O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi, não esconde suas preocupações tanto com o que entende seja força excessiva do euro quanto com o perigo de deflação.
A valorização do euro diante do dólar (veja gráfico) reduz a capacidade de exportação do bloco porque encarece em moeda estrangeira o produto europeu. Exportações contidas, por sua vez, contribuem para o emperramento da economia.
O risco de deflação é parte da deterioração geral. Uma vez deflagrado o forte recuo de preços, também ficaria reforçada a recessão. As vendas recuariam porque o consumidor esperaria para comprar mais barato depois; os investimentos escasseariam; e a arrecadação dos Estados cairia, pressionando ainda mais o já deteriorado quadro fiscal.
Há semanas, Draghi já admite que o BCE estuda "medidas não convencionais de política monetária" para atacar esses problemas. São, em princípio, injeções maciças de moeda na economia, seja por meio da compra de títulos no mercado secundário, seja por outros meios. Há cinco anos, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) colocou em marcha o chamado afrouxamento monetário quantitativo (quantitative easing), que é uma dessas políticas não convencionais.
O problema consiste em saber como o BCE executaria essa operação que, para produzir algum efeito, se imagina deva alcançar ao menos 1 trilhão de euros.
Para seguir os passos do Fed, o BCE teria de recomprar títulos públicos e títulos privados. Pelos tratados do euro, o BCE não pode dar cobertura a dívidas de tesouros da área. Mesmo se comprasse apenas dívida pré-existente, estaria contribuindo para criar mercado para os títulos de países da área. Em outras palavras, para que o impedimento jurídico fosse removido, aparentemente teria de haver uma revisão nos tratados ou, se não isso, uma adesão à operação por parte dos governos mais ortodoxos (Alemanha, Holanda e Áustria), o que parece difícil. Mesmo se os obstáculos fossem superados, seria preciso definir os critérios dessas compras para que não acabassem por beneficiar os países que menos precisam delas, como a própria Alemanha.
O problema não seria menor se a decisão recaísse sobre a recompra de títulos privados. Afinal, que títulos privados: de bancos, de empresas, financiamentos hipotecários? Haveria disponibilidade de 1 trilhão de euros nesse segmento?
É verdade que, em tese, o BCE poderia recomprar títulos públicos de países de fora da área do euro, como dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Japão. Seria uma operação que contribuiria para a desvalorização do euro porque os vendedores teriam de despejar euros no mercado internacional. Mas o BCE faria isso tudo para dar cobertura a dívidas de países de fora da área do euro?
Sobram poucas opções extras, como a de cobrar juros dos bancos que depositassem recursos no BCE, o que os forçaria a atuar mais no crédito. Nesse caso, seria preciso cuidar para que não assumissem mais riscos. Mas, afinal, seriam essas medidas suficientes para desvalorizar o euro e evitar a tão temida deflação?
A valorização do euro diante do dólar (veja gráfico) reduz a capacidade de exportação do bloco porque encarece em moeda estrangeira o produto europeu. Exportações contidas, por sua vez, contribuem para o emperramento da economia.
O risco de deflação é parte da deterioração geral. Uma vez deflagrado o forte recuo de preços, também ficaria reforçada a recessão. As vendas recuariam porque o consumidor esperaria para comprar mais barato depois; os investimentos escasseariam; e a arrecadação dos Estados cairia, pressionando ainda mais o já deteriorado quadro fiscal.
Há semanas, Draghi já admite que o BCE estuda "medidas não convencionais de política monetária" para atacar esses problemas. São, em princípio, injeções maciças de moeda na economia, seja por meio da compra de títulos no mercado secundário, seja por outros meios. Há cinco anos, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) colocou em marcha o chamado afrouxamento monetário quantitativo (quantitative easing), que é uma dessas políticas não convencionais.
O problema consiste em saber como o BCE executaria essa operação que, para produzir algum efeito, se imagina deva alcançar ao menos 1 trilhão de euros.
Para seguir os passos do Fed, o BCE teria de recomprar títulos públicos e títulos privados. Pelos tratados do euro, o BCE não pode dar cobertura a dívidas de tesouros da área. Mesmo se comprasse apenas dívida pré-existente, estaria contribuindo para criar mercado para os títulos de países da área. Em outras palavras, para que o impedimento jurídico fosse removido, aparentemente teria de haver uma revisão nos tratados ou, se não isso, uma adesão à operação por parte dos governos mais ortodoxos (Alemanha, Holanda e Áustria), o que parece difícil. Mesmo se os obstáculos fossem superados, seria preciso definir os critérios dessas compras para que não acabassem por beneficiar os países que menos precisam delas, como a própria Alemanha.
O problema não seria menor se a decisão recaísse sobre a recompra de títulos privados. Afinal, que títulos privados: de bancos, de empresas, financiamentos hipotecários? Haveria disponibilidade de 1 trilhão de euros nesse segmento?
É verdade que, em tese, o BCE poderia recomprar títulos públicos de países de fora da área do euro, como dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Japão. Seria uma operação que contribuiria para a desvalorização do euro porque os vendedores teriam de despejar euros no mercado internacional. Mas o BCE faria isso tudo para dar cobertura a dívidas de países de fora da área do euro?
Sobram poucas opções extras, como a de cobrar juros dos bancos que depositassem recursos no BCE, o que os forçaria a atuar mais no crédito. Nesse caso, seria preciso cuidar para que não assumissem mais riscos. Mas, afinal, seriam essas medidas suficientes para desvalorizar o euro e evitar a tão temida deflação?
23 de abril de 2014
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
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