"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A POLÍTICA DO RESPIRADOR ARTIFICIAL




Por Percival Puggina

Tendo recebido aviso de que estava aberta no site e-Cidadania do Senado Federal enquete sobre a PEC 33, fui imediatamente dar meu voto contra. Essa proposta de emenda à Constituição tem por objetivo atender os anseios de uma banda não muito perfumada do nosso Congresso. Encaminhada por uma senadora, a medida pretende instituir a possibilidade de reeleição das mesas do Senado (Davi Alcolumbre) e da Câmara (Rodrigo Maia). Ou seja, é uma emenda casuísta que só irá estimular, no comando dos poderes, o clientelismo que os constituintes quiseram evitar. A informação que recebi dava conta de a rejeição estar em 99%.

Coincidentemente, no exato momento em que uma enquete que visa a informar sobre a adesão ou rejeição popular a proposições legislativas batia todos os recordes de reprovação, deparei-me com o aviso de que “A ferramenta de Consulta Pública está em manutenção para correção da exibição da ementa e autoria das proposições”. Existem coincidências que derrubam todas as probabilidades e mandam o desvio padrão para outra galáxia.

Não sei se, como, ou quando a enquete retornará. Tenho aí, porém, mais uma evidência dos inestimáveis serviços que a pandemia vem prestando aos abusados e aos abusadores da República. Com a falta de plenário, com sessões virtuais, com os canais da Câmara, do Senado e do STF dedicados a morféticos déjà vus, a política foi para o home office.

Na falta do contraditório, do debate, do aparte, a atividade política sai das mãos de quem recebeu apoio popular nos entrechoques eleitorais e vai para os meios de comunicação, que fazem a “política” deles mesmos, organizando programas em conformidade com suas conveniências. Assim tem sido ao longo deste quase inteiro ano de 2020, ano em que a política foi para o respirador artificial.

O que mais se vê, nestes muitos meses, no Congresso e no STF, são irreais sessões virtuais transmitidas em quadrinhos. Nelas, os intervenientes falam desde o aconchego de seus lares em ambientes blindados à reação alheia. Maia e Alcolumbre não contavam com ambiente tão propício! Em quase impotente contraposição, políticos, movimentos, cidadãos, organizam Lives para fornecer algum oxigênio aos pulmões da política, promovendo um mínimo de contraditório sem o qual tudo fica com jeito cubano.

O silêncio tem sido o som da política nas ruas, nos plenários. Silêncio do povo e seus representantes. Para sua reflexão, estimado leitor:

Dentre os poderes constitucionais – legislativo, executivo e judiciário – quais os que se estão beneficiando desse silêncio de UTI para visíveis exercícios de autoritarismo e manipulação?Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário e escritor.

Postado por Alerta Total às 08:14:00
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terça-feira, 15 de setembro de 2020

O risco de Bolsonaro vencer perdendo









Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net

Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net

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É um indício de fragilidade e inconsistência da articulação política o fato de Jair Bolsonaro não indicar, pessoalmente, aqueles seriam seus candidatos a Prefeito, principalmente nas maiores cidades. O problema é um paradoxo diante da boa popularidade do Presidente. Enquetes indicam que Bolsonaro tem grandes chances de se reeleger. Só que o triunfo dele pode não representar uma vitória real para seu eleitorado.

Bolsonaro conta com uma governabilidade de dar inveja a seus antecessores no regime de Presidencialismo de coalizão. No primeiro ano de mandato, Bolsonaro ficou travado porque jogou duro e negociou mal com o Congresso Nacional. No segundo ano, o pandemônico 2020, o Presidente constatou que nada aprovaria na Câmara ou no Senado, se não cedesse alguns cargos relevantes aos parlamentares do Centrão.

Nas atuais condições de pressão e temperatura política, o Presidente não corre risco de ser derrubado. No entanto, o Presidente não tem tranqüilidade para aprovar matérias de seu interesse. Antes de toda votação, muita tensão, mesmo quando o jogo parece combinado. As principais reformas motivaram a eleição de Bolsonaro (Tributária e Administrativa) tendem a acontecer no estilo “meia-boca”. Assim, as vitórias inseguras de Bolsonaro não representam, na prática, conquistas para a maior parte de seu eleitorado.

O governo Bolsonaro ainda deixa a desejar no timming político. Curioso que isto ocorre diante do desastre de uma oposição débil, burra, mentirosa e sem propostas sérias para nada. Bolsonaro só apanha ostensivamente da mídia. Os políticos adversários ou inimigos não conseguem atingi-lo porque continuam desgastados pela pecha de envolvimento com a corrupção dos governos anteriores. Até agora, o carimbo de corrupto não cola em Bolsonaro.

Assim segue o governo, em meio ao patrimonialismo que afeta a atuação política e o padrão de comportamento do estamento burocrático. Os clãs oligárquicos seguem mandando. O Presidente fica no meio. E os filhos dele (Carlos, Flávio e Eduardo) agem para se firmar como mais uma família poderosa. Segue o jogo... O papel de Bolsonaro está claro desde o começo: um governante de transição (mesmo que conquiste um segundo mandato).

A oligarquia só precisa ficar mais esperta. Seu modus operandi está manjado. A praia bacana, com linda maré baixa, é prenúncio de tsunami.

Já Bolsonaro precisa ficar atento para o risco concreto de vencer perdendo. “Ao vencedor, os pepinos” não é lema ideal de governo. 












Ave atque Vale! Fiquem com Deus. Nekan Adonai!

Jorge Serrão é Editor-chefe do Alerta Total. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.

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