irregularidades caso não fosse mantida na função gerencial.
A Petrobras instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento. O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 3 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da Companhia. A demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica. A demissão foi efetivada em 2013. O resultado das análises foi encaminhado para a CGU e MP/RJ e há uma ação judicial em andamento visando ao ressarcimento dos prejuízos causados à companhia pelo ex-empregado.
Após resultado do Grupo de Trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra e venda de bunker, com a implementação de controles e registros adicionais. Com base no relatório final, a Companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis. A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014.
Gerência de Imprensa/Comunicação Institucional
Esclarecimento
Com referência às matérias publicadas na imprensa a respeito de denúncias feitas pela empregada Venina Velosa, a Petrobras reitera que tomou todas as providências para elucidar os fatos citados nas reportagens. Não procede a afirmação de que não houve apuração por parte da Companhia em nenhum dos três casos citados por ela: RNEST, Compra e Venda de BUNKER e Irregularidades da Gerência de Comunicação do Abastecimento.
A Petrobras instaurou comissões internas de apuração, entre as quais uma referente aos procedimentos de contratação nas obras da RNEST, em 2014. A empregada foi ouvida nesta comissão, momento em que teve a oportunidade mas não revelou os fatos que está trazendo agora ao conhecimento da imprensa. A empregada guardou estranhamente por cerca de 5 anos o material e hoje possivelmente o traz a público pelo fato de ter sido responsabilizada pela comissão.
A empregada foi citada no relatório desta Comissão com referência a responsabilidades por não conformidades consideradas relevantes. O resultado foi enviado às Autoridades Competentes (MPF, PF, CVM, CGU e CPMI) para as medidas pertinentes. A empregada foi destituída da função de diretora presidente da empresa Petrobras Singapore Private Limited em 19/11/2014, após o que ameaçou seus superiores de divulgar supostas irregularidades caso não fosse mantida na função gerencial.
A Petrobras instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento. O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 3 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da Companhia. A demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica. A demissão foi efetivada em 2013. O resultado das análises foi encaminhado para a CGU e MP/RJ e há uma ação judicial em andamento visando ao ressarcimento dos prejuízos causados à companhia pelo ex-empregado.
Após resultado do Grupo de Trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra e venda de bunker, com a implementação de controles e registros adicionais. Com base no relatório final, a Companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis. A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014.
Gerência de Imprensa/Comunicação Institucional
15 de dezembro de 2014
in coroneLeaks
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