"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

SUPREMO SOB PRESSÃO: MENSALÃO DESGASTA IMAGEM DA CORTE

 

Justiça
Contrariando as expectativas da maioria da população, o ministro Celso de Mello votou a favor da aceitação dos embargos infringentes no processo do mensalão, nesta quarta-feira, 18 de setembro.
Na prática, o voto do magistrado do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu o direito ao julgamento dos recursos de 12 dos 25 condenados pela ação 470.

João Antônio Wiegerinck, professor de direito e de filosofia jurídica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo (SP), e especialista do Instituto Millenium, afirma que o ministro optou por decisão técnica.

“O voto está de acordo com a magistratura, as normas e a jurisprudência”, analisa, embora reconheça que a decisão não vai ao encontro do que a população esperava.

Marcus Vinicius Motta, blogueiro e especialista do Instituto Millenium, acredita que houve excesso no voto do ministro Celso de Mello. “Ele preferiu ser mais formal, sob a desculpa de não ceder ao clamor da população”, explica.

Insatisfação popular com a Justiça

Embora reconheça a legitimidade do voto do ministro, Wiegerinck também entende a insatisfação popular decorrente dessa decisão. “O Supremo e Judiciário vêm acumulando um histórico de impunidades incontáveis. O povo não aguenta mais essa situação”, observa.

Para o cientista político, o voto de Celso de Mello prejudicou a percepção de justiça dos brasileiros. “A sensação da sociedade é que acabaram as esperanças. O STF era a última instituição que tínhamos para salvar o país do ‘chavismo do PT’. A impressão que temos é que está tudo dominado”, opina.

Motta afirma que o aparelhamento das instituições públicas pelo governo federal estende-se ao Supremo. “O Ricardo Lewandowski foi indicado pela esposa do ex-presidente Lula, o Dias Toffoli foi advogado do José Dirceu, o Luís Roberto Barroso faz ativismo judicial e o Teori Albino Zavascki liderou essa virada de mesa do julgamento”, pontua.

Wiegerinck concorda. Para ele, o andamento do julgamento do mensalão, e a superexposição dos magistrados, deixou evidente que o sistema de indicação de ministros pelo Executivo está falido. “Esses ministros estão em evidência. A população está atenta ao julgamento do caso. Pode-se dizer até que eles estão na berlinda”, emenda.

Desdobramentos do caso mensalão

O professor de direito e filosofia acrescenta que a análise dos embargos não significa, necessariamente, que os ministros votarão a favor dos recursos apresentados pelos réus. Além disso, o especialista destaca que o caso não será reaberto do zero. “Os réus continuam condenados. O que será reaberto é a possibilidade de algum dos ministros voltar atrás, e, para fazer isso, deverão ter muitos argumentos”, completa.

Wiegerinck afirma ainda que qualquer decisão que inocente os condenados é inaceitável. “As provas de que houve formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, por exemplo, são evidentes. No processo, há a comprovação de depósitos e enriquecimento ilícito”, lembra.

Para Wiegerinck, uma vitória de qualquer um dos condenados colocará o Supremo em uma posição única. Segundo ele, se houver um revés no caso, e os réus forem absolvidos, a Justiça passará por uma crise sem precedentes. “O quadro que pode se configurar é de desistência da população em buscar justiça, pois, uma vez que a Corte Suprema perde a moral, contamina, inclusive, a primeira instância”, alerta.

19 de setembro de 2013
IMIL

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