Capitais e DF têm 370 mil usuários de crack; maior número de consumidores está no Nordeste
Pesquisa da Fiocruz revela ainda que, do total de usuários, 50 mil eram crianças e adolescentes. No Sudeste, o consumo em locais públicos é muito mais visível, avalia estudo
A estimativa vale para as 26 capitais e o Distrito Federal, onde a população total era de 45 milhões de habitantes. Dos 370 mil usuários de crack e/ou outras formas de cocaína fumada, como pasta base, merla e oxi, 320 mil eram adultos e 50 mil, adolescentes e crianças.
As capitais da região Nordeste concentravam a maior proporção e o maior número absoluto de usuários de crack e drogas similares: 148 mil pessoas ou mais de 1,2% do total de habitantes. O mesmo ocorria em relação a adolescentes e crianças. As capitais nordestinas respondiam por 28 mil consumidores na faixa de menos de 18 anos. Ou seja, mais da metade do total de usuários adolescentes e crianças nessa faixa etária, nas 26 capitais e no DF.
No Sudeste, onde a disseminação de cracolândias chocou o país nos últimos anos, as capitais tinham o segundo maior número absoluto de usuários - 113 mil -, mas a menor taxa dentre o total da população (pouco mais de 0,5%). Treze mil eram menores de 18 anos no Sudeste.
“Ao contrário da percepção do senso comum, as estimativas de proporção de usuários de crack e/ou similares não são mais elevadas na região Sudeste, onde, entretanto, o consumo em locais públicos é bastante mais visível devido à magnitude das suas metrópoles e o tamanho expressivo das grandes cenas de uso conhecidas como ‘cracolândias’ ”, diz a pesquisa.
Em termos percentuais, as capitais do Sul eram as que mais se aproximavam das capitais nordestinas, com taxa acima de 1% e 37 mil usuários. As do Norte, com mais de 0,6%, tinham taxa ligeiramente acima das do Sudeste. Nas capitais do Centro-Oeste, a taxa era superior a 0,9%.
Segundo a pesquisa, o consumo de drogas ilícitas (à exceção da maconha) atinge 2,28% da população nas 26 capitais e no DF ou 1.035.000 pessoas. Logo, os usuários de crack e similares correspondiam a 35% dos usuários de drogas ilícitas no conjunto dessas cidades e no DF.
Esse percentual varia conforme a região. Nas capitais do Sul, os consumidores de crack e similares correspondiam a mais da metade (52%) dos usuários de drogas ilícitas, à exceção da maconha. Nas capitais do Centro-Oeste, esse percentual era de 47%; no Nordeste, 43%; no Sudeste, 32%; e no Norte, 20%.
A pesquisa foi idealizada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os dados dizem respeito a usuários regulares: gente que consumiu a droga ao longo de pelo menos 25 dias, nos seis meses anteriores ao levantamento.
— Pela primeira vez, a Senad considera que tem um dado muito confiável em relação ao número de usuários nas capitais e ao perfil nacional desses usuários — diz a diretora de Projetos Estratégicos da secretaria, Cejana Passos.
— É a maior pesquisa sobre crack no Brasil e no mundo — afirma o secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore Maximiano.
Em todas as regiões, segundo o levantamento, cerca de 80% do consumo de crack e similares ocorria em locais públicos.
Além da estimativa numérica nas capitais, uma outra parte da pesquisa ouviu 7 mil usuários para traçar o perfil nacional de quem consome crack e drogas similares. Ao todo, portanto, foram respondidos 32 mil questionários.
O levantamento estatístico utilizou uma técnica concebida para estimar populações “invisíveis” ou de difícil acesso, como é o caso de usuários de crack.
No método convencional, os pesquisadores definem o tamanho da amostra e vão a campo ouvir a população. No caso da referida pesquisa, indagariam se o entrevistado é consumidor regular de crack ou similares.
Mas, na técnica adotada, a chamada Network Scale-up Method (NSUM), a pergunta é diferente: os pesquisadores querem saber quantos consumidores regulares de crack e similares o entrevistado conhece.
O segredo para garantir a confiabilidade das respostas, evitando que o entrevistado dê respostas irreais, está num sistema de calibragem que se ampara em cadastros oficiais. Assim, além de perguntar quantos usuários de crack o entrevistado conhece, o pesquisador indaga quantos alunos e professores de ensino médio e ensino fundamental ou quantos beneficiários do Bolsa Família o entrevistado conhece, entre outras categorias. Ao todo, o pesquisador dispõe de 20 bancos de dados oficiais com informações que serão comparadas às respostas do entrevistado.
Segundo um dos coordenadores do levantamento, o médico e pesquisador da Fiocruz Francisco Inácio Bastos, essa técnica permite identificar usuários de crack que normalmente não seriam localizados, evitando que o número real de consumidores da droga seja subestimado.
Com base nas 24,9 mil entrevistas, a Fiocruz fez uma simulação pelo método tradicional de pesquisa, considerando somente a amostra de entrevistados que admitiu fazer uso regular de crack e similares. Nesse caso, o total de usuários nas capitais e no DF seria de 48 mil e não 370 mil. Ou seja, cerca de 322 mil usuários permaneceriam invisíveis, segundo Francisco Bastos.
19 de setembro de 2013
Demétrio Weber - O Globo
Pesquisa da Fiocruz revela ainda que, do total de usuários, 50 mil eram crianças e adolescentes. No Sudeste, o consumo em locais públicos é muito mais visível, avalia estudo
O número de usuários de crack e drogas similares nas 26 capitais estaduais e no Distrito Federal era de 370 mil pessoas no ano passado, o equivalente a 0,81% da população. A estimativa foi divulgada nesta quinta-feira pelos Ministérios da Justiça e da Saúde, no maior levantamento do gênero já realizado no país. De março a dezembro de 2012, 24,9 mil pessoas foram entrevistadas.
A estimativa vale para as 26 capitais e o Distrito Federal, onde a população total era de 45 milhões de habitantes. Dos 370 mil usuários de crack e/ou outras formas de cocaína fumada, como pasta base, merla e oxi, 320 mil eram adultos e 50 mil, adolescentes e crianças.
As capitais da região Nordeste concentravam a maior proporção e o maior número absoluto de usuários de crack e drogas similares: 148 mil pessoas ou mais de 1,2% do total de habitantes. O mesmo ocorria em relação a adolescentes e crianças. As capitais nordestinas respondiam por 28 mil consumidores na faixa de menos de 18 anos. Ou seja, mais da metade do total de usuários adolescentes e crianças nessa faixa etária, nas 26 capitais e no DF.
No Sudeste, onde a disseminação de cracolândias chocou o país nos últimos anos, as capitais tinham o segundo maior número absoluto de usuários - 113 mil -, mas a menor taxa dentre o total da população (pouco mais de 0,5%). Treze mil eram menores de 18 anos no Sudeste.
“Ao contrário da percepção do senso comum, as estimativas de proporção de usuários de crack e/ou similares não são mais elevadas na região Sudeste, onde, entretanto, o consumo em locais públicos é bastante mais visível devido à magnitude das suas metrópoles e o tamanho expressivo das grandes cenas de uso conhecidas como ‘cracolândias’ ”, diz a pesquisa.
Em termos percentuais, as capitais do Sul eram as que mais se aproximavam das capitais nordestinas, com taxa acima de 1% e 37 mil usuários. As do Norte, com mais de 0,6%, tinham taxa ligeiramente acima das do Sudeste. Nas capitais do Centro-Oeste, a taxa era superior a 0,9%.
Segundo a pesquisa, o consumo de drogas ilícitas (à exceção da maconha) atinge 2,28% da população nas 26 capitais e no DF ou 1.035.000 pessoas. Logo, os usuários de crack e similares correspondiam a 35% dos usuários de drogas ilícitas no conjunto dessas cidades e no DF.
Esse percentual varia conforme a região. Nas capitais do Sul, os consumidores de crack e similares correspondiam a mais da metade (52%) dos usuários de drogas ilícitas, à exceção da maconha. Nas capitais do Centro-Oeste, esse percentual era de 47%; no Nordeste, 43%; no Sudeste, 32%; e no Norte, 20%.
A pesquisa foi idealizada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os dados dizem respeito a usuários regulares: gente que consumiu a droga ao longo de pelo menos 25 dias, nos seis meses anteriores ao levantamento.
— Pela primeira vez, a Senad considera que tem um dado muito confiável em relação ao número de usuários nas capitais e ao perfil nacional desses usuários — diz a diretora de Projetos Estratégicos da secretaria, Cejana Passos.
— É a maior pesquisa sobre crack no Brasil e no mundo — afirma o secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore Maximiano.
Em todas as regiões, segundo o levantamento, cerca de 80% do consumo de crack e similares ocorria em locais públicos.
Além da estimativa numérica nas capitais, uma outra parte da pesquisa ouviu 7 mil usuários para traçar o perfil nacional de quem consome crack e drogas similares. Ao todo, portanto, foram respondidos 32 mil questionários.
O levantamento estatístico utilizou uma técnica concebida para estimar populações “invisíveis” ou de difícil acesso, como é o caso de usuários de crack.
No método convencional, os pesquisadores definem o tamanho da amostra e vão a campo ouvir a população. No caso da referida pesquisa, indagariam se o entrevistado é consumidor regular de crack ou similares.
Mas, na técnica adotada, a chamada Network Scale-up Method (NSUM), a pergunta é diferente: os pesquisadores querem saber quantos consumidores regulares de crack e similares o entrevistado conhece.
O segredo para garantir a confiabilidade das respostas, evitando que o entrevistado dê respostas irreais, está num sistema de calibragem que se ampara em cadastros oficiais. Assim, além de perguntar quantos usuários de crack o entrevistado conhece, o pesquisador indaga quantos alunos e professores de ensino médio e ensino fundamental ou quantos beneficiários do Bolsa Família o entrevistado conhece, entre outras categorias. Ao todo, o pesquisador dispõe de 20 bancos de dados oficiais com informações que serão comparadas às respostas do entrevistado.
Segundo um dos coordenadores do levantamento, o médico e pesquisador da Fiocruz Francisco Inácio Bastos, essa técnica permite identificar usuários de crack que normalmente não seriam localizados, evitando que o número real de consumidores da droga seja subestimado.
Com base nas 24,9 mil entrevistas, a Fiocruz fez uma simulação pelo método tradicional de pesquisa, considerando somente a amostra de entrevistados que admitiu fazer uso regular de crack e similares. Nesse caso, o total de usuários nas capitais e no DF seria de 48 mil e não 370 mil. Ou seja, cerca de 322 mil usuários permaneceriam invisíveis, segundo Francisco Bastos.
19 de setembro de 2013
Demétrio Weber - O Globo
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