"As árvores querem ficar quietas. Mas o vento não deixa."
O dito, que reflete aspecto da sabedoria chinesa, se adapta a desafio do mundo contemporâneo. Globalizados, os países mantêm as fronteiras nacionais, mas são obrigados a olhar cada vez mais - e mais insistentemente - para as demais nações do globo.
É que o movimento de um obriga os outros a se moverem quer queiram, quer não. Mais: o resultado impõe comparações que denunciam o grau de sintonia ou dissintonia com a contemporaneidade. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) serve de exemplo. Criado em 1980 pela ONU, o indicador vai além dos frios dados da economia. Mede o desenvolvimento humano.
Baseia-se em três componentes: educação, renda e expectativa de vida. Em 2013, entre 187 países, o Brasil ocupa o 79º lugar. Obteve média 0,744, numa escala de 0 a 1, em que quanto mais próximo de 1 melhor é a classificação. Embora tenha melhorado uma posição no ranking, o país não fica bem na foto. Está atrás de vizinhos latino-americanos como, entre outros, Chile (41º), Cuba (44º), Argentina (49º) e Uruguai (50º).
O governo, como em anos anteriores, contesta o resultado. Alega terem sido usado dados desatualizados. Segundo a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, o país estaria em 67º lugar (sem considerar mudanças que ocorreriam em outros países). Vale a pergunta: a diferença entre um dado e outro significaria melhor qualidade de vida? A resposta não admite titubeios. É não. Seria fácil se a simples mudança de número tivesse o poder mágico de mudar a realidade.
Na educação, um dos indicadores levados em consideração pela ONU, o Brasil ficou com a 55ª posição do ranking de leitura do Pisa, teste internacional que avalia o desempenho de estudantes de 65 países. Tal qual no IDH, aparece abaixo de nações como Chile e Uruguai. Nada menos de 49,2% dos alunos brasileiros mostrou-se incapaz de alcançar o nível 2 de desempenho na avaliação, que tem o nível 6 como teto.
Em bom português: rapazes e moças não conseguem entender o que leem. Diante de um texto, falta-lhes aptidão para deduzir informações, estabelecer relações entre diferentes partes, compreender nuances da linguagem. Em matemática e ciências, o quadro mostra as mesmas cores cinzentas.
O Brasil precisa dar salto de qualidade. Não só na educação, mas também na saúde e na segurança, cujas estatísticas impactam direta e fortemente outro indicador do IDH - a expectativa de vida. Sem olhar para o próprio umbigo, com determinação e vontade de corrigir rumos, o país se manterá no vermelho. A dívida com a população continuará a conjugar o verbo crescer.
26 de julho de 2014
Editorial Correio Braziliense
O dito, que reflete aspecto da sabedoria chinesa, se adapta a desafio do mundo contemporâneo. Globalizados, os países mantêm as fronteiras nacionais, mas são obrigados a olhar cada vez mais - e mais insistentemente - para as demais nações do globo.
É que o movimento de um obriga os outros a se moverem quer queiram, quer não. Mais: o resultado impõe comparações que denunciam o grau de sintonia ou dissintonia com a contemporaneidade. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) serve de exemplo. Criado em 1980 pela ONU, o indicador vai além dos frios dados da economia. Mede o desenvolvimento humano.
Baseia-se em três componentes: educação, renda e expectativa de vida. Em 2013, entre 187 países, o Brasil ocupa o 79º lugar. Obteve média 0,744, numa escala de 0 a 1, em que quanto mais próximo de 1 melhor é a classificação. Embora tenha melhorado uma posição no ranking, o país não fica bem na foto. Está atrás de vizinhos latino-americanos como, entre outros, Chile (41º), Cuba (44º), Argentina (49º) e Uruguai (50º).
O governo, como em anos anteriores, contesta o resultado. Alega terem sido usado dados desatualizados. Segundo a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, o país estaria em 67º lugar (sem considerar mudanças que ocorreriam em outros países). Vale a pergunta: a diferença entre um dado e outro significaria melhor qualidade de vida? A resposta não admite titubeios. É não. Seria fácil se a simples mudança de número tivesse o poder mágico de mudar a realidade.
Na educação, um dos indicadores levados em consideração pela ONU, o Brasil ficou com a 55ª posição do ranking de leitura do Pisa, teste internacional que avalia o desempenho de estudantes de 65 países. Tal qual no IDH, aparece abaixo de nações como Chile e Uruguai. Nada menos de 49,2% dos alunos brasileiros mostrou-se incapaz de alcançar o nível 2 de desempenho na avaliação, que tem o nível 6 como teto.
Em bom português: rapazes e moças não conseguem entender o que leem. Diante de um texto, falta-lhes aptidão para deduzir informações, estabelecer relações entre diferentes partes, compreender nuances da linguagem. Em matemática e ciências, o quadro mostra as mesmas cores cinzentas.
O Brasil precisa dar salto de qualidade. Não só na educação, mas também na saúde e na segurança, cujas estatísticas impactam direta e fortemente outro indicador do IDH - a expectativa de vida. Sem olhar para o próprio umbigo, com determinação e vontade de corrigir rumos, o país se manterá no vermelho. A dívida com a população continuará a conjugar o verbo crescer.
26 de julho de 2014
Editorial Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário