"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 15 de dezembro de 2018

CASO DO EX-ASSESSOR É O PRIMEIRO TESTE DA ESTRATÉGIA DE PODER DE BOLSONARO

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, durante entrevista à imprensa em Brasília, no fim de novembro
Bolsonaro começa a admitir que há algo errado no caso
Passaram-se sete dias desde a revelação de que um assessor de Flávio Bolsonaro movimentou R$ 1,2 milhão em um único ano e deu um cheque de R$ 24 mil à mulher de Jair. De saída, a família julgou que devia poucas explicações, mas o episódio tem potencial para depreciar um dos principais ativos do próximo presidente.
Bolsonaro já demonstrou que pretende governar com o poder das redes sociais, escorado em sua popularidade. Embora pareça uma boa ideia, a estratégia carrega seus riscos. Se o presidente depende de constante aprovação, manchas na imagem também podem drenar sua força.
“PEDÁGIO” – O silêncio e as explicações dadas pela metade não abafaram o caso. Informações que vieram a público ao longo da semana acentuam as suspeitas de que o gabinete de Flávio na Assembleia do Rio obrigava funcionários a devolverem parte de seus salários —mecanismo conhecido como “pedágio” ou “rachadinha”.
Fabrício Queiroz, ex-motorista de Flávio, não conseguiu justificar os depósitos que recebia em sua conta no dia do pagamento dos outros servidores. Também não disse por que sacava o dinheiro logo depois. Não há provas de que os Bolsonaros tenham se beneficiado de alguma ilegalidade, mas as interrogações não ajudam a família.
TOLERÂNCIA ZERO – As suspeitas levantadas são especialmente danosas porque Bolsonaro se elegeu sob a bandeira da rejeição ao sistema e da tolerância zero com a corrupção. A cobrança de “pedágio” é um dos hábitos mais ordinários da velha política — assim como a contratação de funcionários fantasmas e o recebimento de auxílio-moradia sem necessidade.
O presidente eleito dobrou a aposta nesta quarta-feira (dia 12). Ao fim de uma transmissão no Facebook, disse: “Se algo estiver errado, que paguemos a conta”. Assim, Bolsonaro reforça o exercício do poder em linha direta com seus eleitores, como afirmou em sua diplomação. Se não conseguir apresentar um esclarecimento completo sobre o caso, ele pode conhecer o lado amargo desse plano.

15 de dezembro de 2018
Bruno Boghossian
Folha

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