"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A AMAZÔNIA DOS EUROPEUS

Uma das coisas mais antigas e vezeiras na chamada “literatura de viagem”, qual seja, aquele tipo de descrição da terra Brasilis pelos viajantes estrangeiros, é a figura da Alegoria.

Dentre as maiores autoridades do mundo no tema, o Prof. João Adolfo Hansen escreve em seu Alegoria – Construção e Interpretação da Metafóra logo na abertura da tese: “A alegoria (grego allós = outro; agoureín = falar) diz b para significar a”.

As alegorias brasileiras antigas, predominantes no período de colônia, usavam não só da literatura, mas sobretudo da iconografia: desenhos e aquarelas, entre os mais famosos ficaram a cargo de Debret e Rugendas, retratar o Brasil para o Europeu.

Isso faz parte de nossa história, faz parte de nossa cultura.

Não se trata aqui da forma como o brasileiro apresenta o Brasil, mas sim da forma como o estrangeiro apresenta o Brasil para ele mesmo. O estrangeiro vê o Brasil que mais lhe convém e o brasileiro globalista, o ajuda. Sempre foi assim, sempre será.

Há um Brasil ideal, imaginário. Na Europa, é onde ele se mostra de forma mais plena.

Esse Brasil tipicamente alegórico mostra para o europeu, como disse Hansen, uma imagem a mas sempre significando b.

É inquestionável que, dentre os temas prediletos de alegoria brasileira para europeus, a Amazônia ocupa papel central.

Essa Amazônia alegórica vai dos jogos de video game, cujo Street Fight imortalizou Blanka, passando por lendas como a da cobra gigante Anaconda, incluindo filmes B que contam histórias mirabolantes de uma floresta cheia de monstros que roubam rins de adolescentes, até o último Indiana Jones que retratou as Cataratas do Iguaçu no meio da floresta amazônica. Essas alegorias fazem referência a uma Amazônia para o blue collar americano – a Amazônia alegórica do europeu é bem pior: é a terra retratada pelo Sting e sua bizarra amizade com o cacique Raoni; é a Amazônia das ONGs boazinhas; é floresta do Greenpeace. É a tal “Amazônia do Mundo”.

Nessa Amazônia alegórica do europeu, ela entra como uma personagem, quase uma pessoa, uma espécie de Marielle verde – Bolsonaro, por sua vez, é o malvadão.

A Amazônia alegórica dos jornais europeus diz a para significar b.

Um tolo pode não perceber certas coisas, mas nesse caso, até um energúmeno dílmico consegue identificar a alegoria.

São mais de 500 anos de história – nem seria necessário apelar para Hansen: temos experiência suficiente para sacar esse jogo oportunista.

Frau Merkel, ao lado de Monsieur Marcon não passam por momentos gostosos em seus respectivos países. Com risco de perderem os quentinhos assentos em breve, começam a montar um discurso para atrair políticos de partidos verdes, uma praga de alta repercussão na Europa globalista. Na França e na Alemanha, perder o apoio dos partidos verdes pode ser tão desastroso quanto perder, em Israel, o apoio dos partidos religiosos.

Eis ai a origem deste artigo – eu não tinha a menor intenção de entrar neste assunto, pra mim obviamente enfadonho, falso, desinteressante e oportunista. Israel está a menos de 1 mês de mais uma eleição e vejo nessa frente muito mais peso e importância para atrair nossa atenção do que essa Amazônia alegórica dos europeus. Pois bem – folheando os jornais israelenses para posicionar o leitor do RENOVA em relação ao que está ocorrendo lá (haja vista uma novidade fundamental que se sucedeu ontem), planejava eu escrever um artigo sobre isso. Quando assim, de repente, vejo que a Amazônia alegórica estava lá, em pleno Jerusalem Post, em meio a Haaretz (neste, como era de se esperar) e no Arutz Sheva.

Enfim, quando a Amazônia alegórica passa a ocupar o espaço a atenção de um Israelense, em meio a uma eleição importantíssima e para uma massa de leitores que tem mais coisas para se preocupar (a começar com um probleminha chamado Hamas), é que a narrativa franco-germânica (alimentada ostensivamente pela esquerda brasileira) chegou a níveis inimagináveis de tosquidão.

É lógico que essa imprensa anti-governo jamais contará a verdade inteira: que foi justamente no período entre 2000 e 2018 que a Amazônia foi mais desmatada, devassada e tudo isso ai que estão dizendo hoje. Porque esses dados da Amazônia Real não importam para a Amazônia Alegórica Europeia – o que importa é a narrativa de que manter Bolsonaro como inimigo a qualquer custo, ajudará Merkel e Macron internamente. Por isso o silêncio na era PSDB/PT e a gritaria na era Bolsonaro.

Em meio a essa realidade, a Amazônia Alegórica opera livre, com as suas fumaças esvoaçantes, os debates sobre números e as choradeiras sobre as Hienas de Gericault ou sobre a Flora de Arcimboldo.

Espanta que seus motores de dispersão, a Alemanha e a Noruega, dão sede às principais empresas envolvidas na Tragédia de Brumadinho e de outros desastres com mineradoras no Brasil.

Notem que a alegoria serve para isso mesmo – criar uma narrativa de destruição putativa enquanto a destruição verdadeira, ocorrida, comprovada e criminosa é jogada para baixo do tapete da mesma Alemanha e da mesma Noruega que abrigam a Norsk Hydro e a Tüv Süd, esta sim, com sangue nas mãos.

No confronto da Amazônia alegórica com o Brasil de verdade, o 7×1 é em favor do Brasil.


10 de dezembro de 2019
Evandro F. Pontes

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