"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 27 de julho de 2014

O PIBINHO AFETA OS SALÁRIOS

Rendimento do trabalho ainda cresce mais que a economia, mas em ritmo cada vez menor

O BAIXO CRESCIMENTO da economia resulta em baixo crescimento dos salários, mais cedo ou mais tarde, de um modo ou outro.

No Brasil deste século, o reajuste por lei do salário mínimo ajudou bastante a aumentar o rendimento dos mais pobres no mercado. O que será dessa melhoria, com o crescimento em pane?

O reajuste básico do mínimo é vinculado ao crescimento da economia, do PIB, que tem crescido muito pouco.

Essa indexação do valor do salário mínimo à taxa de crescimento do PIB tem limitado a alta dos rendimentos mais baixos ou tem evitado a sua queda?

Qualquer que seja a resposta, os salários médios e iniciais vêm crescendo menos, qualquer que seja a medida, um ruído de fundo que deve estar afetando humores sociais e políticos de uns dois anos para cá.

Ontem, o Dieese publicou seu balanço dos pisos salariais negociados em 2013 (o Dieese é o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

O aumento real médio dos pisos salariais em 2013 foi de 2,8%, próximo do aumento real do mínimo no ano passado. Em 2012, a média dos pisos salariais acompanhados pelo Dieese cresceu 5,6%; o salário mínimo, 7,6%.

Para o instituto de pesquisa, "parece plausível supor" que o mínimo em alta leva consigo os pisos salariais de categorias profissionais.

O piso médio de 2013, na amostra do Dieese, foi de R$ 879, 30% maior que o salário mínimo do ano passado. O instituto levantou dados de acordos e convenções coletivas de salário em 685 "unidades de negociação" (sindicatos ou coisa assim) pelo país inteiro.

Os aumentos do mínimo favoreceriam em especial os salários menores. Em 2013, o reajuste médio dos salários foi de 1,25%. Como foi escrito mais acima, os pisos cresceram em média 2,8%. Ou seja, de algum modo houve redução da desigualdade de rendimentos.

"Desde pelo menos 2009, quando o Dieese passou a acompanhar os reajustes dos pisos salariais, estes têm se valorizado mais do que os demais salários", lê-se no balanço do instituto.

Na média, porém, os salários vêm crescendo menos.

O salário médio de admissão dos trabalhadores com carteira assinada cresce agora a menos de um terço do que crescia em 2012 (dados do registro do Ministério do Trabalho, o Caged, comparados os reajustes ao final do primeiro semestre de 2014 com o mesmo período de 2012).

O salário anual médio cresceu 1,5% em 2013 ante 4,3% em 2012, nas grandes metrópoles, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (compara-se aqui o salário real de um ano com o do ano anterior).

Observe-se, enfim, que o aumento muito relevante do salário mínimo neste século não impediu que houvesse uma baixa igualmente significativa do desemprego, ao contrário do que diria a teoria econômica mais simplezinha e aplicada sem levar em conta contextos históricos. Mas a pane do crescimento, associada a inflação e deficit externo relativamente altos, levanta claramente a dúvida sobre a possibilidade de reduzir a desigualdade sem que se aumente a produtividade (crescimento) e sem reformais econômicas e sociais.

 
26 de julho de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP

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