Foi assim que li o artigo de um porta-voz do governo Tarso Genro na Zero Hora do dia 22. Nele, o porta-voz exalta os números de evolução do PIB do RS, buscando transmitir a impressão de que tudo vai bem ainda que salte aos olhos que quase tudo vai mal. Para apoiar sua tese, o autor, por exemplo, aponta o fato de que o PIB do Estado cresceu 6,3% no ano passado. Se tivesse referido também os dados de 2012, seria forçoso reconhecer que o PIB estadual, naquele ano, evoluiu -1,4%.
Diante desse tombo, determinado principalmente pela estiagem então ocorrida, era natural que a expansão do ano subsequente fosse elevada. Só para exemplificar: de 2012 (estiagem) para 2013 (boas chuvas), a agropecuária apresentou um crescimento de 39% (!), puxando todos os outros indicadores para cima.
No texto em questão, atrás dos números de 2013, foram escondidos os maus números de 2012. E de lambuja, ocultaram-se, também, os maus números de agora, de 2014. Nos cinco primeiros meses deste ano, o Índice de Desempenho Industrial do RS caiu -2,1%. O fenômeno atinge vários setores, o nível de emprego industrial e as exportações, que caíram 20% no primeiro semestre deste ano.
CASO DA MONTADORA
Por outro lado, é oportuno falar sobre o desenvolvimento do RS dois dias depois de o ex-governador Olívio Dutra haver reconhecido, publicamente, que foi sua a decisão de expulsar a montadora que a Ford começava a implantar no Estado em 1999. A empresa foi parar na Bahia. E desde que isso aconteceu, o setor automotivo daquele Estado recebeu 58 novas empresas industriais, o número de empregos saltou de 548 para 10.518 e o PIB do setor passou de R$ 3,6 milhões em 2000 para R$ 2,9 bilhões em 2012! Tudo graças ao “desenvolvimentismo” do PT gaúcho.
Quem produz ou deixa de produzir, quem emprega ou desemprega são as empresas. Para o petismo, quando o nível de emprego sobe, quem os cria é o PT. Quando ele diminui, quem desemprega é a iniciativa privada. O que os governos podem fazer pelo desenvolvimento num sentido amplo é aquilo que o governo gaúcho não vem fazendo. As estradas estão abandonadas, a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica) em situação pré-falimentar, a educação pública ideologizada e de má qualidade segue o estilo Paulo Freire, e uma hecatombe fiscal está desenhada para o próximo exercício.
Quem ressaltou muito bem essa hecatombe foi o economista e contador Darcy Francisco Carvalho dos Santos em artigo publicado no dia 20, também em Zero Hora. Ao término da analise que fez, de modo inspirado, ele anteviu assim o teor da contestação que viria dois dias depois: “A estratégia política encontrada é se refugiar em números de crescimento conjunturais do PIB, que nada têm a ver com as ações do governo estadual”. É atrás dos números que a realidade mais facilmente pode ser escondida.
Percival Puggina
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