11 de Setembro: doze anos depois atentados norteiam política de segurança dos EUA
Doze anos após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a nova torre do One World Trade Center é presença marcante no céu de Nova York. O chamado Marco Zero, palco do principal ataque, há muito foi reconstruído. O mentor dos atentados, o terrorista saudita Osama bin Laden, foi morto por tropas dos EUA. Ao longo desses anos, os militares norte-americanos deixaram o Iraque, enquanto a saída das tropas ianques do território afegão está agendada para 2014.O saldo desse período é uma rígida política de segurança, que serve de base para todos os ocupantes da Casa Branca, pois em jogo está a vida dos cidadãos norte-americanos dentro e fora dos EUA. “Nos anos 1990, o aspecto econômico tinha primazia nos EUA”, observa o cientista político Martin Thunert, do Heidelberg Center for American Studies. No entanto, isso mudou abruptamente após os ataques. “Depois, a primazia passou a ser da segurança. E, com algumas ressalvas, isso vale até hoje.”
Antes dos atentados de 11 de Setembro, a política de segurança norte-americana exibia rigidez, ao mesmo tempo em que tinha falhas inaceitáveis. Só quem conheceu o cotidiano dos EUA de então é capaz de compreender os pontos de vulnerabilidade a que nos referimos.
O editor do ucho.info tratou deste assunto com Lincoln Gordon, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil durante parte da ditadura militar. Gordon, sem pestanejar, concordou com este site sobre a a existência de falhas primárias na então política de segurança do país.
Nos anos que precederam os atentados, em qualquer ponto dos Estados Unidos era possível encontrar cidadãos de origem árabe ligados a grupos terroristas. Se não diretamente, de alguma forma eles colaboravam para o terrorismo. Cujo combate é quase uma obsessão entre os norte-americanos.
A polícia local só não identificava esses meliantes do terror em sua totalidade por falta de vontade, porque era notória a presença dessas pessoas em território estadunidense.
Certa feita, no sul do estado da Flórida, o editor visitou uma escola de aviação na qual estavam matriculados alguns cidadãos de origem árabe, que frequentavam o curso sem qualquer incômodo por parte das autoridades de segurança. Ali, naquela escola, pode ter sido gestado pelo menos um dos atentados que chocaram o planeta.
Nas prisões federais os árabes também se faziam presentes, sendo que muitos desses prisioneiros só caíram nas garras da lei depois de algumas entradas nos EUA, cada vez com nome e documentos diferentes. O que por si só caracterizava o objetivo criminoso da estada no país.
No período inicial após os ataques comandados por Osama bin Laden e operados pela Al Qaeda, a Casa Branca endureceu a política de segurança, produzindo reflexos em vários setores, começando pelo de imigração. Mas isso também influenciou positivamente na indústria de combate ao terrorismo.
A guerra dos drones ou a vigilância em larga escala pelos serviços secretos têm origem nas medidas adotadas pelos EUA após os atentados. Essas medidas fizeram com que os órgãos de segurança crescessem de forma impressionante.
De acordo com o jornal “The Washington Post”, desde 2001 o orçamento dos 16 serviços secretos dobrou, alcançando US$ 52,6 bilhões. A partir das revelações de Edward Snowden, ex-analista da National Security Agency (NSA), tornou-se público que entre as atribuições dos departamentos estava interceptar, em massa, canais de comunicação em todo o planeta, inclusive em países aliados.
Fundado em 2002, o Departamento de Segurança Interna é o terceiro maior órgão federal dos Estados Unidos, com 200 mil funcionários que têm como principal tarefa proteger a população de ameaças terroristas. Desde os ataques em Nova York e Washington até 2012, os gastos militares da Casa Branca mais do que duplicaram – saltaram de US$ 312,74 bilhões para US$ 682,45 bilhões.
O principal destino das verbas foram as campanhas no Iraque e no Afeganistão, empreendidas pelos EUA sob o pretexto de uma “guerra contra o terror”, mas isso não representou o fim dessa atividade criminosa que assusta cada vez mais.
Na sequência do 11 de Setembro, os EUA não apenas ampliaram e interconectaram mais intensamente seus serviços secretos, departamentos de investigações e forças armadas, como também estenderam sensivelmente as respectivas áreas de competência. Uma das bases legais para isso foi o chamado “Patriot Act”, aprovado no Congresso em 25 de outubro de 2001, ainda sob a forte comoção dos atentados.
A lei federal, que restringe fortemente os direitos civis, teria vigência limitada. No entanto, ela tem sido repetidamente prorrogada no Congresso, desde que foi aprovada, e algumas de suas provisões centrais continuam em vigor. Assim, promotores e serviços secretos seguem aptos a interceptar comunicações telefônicas e na internet ou a controlar transações financeiras sem necessidade de ordem judicial.
Em outros casos, os tribunais são encorajados – ou mesmo obrigados – a deferir os requerimentos dos promotores, tão logo se evoque o interesse comum do combate ao terrorismo.
Além disso, foi introduzida a assim chamada “Lei do inimigo estrangeiro” (Alien Enemy Law), que prevê a detenção por tempo ilimitado – por exemplo, no campo de prisioneiros de Guantánamo – de não americanos suspeitos de terrorismo, se necessário sem verificação judicial ou apresentação de queixa.
A decisão de combater o terrorismo com mais ímpeto prejudicou sobremaneira a imagem dos EUA no cenário internacional. O que já não era bom ficou ainda pior. Esse resultado, que já era esperado pelas autoridades, alcançou o ápice na tentativa do presidente Barack Obama de atacar militarmente a Síria, onde o ditador Bashar al-Assad usou de forma indiscriminada armas químicas contras os que fazem oposição ao seu governo.
Essa obsessão do governo norte-americano em relação ao combate ao terrorismo recrudesceu nos últimos anos, mas a exemplo do que ocorria antes do 11 de Setembro as falhas primárias ainda dão o ar da graça. O melhor exemplo dessa vulnerabilidade persistente foi o atentado ocorrido durante a Maratona de Boston. Seguidor radical do islamismo, um dos responsáveis pelo atentado de Boston, Tamerlan Tsarnaev, morto pela polícia, vivia legalmente nos Estados Unidos, junto com o irmão Dzhokhar Tsarnaev, mas passou um longo período na Chechenia onde se submeteu a treinamentos terroristas.
O 11 de Setembro deixou um triste legado que refletiu de pronto na política de segurança, mas ainda há muito por fazer em termos de combate ao terrorismo. O primeiro passo é a Casa Branca rever sua política internacional, pois alguns dos atentados terroristas de que os EUA foram alvo, dentro ou fora do país, foram operados por antigos aliados no Oriente Médio.
11 de setembro de 2013
(Da redação do ucho.info, com informações do DW e de agências internacionais)
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