"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 20 de abril de 2014

CHUTES NO TRASEIRO

 

Na quarta-feira, exatos 1.550 dias depois de derrotar Chicago, Tóquio e Madri, o Rio de Janeiro anunciou mais mundos e fundos para a Olimpíada 2016, elevando o custo total do evento a R$ 36,7 bilhões. Quase R$ 8 bilhões a mais do que fora orçado em 2008 e, seguramente, cifra inferior à conta que virá daqui a 840 dias, quando os Jogos começarem. Assim como nas obras da Copa do Mundo, ainda inconclusas a 72 dias do pontapé inicial, promete-se que pelo menos 43% do orçamento olímpico será pago pela iniciativa privada.

Difícil crer.

Em 2007, quando Lula brigou pela Copa da Fifa, a lengalenga era a mesma. As garantias do capital privado vinham de todos os lados. O ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, assegurava que o Brasil não gastaria “um único centavo” para fazer a Copa.

“Faço questão absoluta de garantir que será uma Copa em que o poder público nada gastará”, corroborou Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, ainda durante as comemorações da escolha do País como sede.

Hoje, o gasto direto de dinheiro público somado à pendura no BNDES beira o total da conta Copa, que ninguém sabe ao certo quanto somará. Fala-se de números que variam entre R$ 25 bilhões e R$ 35 bilhões, uma margem de erro considerável, inadmissível em qualquer país minimamente sério.


Foto: Michael Buhozer

Acrescente-se aí a desfaçatez do atual ministro, Aldo Rebelo, ao afirmar que nas obras da Copa “não há recursos públicos, apenas empréstimos via BNDES”. Atenta contra a inteligência e desrespeita os brasileiros, que, ao fim e ao cabo, vão pagar a conta.

Além dos R$ 70 bilhões já previstos em orçamentos que crescem mais do que ervas daninhas a cada nova versão, os dois megaeventos esportivos encurtaram as calças do Brasil antes de seu início. Mesmo tendo pedido desculpas formais à presidente Dilma Rousseff pelo vocabulário chulo, não dá para esquecer a frase “o Brasil precisa de um chute no traseiro”, dita há dois anos pelo secretário geral da Fifa, Jérôme Valcke.

Agora foi a vez do Comitê Olímpico Internacional (COI). Em ato inédito na história dos Jogos Olímpicos, o COI se viu obrigado a intervir em uma cidade sede. Seu presidente, Thomas Bach, anunciou que vai contratar um administrador de projetos para coordenar e acompanhar as obras de perto. Em resumo, chutou o traseiro, sem aviso prévio.

Quando penhorou o que não tinha nem ia ter para conseguir trazer a Copa e a Olimpíada para o Brasil, Lula vislumbrou a consagração. Dele e do projeto de poder do PT. Apostou no binômio megalomania e ufanismo, quase imbatível nos governos populistas e em regimes totalitários. Nas democracias, podem se virar contra o jogador e acabar em um chute no traseiro.

20 de abril de 2014
Mary Zaidan é jornalista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário