"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 28 de junho de 2014

REPÚDIO À ESTUPIDEZ

           


A coluna da semana passada, neste espaço, descreveu a continuada e perigosa violência que tem sido presente nos chamados protestos populares, que nos últimos tempos vêm sendo usados para que grupos traduzam seu inconformismo com o que lhes incomoda ou se lhes impõe.
 
Protesta-se contra a realização da Copa do Mundo, que já está no meio do caminho e vai indo de razoável pra bem; contra a falta de oferta, pelo poder público, de políticas de saúde e de educação gratuitas e de qualidade, que todos reconhecemos como demandas justas e historicamente mal abordadas pela União, pelos Estados e pelos municípios. Protesta-se ainda contra o caos dos transportes de massa, ou a falta deles, e a ação das polícias quando prendem ou endurecem o jogo contra delinquentes, mas também se protesta contra a impunidade dos criminosos, nunca alcançados pelas mãos da lei.
 
Para cada tipo de protesto há um formato em serviço. Contra a Copa, vaia-se a presidente da República, desrespeita-se a autoridade pública, e quebram-se monumentos e símbolos do evento. Contra a falta de saúde, invadem-se postos de atendimento e hospitais, agridem médicos, enfermeiros, auxiliares e danificam instalações. Escolas idem, e os agredidos, além dos prédios já em péssimas condições, muitas vezes são os professores. Esses já são agredidos e desrespeitados pelos próprios alunos, que há muito não estão interessados em educação. Se a bola da vez for o transporte, queimam-se ônibus, quebram-se abrigos e a sinalização de trânsito.
 
REAGINDO A TIROS…
 
Na semana passada, grupos de uma comunidade carioca atiraram em PMs porque esses insistiam em repreender o tráfico de drogas e prender marginais e armas. A comunidade reagiu a tiros.
 
Várias manifestações se dirigiram à coluna e a esse colunista, na sua maioria de apoio, mas várias outras de repúdio ao texto e revolta para justificar atitudes classificáveis como apropriadas, e não atos de selvageria, de delinquência, de estupidez. As que recomendavam a barbárie apoiavam tal preferência como a única forma disponível de que o povo pode lançar mão e, assim, exigir o atendimento a suas necessidades.
 
É óbvio e cristalino que, num país como o Brasil, a acomodação não vai nos levar a lugar nenhum. A lugar nenhum mesmo. Mas acharmos que depredando bens, públicos e privados, incendiando ônibus, invadindo prédios e instalações, saqueando lojas, destruindo concessionárias de veículos e agências bancárias vamos construir direitos, garantir o atendimento democrático e efetivo do Estado aos que dele dependem, ampliando a oferta de soluções públicas é, no mínimo, a generalização da estupidez, que precisa ser evitada com todo rigor.

(transcrito de O Tempo)

28 de junho de 2014
Luis Tito

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