Podemos dividir as pessoas em dois grupos de acordo com a forma como lidam com o próprio dinheiro.
De um lado, temos um grande grupo de pessoas que consomem tudo que ganham. Muitas vezes fazendo dívidas para que possam consumir mais do que ganham, mesmo que isso limite o consumo no futuro devido ao pagamento de prestações e juros.
Podemos chamar essas pessoas de consumistas.
Do outro lado, temos algumas poucas pessoas que consomem só uma parte do que ganham para que possam capitalizar, mesmo que isso limite o consumo no presente devido aos investimentos que fazem para receberem juros.
Podemos chamar essas pessoas de capitalistas.
Capitalizar significa literalmente juntar dinheiro ou equivalente a dinheiro para então auferir ganhos exponenciais sobre esse capital acumulado. Se você está juntando dinheiro, acumulando bens de valor ou bens que fazem o seu patrimônio crescer com o objetivo de ter um futuro mais próspero, você é um capitalista, mesmo que seja um pequeno capitalista.
Geralmente, as pessoas escondem quanto ganham, poupam e investem. É muito comum entre as pessoas que conseguiram acumular um bom patrimônio sentirem vergonha por isso. Em alguns casos, até possuem um sentimento injustificado de culpa pelo sucesso financeiro.
O mesmo tipo de vergonha, porém, não existe entre os consumistas. Os mais consumistas adoram falar sobre o que compraram e sobre o que pretendem comprar. Tiram até fotos comprando e depois que compram para exibir na internet. As pessoas se orgulham quando mostram para as outras que compraram bens caros ou desejados. Algumas pessoas até se orgulham e gostam de falar sobre as enormes faturas que pagam no cartão de crédito e sobre as dívidas de financiamentos de carros e imóveis.
Por isso, é importante entender a relação que existe entre o capitalista e o consumista.
Ambos se ajudam, mas só um prospera
Geralmente, o que o capitalista faz com o dinheiro que capitaliza ajuda o consumista a manter o seu estilo de vida.
Já o que o consumista faz com o dinheiro ajuda o capitalista a construir um novo estilo de vida.
Vale ressaltar que não há nada de moralmente errado neste arranjo. Os dois se complementam.
Vejamos alguns exemplos.
Imagine um consumista. Tudo que ele ganha é gasto mensalmente com todas as coisas de que ele precisa e com tudo aquilo que ele gosta de fazer com o dinheiro. O problema é que, ao gastar tudo que ganha, falta dinheiro para realizar grandes objetivos. Ele recorre a bancos e financeiras para conseguir um empréstimo ou um financiamento para realizar esse grande sonho.
O dinheiro que o banco ou financeira empresta para o consumista é exatamente o mesmo dinheiro que os clientes capitalistas do banco ou da financeira aplicaram em CDB, LCI, LCA, poupança, LC e outras modalidades de investimento.
Os bancos e as financeiras lucram intermediando essa relação entre consumistas e capitalistas.
O consumista aceita pagar juros para ficar com o dinheiro do capitalista temporariamente. O capitalista aceita receber juros para ficar sem o próprio dinheiro temporariamente. Um paga juros e o outro ganha juros.
O banco ou a financeira cobra juros maiores dos consumistas e paga juros menores para os capitalistas. Esse "spread" se deve ao risco que a instituição assume, já que o banco é que se torna o devedor do capitalista e o credor do consumista. Além do risco, ele assume também a responsabilidade da intermediação.
Embora pareçam estar em lados opostos, capitalistas e consumistas são complementares. Mas, no longo prazo, apenas um prospera.
O consumista vai utilizar o dinheiro que pegou emprestado no banco ou na financeira para fazer compras. Os bancos e as financeiras oferecem empréstimo, crédito e parcelamentos de compras emprestando o dinheiro dos clientes que acumulam capital no banco (capitalistas).
Esse consumista irá visitar lojas que possuem ações listadas na bolsa e que fazem parte da carteira de ações dos capitalistas. Existem muitas empresas do varejo na bolsa em diversos segmentos como eletrodomésticos, vestuário etc.
Já o capitalista vai ganhar juros, por ter sido ele que emprestou o dinheiro para os bancos e financeiras quando fez um investimento de renda fixa (exemplo: CDB e LC). O capitalista também vai receber os dividendos e os ganhos de capital das ações que ele comprou aos poucos no passado, com a fatia do dinheiro que ganhou e resolveu investir.
É possível que o consumista tenha esperado o ano inteiro para comprar o que desejava com desconto em uma Black Friday. Ou então ele pode parcelar em várias vezes.
O capitalista também gosta de fazer compras, mas ele terá o ano todo para comprar aquilo que deseja sem precisar esperar a Black Friday e sem precisar tirar dinheiro do bolso. Por meio dos juros, dividendos e ganhos de capital que ele receberá dos seus investimentos, ele poderá realizar as compras que desejar.
Outras relações entre consumistas e capitalistas
O consumista trabalha para receber uma renda fixa (salário). Com efeito, um emprego nada mais é do que um investimento de renda fixa. Você investe o seu tempo e a sua força de trabalho no emprego e recebe uma renda fixa no final do mês na forma de salário e direitos trabalhistas. É uma renda segura e previsível.
Muitas vezes, os consumistas trabalham nas empresas que fazem parte da carteira de ações dos capitalistas. Enquanto os consumistas trabalham em troca de uma renda fixa (salário), os capitalistas apenas recebem dividendos e ganhos de capital destas empresas em que os consumistas trabalham.
Observe que quem trabalha para o capitalista é o dinheiro que ele investiu na empresa. O capitalista, em vez de uma renda fixa, prioriza os ganhos (lucros), mesmo que isso represente riscos. Os ganhos de capital, dividendos e demais proventos recebidos por aqueles que possuem ações de empresas são fontes de renda variável, sem qualquer estabilidade ou garantia de recebimento. Você investe o seu dinheiro e recebe uma renda variável, sem garantia de ganho. É uma renda sem limites, porém incerta e imprevisível.
Os consumistas, portanto, trabalham pelo dinheiro. Os capitalistas fazem o dinheiro trabalhar para eles.
Muitas vezes, os consumistas também pagam aluguéis para os capitalistas. É comum em muitos países a pessoa juntar dinheiro durante a vida para comprar ou construir imóveis que geram renda oriunda de aluguéis na aposentadoria. É um investimento em imóveis muito comum.
Já o consumista que mora em um imóvel financiado está pagando juros para os bancos, os quais remuneram os capitalistas que investiram em LCI ou na poupança.
As parcelas que os consumistas pagam nas prestações dos carros financiados também remuneram os capitalistas que investem em renda fixa (CDB).
Qualquer um pode ser capitalista
Entendido esse básico, é importante ressaltar que, nos dias de hoje, qualquer pessoa pode ser capitalista, caso queira.
Para se capitalizar (juntar dinheiro e bens que geram renda), você tem necessariamente de gastar menos do que ganha, e investir essa diferença para obter retornos exponenciais. Trata-se majoritariamente de uma questão da adquirir o hábito de poupar (gastar menos do que se ganha) e de obter o conhecimento necessário para investir esse dinheiro que você salvou do consumismo.
Tudo isso também vai exigir paciência, já que pode demorar muito tempo para se acumular capital. No entanto, quanto mais cedo você começar, mais cedo irá usufruir.
Ser consumista ou capitalista é uma escolha. Não é uma questão de certo ou errado. Ambos estão corretos, desde que escolhidos conscientemente.
O único erro é você não entender a sua escolha. Toda escolha tem o seu preço (custos). Ser consumista tem seus ganhos e seus custos. Ser capitalista tem seus ganhos e seus custos. Encontrar um equilíbrio entre os dois também é uma escolha.
Opte por ser capitalista: fuja das dívidas
Não existiriam empresas, produtos, serviços, empréstimos, financiamentos, Black Friday e a sociedade como conhecemos hoje se não existissem pessoas que poupam e que acumulam capital e bens que geram capital — ou seja, capitalistas.
A vida dos consumistas sem os capitalistas seria difícil.
Igualmente, a vida dos capitalistas sem os consumistas seria menos fácil.
E este é um ponto crucial: para quem acumula capital, é bom haver pessoas que gastam tudo que ganham e que ainda solicitem empréstimos para que possam gastar tudo que podem ganhar no futuro.
Quanto mais consumistas existirem, maiores serão os ganhos dos capitalistas.
O que nos leva à crucial questão do endividamento.
Embora endividar-se para consumir traga uma sensação inicial de bem-estar e satisfação, é importante entender que, se voltadas para o consumo, dívidas são alavancas de empobrecimento.
Os juros e as taxas que você paga durante uma vida para sustentar bancos e financeiras poderiam ser utilizados para aumentar o seu patrimônio e para gerar renda passiva (juros sobre juros) nos seus investimentos. Isso poderia melhorar a qualidade de vida da sua família.
Dívidas são alavancas de riqueza quando você é o credor, e não quando é o devedor. Você enriquece quando as pessoas devem para você, e não quando você deve para as pessoas. Banqueiros enriquecem emprestando o seu dinheiro para os outros. São os outros que precisam trabalhar mais para pagar os juros que você recebe quando faz um investimento financeiro (emprestando dinheiro para os bancos ou para o governo).
É exatamente por isso que, no Brasil, vender produtos passou a ser um pretexto para vender crédito. Grandes lojas de eletrodomésticos, grandes lojas de moda e fabricantes de automóveis lucram mais vendendo crédito do que vendendo produtos. Isso explica por que as grandes lojas possuem cartão próprio, e por que as grandes concessionárias têm suas próprias financiadoras. Elas estimulam que você compre parcelado ou financiado em vez de comprar à vista. Agindo assim, elas podem ganhar duas vezes: ganham vendendo o produto e ganham emprestando o dinheiro para que você compre.
Sempre que você compra qualquer coisa por meio do crediário de uma loja ou por meio de financiamentos, você está pagando duas vezes. Isso faz você empobrecer se comparado a quem poupa, recebe juros e paga à vista negociando descontos. As pessoas não percebem que passam a vida toda trabalhando para pagar juros e taxas, transferindo sua riqueza para os outros — os capitalistas.
Seja o capitalista.
O governo também gosta dos consumistas - mas só existe por causa dos capitalistas
Políticos vivem atacando as pessoas que poupam, investem e empreendem. São chamados de "rentistas", de "especuladores" ou de capitalistas mesmo, já que a palavra ganhou sentido pejorativo.
Os políticos preferem os consumistas, pois eles pagam mais impostos. São tributados quando recebem a renda, são tributados quando fazem as compras e quando pegam empréstimos para consumir mais.
Entretanto, os governos dependem dos capitalistas. São as empresas — frutos de investimentos de capitalistas — que produzem e vendem produtos e serviços que geram lucros, ganhos de capital e salários para serem tributados. Se nada fosse produzido e vendido, nada seria tributado. E aí nem haveria governo.
Sim, os próprios governos não existiriam sem pessoas e empresas acumulando capital. Os governos, nas sociedades em que as pessoas são livres, são mantidos por cobranças de impostos. Quando os impostos são insuficientes, os governos emitem dívida por meio da venda de títulos públicos. E são as pessoas que acumulam capital que compram esses títulos.
Um mundo sem capitalistas
Como seria o mundo se só existissem consumistas?
Imagine um mundo no qual ninguém acumula nada. Todas as pessoas consomem tudo que produzem. Ninguém produz nada em excesso para fazer trocas ou comércio. Ninguém acumula nada que possa ser alugado ou vendido. Não existem empresas. Não há visão de longo prazo. Não há frugalidade.
Não é difícil visualizar que, neste mundo, não existiriam empréstimos, financiamentos, produtos, serviços e empregos oferecidos por empresas. Empresas são necessariamente investimentos de longo prazo; são o conjunto de bens e capitais que pessoas investiram.
Em um mundo inteiramente voltado para o consumismo não teria como haver nada cuja existência dependesse de investimentos de longo prazo
Por isso, naquela época em que as pessoas só trabalhavam para o próprio consumo, o mundo era muito parecido com isso:
Felizmente, existem os capitalistas - e eles seguem crescendo
Neste momento existem diversas empresas de capital aberto (ações negociadas na bolsa) que estão investindo dinheiro de pequenos e grandes capitalistas para a construção do futuro.
Se você está consumindo e se endividando, sim, você está fazendo a sua parte desse processo. Porém, se além de consumir, você está acumulando capital e investindo, então você não apenas faz parte do processo, como também será remunerado por isso.
Seja essa pessoa.
30 de dezembro de 2020
Leandro Ávila
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