Excelente reportagem de Erica Fraga, edição de segunda-feira da Folha de São Paulo, dia 8, revelou com base na Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho, que nada menos de 47% dos empregados de nível universitário regidos pela CLT e dos servidores públicos ganham até 4 salários mínimos mensais. Faixa teto como se vê muito baixa para mão de obra especializada. Se a parcela de 47% desses assalariados brasileiros é tão pouco remunerada, imagine-se as demais categorias. cerca de dois terços dos que trabalham ganham por mês de 1 a 3 salários mínimos.
Esse perfil de renda, como não poderia deixar de ser, divide o eleitorado do país em faixas específicas. Com base nele, inclusive, é que o Datafolha e Ibope realizam as pesquisas de intenção de voto. Com base em tal estrutura social separam-se os níveis d compreensão dos fenômenos e dos fatos que se refletem no universo político.
Pois quando se pensa que determinado acontecimento produziu um forte abalo em candidaturas direta ou indiretamente envolvidas na repercussão que justamente produziram, na verdade para as classes de menor renda (a maioria absoluta da população) não conseguiram atingi-las e causar efeito concreto no roteiro da campanha e no endereço das urnas.
PRÓXIMAS PESQUISAS
As próximas pesquisas do Ibope e Datafolha, dentro de duas semanas, prazo de absorção dos impactos que se sucedem, é que vão traduzir a impressão panorâmica para a realidade concreta, fruto da capacidade de sensibilização das correntes populacionais escalonadas por classes sociais. Estou me referindo diretamente ao reflexo das revelações do ex diretor da Petrobrás, Paulo Roberto da Costa, sobre escândalos de corrupção colocando no mesmo patamar ex dirigentes da estatal e representantes de grandes empresas. Somente a partir desse estágio, alcançando causa e efeito, é que se poderá saber.
Voltando ao tema central contido na reportagem de Érica Fraga, os baixos níveis de remuneração dos profissionais de nível universitário, que constituem 17,8% de todo atual mercado de trabalho, tal realidade é focalizada pelo presidente do Instituto do Trabalho e Sociedade, Simon Schartzman, professor e economista, pelo especialista Naércio Menezes Filho, do INSPER, pelo economista Fernando veloso, da Fundação Getúlio Vargas. As traduções são várias, cada enfoque enfatiza aspectos diversos da questão. Convergem, porém, acentuo eu, para uma realidade incontestável: o antigo dilema entre oferta e procura. Sendo maior a oferta, claro, à medida em que a distância entre um polo e outro se alarga, os valores do salário descem.
Pois, afinal de contas, por que as empresas devem elevar a remuneração que oferecem, se as oportunidades são aceitas e preenchidas por uma mão de obra compelida a aceitar e absorver as regras do jogo. E as regras do jogo, ditadas pela oferta das colocações, não vão mudar, sempre que o fantasma do desemprego e do não emprego surgir à frente da juventude que conclui a formação universitária. Isso de um lado.
De outro, se o mesmo fantasma intimida os que deixaram os bancos das faculdades, que se pode dizer relativamente àqueles cuja formação não passa do nível médio, ou de cursos de profissionalização? O temor para esses se acentua por razões ainda de maior vulto. As classes sociais é que formam e fornecem pensamento aos eleitores do país. Por isso, as decisões políticas, no caso específico da presidência da república, cabem a elas.
Pedro do Coutto
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