Com ajuda do governo, PROS espera filiar dois governadores, dois senadores e 20 deputados
- Direção do partido desembarca em Fortaleza neste sábado para filiar Cid Gomes, mas assessoria do governador não confirma
- Em Minas, o ministro de Desenvolvimento, Fernando Pimentel (PT), participa de evento de filiação ao PROS de deputados estaduais e líderes locais
- Ciro Gomes disse que Eduardo Campos fez “canalhice” ao tirar o apoio a Dilma às vésperas do prazo-limite para filiação partidária
Às vésperas do fim do prazo de filiação partidária para quem vai disputar as eleições de 2014, o recém-criado Partido Republicano da Ordem Social (PROS) acredita que, nos próximos dias, irá fazer uma bancada de pelo menos dois governadores, 20 deputados federais e dois senadores. O passe mais disputado é o do governador do Ceará, Cid Gomes, que confirmou sua saída do PSB. O deputado federal Givaldo Carimbão, responsável por buscar adesões ao PROS, disse que Cid e o irmão Ciro vão assinar a sua ficha de filiação ao PROS neste sábado, às 10h, em Fortaleza. Mas a assessoria de Cid Gomes nega a informação, e diz que ele ainda terá uma reunião com correligionários na terça-feira, antes de formalizar a filiação na semana que vem.
— Vamos assinar a ficha do governador neste sábado, às 10hs. O Cid vem para o nosso time — afirmou nesta sexta-feira Carimbão, que está viajando pelo país em busca dos “insatisfeitos”.
O secretário-geral do PROS, Raul Canal, também desembarca neste sábado em Fortaleza para fazer a filiação do clã Gomes Ferreira, que deixou o PSB por não apoiar a proposta do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de lançar candidatura própria à Presidência. Com os irmãos, também devem seguir para o PROS o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, e mais cinco deputados estaduais e prefeitos cearenses.
O rápido crescimento do PROS tem um empurrãozinho de setores do governo Dilma. Isso graças a dois fatores: a declaração do deputado Paulo Pereira da Silva, do também recém-fundado Solidariedade, que disse que sua legenda irá apoiar o presidenciável Aécio Neves (PSDB), e à força de ministros e parlamentares ligados à presidente. Acreditam que isso irá inflar a legenda para neutralizar a força do Solidariedade e de Aécio.
Mas o troca-troca não está restrito ao Ceará. Em Minas Gerais, ciceroneado pelo deputado federal Ademir Camilo, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, participa do evento de filiação de vários deputados estaduais e líderes locais – como o próprio Camilo, que será o presidente do diretório regional do PROS.
Embora Pimentel continue no PT, pelo qual deve concorrer ao governo de Minas Gerais no ano que vem, o ministro ajudou o novo partido a se estruturar já de olho no tempo de TV que poderá ter em caso de aliança com a nova agremiação. Camilo deverá ser o candidato do PROS ao Senado por seu estado. A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann também estaria interessada no apoio do PROS a sua candidatura ao governo de Santa Catarina.
Raul Canal, secretário-geral do PROS, avaliou que a decisão do Solidariedade de apoiar Aécio pode facilitar a vida de seu partido:
- Como o Paulinho já se posicionou a favor do Aécio, muita gente tem nos procurado.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) também está de olho nos preciosos minutos do PROS nas eleições do ano que vem. Pré-candidato ao governo do Rio, Lindbergh negou que tenha auxiliado o PROS. Mas admitiu que busca seu apoio.
- Os partidos terão um tempo de TV que não é de se desperdiçar. Estou conversando com o Eurípedes - afirmou ele.
Em Fortaleza, Cid e Ciro não escondem a irritação com o Eduardo Campos. Para o ex-ministro Ciro Gomes, Campos fez “canalhice” ao abandonar o apoio ao governo Dilma Rousseff às vésperas do prazo-limite para a filiação dos que querem concorrer às eleições de 2014.
Na quinta-feira, após mais de três horas de reunião, o governador do Ceará, Cid Gomes decidiu sair mesmo do PSB, como ameaçava desde o início do ano. A debandada inclui ainda 38 prefeitos, quatro deputados federais, nove estaduais e a grande maioria de vereadores, além do ministro do Portos, Leônidas Cristino.
Durante a reunião da noite de quinta-feira, a portas fechadas, Ciro, segundo interlocutores, teria dito que, diante de um prazo tão apertado para a troca de partido, a ser encerrado em oito dias, o ingresso em uma nova legenda é “tão apressada como uma fuga”:
— Estamos levando um tiro. Aqui nós estamos correndo, só temos quatro dias para tomar a decisão.
Terminada a reunião, Ciro foi mais enfático e fez críticas pesadas ao presidente do PSB, Eduardo Campos, que decidiu disputar as eleições do ano que vem, de olho no cargo de Dilma Rousseff:
— Essa (do Campos) foi em cima da hora, calculada, com todos os requintes dele, digamos assim, de canalhice. Então, vamos ter que fazer toda essa programação.
Ainda na quinta-feira, os irmãos Gomes deixaram claro que escolherão um partido que dê apoio à reeleição de Dilma, condição, segundo Cid, ‘sine qua non’. Este é o caso do PROS. Ele garantiu ainda que só vai para “onde foi convidado” e que tem cinco opções de escolha:
— Vamos por ordem cronológica: primeiro foi o presidente do PP nacional, Ciro Nogueira, que manifestou nos acolher; também teve o Lupi (PDT), o Kassab, presidente nacional do PSD, e o PCdoB. E o PROS, com quem iniciamos a conversa já há um bom tempo — declarou o governador, que, embora tenha negado a hipótese de filiação ao PT, afirmou que Dilma está acompanhando a transição do PSB no Ceará .— Eu falei com ela hoje (ontem) à tarde por telefone, ela tem insistido que o Leônidas (Cristino, ministro dos Portos) fique no ministério.
Embora Ciro diga reconhecer uma posição de humildade perante o novo partido, no qual o grupo socialista dissidente deve entrar sem muito poder de barganha, como declarou o próprio ex-ministro, ele disse ontem que se responsabilizou por colher, junto à militância do PSB, propostas programáticas para serem apresentadas à nova legenda. Entre o grupo existem divisões quanto ao ingresso no PROS, especialmente entre os militantes do movimento LGBT e de mulheres. A escolha, reconhece Ciro, pode gerar incoerências ideológicas:
— Não cuidamos de olhar o programa do partido, mas é interessante que a gente peça.
O deputado federal Antonio Balhmann sinalizou ontem que as atenções dos deputados, em geral, estão voltadas para o PROS e que o Solidariedade está descartado.
Na avaliação do governador Cid Gomes, os esforços agora estão voltados para a legalidade da corrida eleitoral, para evitar questionamentos de infidelidade partidária pelo Ministério Público. Durante reunião, Cid falou sobre o pedido feito ontem a Eduardo Campos para a liberação dos filiados do partido no Ceará que ocupam cargos eletivos.
— O deputado Zezinho (presidente da Assembleia Legislativa do Ceará) fez contato com Campos no sentido de que ele desse uma anuência. Ele garantiu que daria o documento, pedindo, em contrapartida, que tivesse uma renúncia coletiva.
28 de setembro de 2013
Chico de Gois, Odilon Rios e Janayde Gonçalves - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário