O presidente eleito começou a enfrentar um cenário complicadíssimo e extensamente desafiador. A maioria dos brasileiros reconhece os grandes “gargalos” que estão nos levando ao verdadeiro caos. Eles começam pela incontrolável deterioração das nossas contas públicas e continuam pelo elevado índice de desemprego, pelo sistema de saúde totalmente caótico e o da educação insustentável, pela insegurança total e pela polarização social.
Essas e outras questões degenerativas impõem ao próximo governo assumir uma visão de futuro e soluções de curto prazo que se enquadrem em um plano estratégico de longo prazo de alcance nacional. O longo prazo consiste basicamente em planificar hoje o nosso desempenho daqui a cerca de 10 anos ou até mais, caso seja necessário.
Particularmente, existem algumas medidas, dentre outras, que também são importantes, mas essas, julgo que são prioritárias. É inevitável buscar de imediato o equilíbrio das contas públicas senão será impossível chegarmos ao objetivo. É importante começar por eliminar as evidentes ineficácias e os indecorosos privilégios, promovendo uma ampla e sólida reforma no sistema previdenciário nacional. Afinal de contas, a média das aposentarias dos trabalhadores do setor público, atualmente, é quase oito vezes a média das aposentadorias do setor privado.
Além de planejar os investimentos é imprescindível focar na educação básica, com iniciativas consistentes que venham a aprimorar a capacitação de professores, proporcionando uma alfabetização de qualidade. Segundo o “ranking” divulgado pelo Pisa (Programa de avaliação internacional de estudantes), atualmente ocupamos a 63° colocação, em virtude de que 43% dos professores não têm uma formação compatível com as disciplinas que ensinam e 46% dos diretores das escolas são escolhidos por critérios eminentemente políticos.
A saúde pública há muito tempo encontra-se na UTI e, hoje, praticamente em estado terminal. Sem dúvida, este é um grande desafio não só para os governantes como para todos os gestores envolvidos com o sistema, já que se trata de uma problemática complexa, condicionada a uma multiplicidade de fatores. Para oferecer serviços de saúde de qualidade, os países responsáveis geralmente costumam investir a partir de três pontos fundamentais: uma rede integrada de atendimento familiar estendendo-se ao comunitário, uma gestão rígida de contratos e bases de dados informatizadas.
Outra questão considerada importante são ações de educação e saneamento básico visando prevenir doenças. Com isso, os gastos serão otimizados e a qualidade dos serviços só tendem a crescer. Incrível que nosso modelo atual de saúde, criado há aproximadamente trinta anos, esteja até hoje em implantação.
A grande vergonha nacional ainda é a indecorosa taxa de “mortalidade infantil”, que já esboça certa similaridade com a da Venezuela, uma das piores da América Latina. É inadmissível continuar com a “expectativa de vida” que apresenta taxas distintas dentro do mesmo Brasil: em média é seis anos mais elevada no Sul e Sudeste do que o Norte e no Nordeste. Apenas esses fatos já comprovam um cenário bastante complexo com relação à saúde pública brasileira.
Na realidade, necessitamos de propostas convergentes e políticas altamente sustentáveis que promovam um forte impacto nos domínios social, econômico e político, superando as medidas paliativas que vêm sendo tomadas ao longo dos últimos anos, muitas delas até que inevitáveis, mas, como sempre, insuficientes. A grande verdade é que a única saída que temos é construir com responsabilidade e comprometimento um macroplanejamento estratégico que se sustente no longo prazo, sendo transversal às áreas estratégicas, discutido e assumido por toda a sociedade brasileira e que esteja acima de partidos políticos ou correntes ideológicas.
Caso o novo chefe do Executivo venha a assumir esse imenso desafio, ele precisa, acima de tudo, estar plenamente consciente de que os retornos previstos para um plano estratégico ambicioso de âmbito nacional não são imediatos. Em primeiro lugar, é fundamental que ele seja determinado, bem assessorado por uma equipe competente e confiável, interagindo permanentemente com o Congresso Nacional e entidades representativas. É importante que adote uma postura de estadista, sabendo priorizar e, também, avaliar as perdas e os ganhos, sendo igualmente importante que não se esqueça de cuidar da manutenção das iniciativas, para que no futuro possamos colher bons frutos, cujas sementes tenham sido plantadas no decorrer da sua gestão.
Este é um país imenso que possui diferentes realidades, repleto de desigualdades e que necessita de justiça e bem-estar social para os seus cidadãos; só assim nos tornaremos, de fato, a tão desejada Nação do futuro. Somente trilhando esse caminho será possível aos brasileiros terem a oportunidade de viver uma vida verdadeiramente digna.
27 de novembro de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
Essas e outras questões degenerativas impõem ao próximo governo assumir uma visão de futuro e soluções de curto prazo que se enquadrem em um plano estratégico de longo prazo de alcance nacional. O longo prazo consiste basicamente em planificar hoje o nosso desempenho daqui a cerca de 10 anos ou até mais, caso seja necessário.
Particularmente, existem algumas medidas, dentre outras, que também são importantes, mas essas, julgo que são prioritárias. É inevitável buscar de imediato o equilíbrio das contas públicas senão será impossível chegarmos ao objetivo. É importante começar por eliminar as evidentes ineficácias e os indecorosos privilégios, promovendo uma ampla e sólida reforma no sistema previdenciário nacional. Afinal de contas, a média das aposentarias dos trabalhadores do setor público, atualmente, é quase oito vezes a média das aposentadorias do setor privado.
Além de planejar os investimentos é imprescindível focar na educação básica, com iniciativas consistentes que venham a aprimorar a capacitação de professores, proporcionando uma alfabetização de qualidade. Segundo o “ranking” divulgado pelo Pisa (Programa de avaliação internacional de estudantes), atualmente ocupamos a 63° colocação, em virtude de que 43% dos professores não têm uma formação compatível com as disciplinas que ensinam e 46% dos diretores das escolas são escolhidos por critérios eminentemente políticos.
A saúde pública há muito tempo encontra-se na UTI e, hoje, praticamente em estado terminal. Sem dúvida, este é um grande desafio não só para os governantes como para todos os gestores envolvidos com o sistema, já que se trata de uma problemática complexa, condicionada a uma multiplicidade de fatores. Para oferecer serviços de saúde de qualidade, os países responsáveis geralmente costumam investir a partir de três pontos fundamentais: uma rede integrada de atendimento familiar estendendo-se ao comunitário, uma gestão rígida de contratos e bases de dados informatizadas.
Outra questão considerada importante são ações de educação e saneamento básico visando prevenir doenças. Com isso, os gastos serão otimizados e a qualidade dos serviços só tendem a crescer. Incrível que nosso modelo atual de saúde, criado há aproximadamente trinta anos, esteja até hoje em implantação.
A grande vergonha nacional ainda é a indecorosa taxa de “mortalidade infantil”, que já esboça certa similaridade com a da Venezuela, uma das piores da América Latina. É inadmissível continuar com a “expectativa de vida” que apresenta taxas distintas dentro do mesmo Brasil: em média é seis anos mais elevada no Sul e Sudeste do que o Norte e no Nordeste. Apenas esses fatos já comprovam um cenário bastante complexo com relação à saúde pública brasileira.
Na realidade, necessitamos de propostas convergentes e políticas altamente sustentáveis que promovam um forte impacto nos domínios social, econômico e político, superando as medidas paliativas que vêm sendo tomadas ao longo dos últimos anos, muitas delas até que inevitáveis, mas, como sempre, insuficientes. A grande verdade é que a única saída que temos é construir com responsabilidade e comprometimento um macroplanejamento estratégico que se sustente no longo prazo, sendo transversal às áreas estratégicas, discutido e assumido por toda a sociedade brasileira e que esteja acima de partidos políticos ou correntes ideológicas.
Caso o novo chefe do Executivo venha a assumir esse imenso desafio, ele precisa, acima de tudo, estar plenamente consciente de que os retornos previstos para um plano estratégico ambicioso de âmbito nacional não são imediatos. Em primeiro lugar, é fundamental que ele seja determinado, bem assessorado por uma equipe competente e confiável, interagindo permanentemente com o Congresso Nacional e entidades representativas. É importante que adote uma postura de estadista, sabendo priorizar e, também, avaliar as perdas e os ganhos, sendo igualmente importante que não se esqueça de cuidar da manutenção das iniciativas, para que no futuro possamos colher bons frutos, cujas sementes tenham sido plantadas no decorrer da sua gestão.
Este é um país imenso que possui diferentes realidades, repleto de desigualdades e que necessita de justiça e bem-estar social para os seus cidadãos; só assim nos tornaremos, de fato, a tão desejada Nação do futuro. Somente trilhando esse caminho será possível aos brasileiros terem a oportunidade de viver uma vida verdadeiramente digna.
27 de novembro de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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