"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 27 de julho de 2014

REAÇÕES VIOLENTAS

Governo brasileiro acerta ao condenar desproporção na ofensiva de Israel à faixa de Gaza, mas peca por silenciar sobre ações do Hamas

Depois do choque, a reflexão. Após dizer-se horrorizado com a notícia de que pelo menos 15 pessoas, entre as quais mulheres e crianças, foram mortas num ataque israelense a uma escola mantida pela ONU e que servia como refúgio para palestinos, o secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon, resumiu um imperativo: "Parar a matança --e pará-la agora".

É desolador o desenrolar de mais este conflito entre Israel e palestinos, cujo estopim ocorreu em junho, com o assassinato de três adolescentes judeus que pediam carona nas proximidades da Cisjordânia. Pelo menos 700 palestinos, a maioria deles civis, foram mortos nas últimas semanas.

Nesta quarta-feira, em Genebra, a alta comissária dos direitos humanos da ONU, Navi Pillay, afirmou que Jerusalém não fez o suficiente para proteger as vidas de civis durante suas ofensivas aéreas ou ao destruir casas e hospitais.

Pillay, além disso, não descarta a hipótese de que o Estado tenha cometido crimes de guerra, o que será alvo de investigação já aprovada pela maioria dos países em reunião da ONU sobre o tema.

De forma sensata, a representante das Nações Unidas condenou também o grupo radical islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza, por seus ataques indiscriminados contra o vizinho. Além de 32 integrantes das Forças Armadas de Israel, há registro de três civis mortos no país.

Salta aos olhos a assimetria nesse confronto. Lastreado nessa constatação, o Itamaraty emitiu, também na quarta-feira, uma forte nota diplomática.

"O governo brasileiro considera inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças."

Não fosse pela completa omissão aos lançamentos de foguetes promovidos diariamente pelo Hamas, o comunicado seria uma justa expressão do descontentamento da comunidade internacional com o andamento do conflito. Houve, em vez disso, apenas a genérica exortação para que as partes cheguem a um cessar-fogo.

No plano doméstico, o silêncio do governo federal quanto aos radicais palestinos reforçou, em pleno período de campanha eleitoral, a polarização ideológica e quase automática em que setores de esquerda engrossam as fileiras da crítica a Israel, enquanto a direita reprova os métodos do Hamas.

Tal seletividade na vocalização da defesa dos direitos humanos --universais por princípio-- é sem dúvida digna de crítica, tanto doméstica quanto internacional.

Seria um rematado exagero, contudo, extrair desse episódio que o Brasil seja país "politicamente irrelevante" ou "anão diplomático". Essa, porém, foi a reação de representantes israelenses nesta quinta-feira, em um claro sinal de destempero e intransigência --atributos que só prejudicam as necessárias negociações de paz para a região.


 26 de julho de 2014
Editorial Folha de Sp

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