O beijo, esta manifestação de afeto ou sensualidade, está mudando de significado. Se antes foi gesto que identificava amigos ou amantes, hoje virou arma de ativistas, e das mais contundentes.
Duas jovens foram parar na delegacia após se beijarem em um culto comandado pelo deputado federal e pastor Marcos Feliciano (PSC-SP). O caso ocorreu anteontem, durante evento evangélico que reuniu cerca de 2.000 pessoas em São Sebastião, litoral norte paulista.
Na manchete, a Folha de São Paulo publica:
Beijo em culto de Feliciano leva mulheres à delegacia
Na linha fina, já não temos mais beijo, mas protesto:
Pastor ordena prisão de duas jovens que protestavam em ato evangélico
Os gays estão operando milagres. Estão conseguindo gerar apoio a um vigarista e explorador da fé dos simples. Duas meninas se beijarem durante um ato religioso não é gesto de carinho. É provocação barata, agressão às crenças alheias. No fundo, desejo de mídia. O pastor Feliciano é a bola da vez. Elas sabiam muito bem que, após o gesto, teriam a primeira página dos jornais.
Por que não beijar-se durante uma missa? A Igreja católica participa da mesma crença do pastor, e obviamente nenhum padre toleraria tal acinte. Acontece que o pastor é primeira página na certa.
Quem me acompanha sabe que sou ateu e mantenho uma distância crítica de todas as religiões. Apesar de ser ateu, defendo a existência de todas elas. Se o ser humano gosta de ser enganado, amém! Mas os tais de pastores evangélicos há muito deviam estar na cadeia. Não administram religiões, mas caça-níqueis. Isso sem falar no exercício ilegal da medicina. Em cada emissão televisiva, os milagres superam de longe o número de milagres que Cristo realizou em toda sua vida. Ocorrem em cadeia industrial, ao ritmo de dois ou três por minuto. O pastor até parece entediar-se com a freqüência dos mesmos e descarta rapidamente o miraculado que tem nos braços para abraçar o seguinte.
Durante algum tempo, dediquei alguns minutos na madrugada para assistir às pregações dos pastores. (Ultimamente, cansei). Não que pretendesse ouvir suas baboseiras. O que me fascinava era ver aqueles templos imensos lotados, com quatro mil, cinco mil ou mais pessoas, sem que se veja uma só cadeira vazia, todos fanatizados por um discurso estúpido e obviamente desonesto. Gosto de ver quando a câmera foca rostos. Pessoas de boa aparência, com traços até mesmo inteligentes, hipnotizadas pela lábia precária do pastor.
É meu modo de entender melhor o mundo. Vivo em um pequeno universo rarefeito, de poucos amigos, todos cultos e inteligentes. Corro o risco de achar que o mundo é mais ou menos assim. A televisão então me mostra, sem que eu precise sair de casa, a verdadeira face dessa pobre humanidade. Os pastores, sem nenhum pudor, ensinam como preencher cheques e boletos bancários.
No entanto, ainda há pouco, a bicharada me obrigou a tomar defesa do pastor Feliciano.
Foi em março passado, quando li no Estadão que, na tentativa de retirar o deputado e pastor evangélico Marco Feliciano do comando da comissão de Direitos Humanos, uma vez que ele se recusa a renunciar, o PPS decidiu entrar com processo por quebra de decoro parlamentar contra o pastor no Conselho de Ética do Congresso. O colegiado tinha a possibilidade de decidir por um afastamento de Feliciano da função. "Precisamos acabar de vez com a situação vexatória vivida na a Câmara desde a eleição do pastor para presidir o colegiado", afirmou o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).
Para o PPS, além das acusações de racismo e homofobia, o pastor precisa explicar denúncias de uso irregular de verbas de sua cota na Câmara. Jordy alega que Feliciano paga com dinheiro público escritórios de advocacia que lhe defendem em processos de interesse pessoal. O pastor nega irregularidade. O deputado do PPS defendeu ainda como outra alternativa uma renúncia coletiva dos integrantes da comissão de Direitos Humanos, mas a idéia teve de ser descartada pelos líderes porque a maioria do colegiado é composta por apoiadores do pastor.
Medíocres tempos estes nossos, em que me vejo obrigado a defender um pastor evangélico. Que o deputado seja afastado por uso irregular de verbas, é normal. Se bem que assim sendo, o Congresso ficaria reduzido à metade, ou muito menos. Que seja afastado por opinião, é voltar aos tempos da ditadura. É o que quer um punhado de gatos pingados, que constituem certamente a minoria mais barulhenta do país.
O deputado Feliciano foi instado a renunciar, por suas opiniões sobre homossexualismo. Bateu pé e disse que não renunciava. No dia em que um deputado legitimamente eleito para uma comissão tiver de renunciar em função da gritaria de baderneiros, acabou a democracia no país.
Os gays estão operando milagres, dizia. Além de obrigar quem tem bom senso a apoiar o pastor, vão acabar por reelegê-lo.
19 de setembro de 2013
janer cristaldo
Duas jovens foram parar na delegacia após se beijarem em um culto comandado pelo deputado federal e pastor Marcos Feliciano (PSC-SP). O caso ocorreu anteontem, durante evento evangélico que reuniu cerca de 2.000 pessoas em São Sebastião, litoral norte paulista.
Na manchete, a Folha de São Paulo publica:
Beijo em culto de Feliciano leva mulheres à delegacia
Na linha fina, já não temos mais beijo, mas protesto:
Pastor ordena prisão de duas jovens que protestavam em ato evangélico
Os gays estão operando milagres. Estão conseguindo gerar apoio a um vigarista e explorador da fé dos simples. Duas meninas se beijarem durante um ato religioso não é gesto de carinho. É provocação barata, agressão às crenças alheias. No fundo, desejo de mídia. O pastor Feliciano é a bola da vez. Elas sabiam muito bem que, após o gesto, teriam a primeira página dos jornais.
Por que não beijar-se durante uma missa? A Igreja católica participa da mesma crença do pastor, e obviamente nenhum padre toleraria tal acinte. Acontece que o pastor é primeira página na certa.
Quem me acompanha sabe que sou ateu e mantenho uma distância crítica de todas as religiões. Apesar de ser ateu, defendo a existência de todas elas. Se o ser humano gosta de ser enganado, amém! Mas os tais de pastores evangélicos há muito deviam estar na cadeia. Não administram religiões, mas caça-níqueis. Isso sem falar no exercício ilegal da medicina. Em cada emissão televisiva, os milagres superam de longe o número de milagres que Cristo realizou em toda sua vida. Ocorrem em cadeia industrial, ao ritmo de dois ou três por minuto. O pastor até parece entediar-se com a freqüência dos mesmos e descarta rapidamente o miraculado que tem nos braços para abraçar o seguinte.
Durante algum tempo, dediquei alguns minutos na madrugada para assistir às pregações dos pastores. (Ultimamente, cansei). Não que pretendesse ouvir suas baboseiras. O que me fascinava era ver aqueles templos imensos lotados, com quatro mil, cinco mil ou mais pessoas, sem que se veja uma só cadeira vazia, todos fanatizados por um discurso estúpido e obviamente desonesto. Gosto de ver quando a câmera foca rostos. Pessoas de boa aparência, com traços até mesmo inteligentes, hipnotizadas pela lábia precária do pastor.
É meu modo de entender melhor o mundo. Vivo em um pequeno universo rarefeito, de poucos amigos, todos cultos e inteligentes. Corro o risco de achar que o mundo é mais ou menos assim. A televisão então me mostra, sem que eu precise sair de casa, a verdadeira face dessa pobre humanidade. Os pastores, sem nenhum pudor, ensinam como preencher cheques e boletos bancários.
No entanto, ainda há pouco, a bicharada me obrigou a tomar defesa do pastor Feliciano.
Foi em março passado, quando li no Estadão que, na tentativa de retirar o deputado e pastor evangélico Marco Feliciano do comando da comissão de Direitos Humanos, uma vez que ele se recusa a renunciar, o PPS decidiu entrar com processo por quebra de decoro parlamentar contra o pastor no Conselho de Ética do Congresso. O colegiado tinha a possibilidade de decidir por um afastamento de Feliciano da função. "Precisamos acabar de vez com a situação vexatória vivida na a Câmara desde a eleição do pastor para presidir o colegiado", afirmou o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).
Para o PPS, além das acusações de racismo e homofobia, o pastor precisa explicar denúncias de uso irregular de verbas de sua cota na Câmara. Jordy alega que Feliciano paga com dinheiro público escritórios de advocacia que lhe defendem em processos de interesse pessoal. O pastor nega irregularidade. O deputado do PPS defendeu ainda como outra alternativa uma renúncia coletiva dos integrantes da comissão de Direitos Humanos, mas a idéia teve de ser descartada pelos líderes porque a maioria do colegiado é composta por apoiadores do pastor.
Medíocres tempos estes nossos, em que me vejo obrigado a defender um pastor evangélico. Que o deputado seja afastado por uso irregular de verbas, é normal. Se bem que assim sendo, o Congresso ficaria reduzido à metade, ou muito menos. Que seja afastado por opinião, é voltar aos tempos da ditadura. É o que quer um punhado de gatos pingados, que constituem certamente a minoria mais barulhenta do país.
O deputado Feliciano foi instado a renunciar, por suas opiniões sobre homossexualismo. Bateu pé e disse que não renunciava. No dia em que um deputado legitimamente eleito para uma comissão tiver de renunciar em função da gritaria de baderneiros, acabou a democracia no país.
Os gays estão operando milagres, dizia. Além de obrigar quem tem bom senso a apoiar o pastor, vão acabar por reelegê-lo.
19 de setembro de 2013
janer cristaldo
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