Incentivado por diversas pessoas que leram a mensagem que se encontra reproduzida ao final, resolvi escrever este artigo.
Referida mensagem foi por mim encaminhada na primeira semana de setembro do corrente ano aos alunos de um curso de matemática básica promovido pela Secretaria de Trabalho do município de Porciúncula (RJ).
Devo confessar que, a princípio, relutei em escrever o artigo. Temia ser mal compreendido. Poderiam pensar que eu estava ostentando um pretenso mérito.
Porém, mudei de ideia, impelido pela relevância do tema: o ensino de matemática a pessoas que têm na matéria o maior entrave para sua volta aos estudos.
A experiência que vivenciei no caso se encontra relatada a seguir.
No último mês de agosto, comecei a dar um curso de matemática básica para um grupo de trinta pessoas, a maioria delas já fora da escola. Como normalmente acontece nesses casos, o grupo era completamente heterogêneo, reunindo pessoas com o mais variado grau de conhecimento da matéria.
Programado para durar trinta horas (dividido em dez encontros de três horas cada), o curso deveria abranger os seguintes tópicos: Frações Ordinárias, Razões, Proporções, Regra de Três Simples, Regra de Três Composta, Números Relativos, Uso do Parêntesis, Potências, Raízes, Equação do Primeiro Grau, Sistema de Equações e Equação de Segundo Grau.
Como se sabe, devido à existência de uma inquebrantável interligação entre as diversas partes da matemática, é indispensável que cada assunto seja estudado a partir de seus conceitos mais elementares.
E – em decorrência do fato que todos os ensinamentos seriam transmitidos a partir do “zero” – foram apenas duas as exigências para participar do curso: o domínio das quatro operações (soma, subtração, multiplicação e divisão) e a familiaridade com a leitura e interpretação de pequenos textos (para se saber o que um problema deu e o que o problema pediu).
Considerando que um aluno despreparado é naturalmente impaciente, era imperativo que a turma fosse motivada de imediato. Para tanto, era necessário demonstrar que qualquer um dos participantes seria capaz de dominar a famigerada Matemática.
Em outras palavras, era de todo conveniente demonstrar ao aluno, nos primeiros minutos do jogo, que ele é capaz de raciocinar e entender tudo aquilo que, um dia – erradamente – lhe colocaram na cabeça que só era possível ser compreendido pelas pessoas mais inteligentes. Afinal, a motivação traz o sucesso, que, por sua vez, provoca mais motivação, formando-se um autêntico círculo virtuoso.
Levando em conta as peculiaridades da tarefa a ser empreendida, necessário se tornou elaborar todo o material didático a ser utilizado no curso. A principal inovação foi a troca da tradicional ordem de apresentação da matéria.
Além disso, uma providência foi fundamental para o sucesso dos trabalhos: a distribuição, no início da primeira aula, da relação dos problemas que seriam resolvidos no decorrer do curso.
A propósito – devido ao fato de os problemas estarem enumerados na ordem de sua resolução – citada relação, do problema 1 ao problema 133, mostra, de maneira indireta, a ordem de apresentação da matéria.
Para uma melhor apreciação do assunto, terei o maior prazer de encaminhar cópia da relação de problemas a qualquer interessado, bastando, para tanto, que seja feita uma solicitação por meio do e-mail apresentado ao final.
Finalizando, apresento, a seguir, a íntegra da mensagem que originou o artigo:
Caros Alunos,
Está acabando de completar um mês que, juntos, iniciamos nossa jornada. Deveremos caminhar juntos ainda três semanas.
O nosso desafio é enorme. Estamos tentando derrubar um tabu que muito tem prejudicado o ensino no Brasil. Estamos, eu e vocês, tentando demonstrar que é possível, em pouco tempo, transmitir substanciais conhecimentos de matemática a pessoas que apresentam sérias deficiências na matéria.
E, o que torna ainda mais espinhosa nossa missão: em companhia dos colegas que apresentam sérias deficiências, temos um bem preparado adolescente de 14 anos, um eficiente concurseiro de vinte e poucos anos e algumas jovens senhoras com bom conhecimento do assunto. Resumidamente, o nosso grupo de trinta alunos é o mais real possível, já que é completamente desnivelado.
Porém, não é que, juntos, estamos conseguindo domar a megera?
O fato é que, depois de cinco aulas de três horas cada (com um intervalo de, no máximo, quinze minutos), temos conseguido manter a motivação da turma, com um nível de presença de quase cem por cento. Espero que continuemos assim, pois o sonho de consumo de qualquer professor é uma turma interessada.
Caso alcancemos sucesso, meus caros, ninguém poderá negar: teremos prestado um grande serviço à educação do país. Teremos comprovado que é absolutamente possível resgatar a imensa dívida que o país tem com o exército de pessoas despreparadas, afugentadas dos bancos escolares por causa da matemática.
E, pelo que já passamos juntos, eu tenho toda confiança: seremos bem sucedidos.
Um forte abraço,
16 de setembro de 2013
João Vinhosa é Engenheiro e Professor de Matemática
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