"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

NA ESSÊNCIA DA "RACIONALIDADE" NACIONAL, A SOLUÇÃO SERÁ LEGALIZAR A CORRUPÇÃO




Resultado de imagem para corrupçãocharges
Charge do Néo Correia (Arquivo Google
Não, leitor, não se espante com a mais recente pesquisa do Ibope. No Brasil é assim. Ninguém confia em pesquisas eleitorais, mas todo mundo fica esperando por elas e as aprova ou desaprova conforme o resultado expresse ou não o seu desejo. A pesquisa reflete nossas idiossincrasias.
O país vive uma terrível insegurança? Chama o partido que não gosta da polícia, que defende penas curtas, desencarceramento e bandido na rua. A corrupção levou até as moedinhas? Chama os ladrões. A política ficou tão suja que precisaria de uma faxina geral? Acaba com a Lava Jato, reelege os patifes, expurga os mais sérios, manda Sergio Moro fazer um curso de secagem de dinheiro no exterior.
RACIONALIDADE – Estou mergulhando na essência da “racionalidade” nacional. Faltam recursos financeiros para o futebol, para o esporte olímpico, para os hospitais? Crie o governo um joguinho e tome dinheiro dos trouxas. Transforma-se o país, então, numa sinecura em que se institucionalizaram as mais criativas maneiras de lucrar com a esperança dos miseráveis. Cometem-se, segundo é dito, alguns milhões de abortos por ano? Encarregue-se o governo de executar a chacina com as luvas esterilizadas da irresponsabilidade pessoal.
O Estatuto da Criança e do Adolescente define como crime “fornecer, vender, ou dar para transportar, ainda que inadvertidamente”, bebida alcoólica a menores? Malgrado a lei, a mais desatenta passagem por qualquer dos points das madrugadas urbanas, frequentados por jovens cada vez mais jovens, evidenciará, no teor alcoólico que emana das calçadas, o descumprimento da legislação. Quem sabe a solução esteja, também, em atribuir ao governo a venda de bebidas alcoólicas às crianças?
E AS DROGAS? – É o que pretendem, em número crescente, os defensores da legalização das drogas e de seu comércio. Converteram-se elas em flagelo social? Incumba-se o governo de produzi-las e servi-las em bandeja à farra dos usuários. Afinal, alega-se, a repressão é inútil e só tem servido para enriquecer o submundo do crime.
É dito hipócrita quem discorda da hipocrisia da legalização. Se tais motivos fossem válidos, dada a recorrência e todos os riscos envolvidos nos crimes de sequestro, seria de sugerir a esses iluminados legisladores sua regulamentação. Com pagamento de impostos, claro.
CONCLUSÃO – Sou forçado a concluir, diante do ninho de esperanças e desesperanças das pesquisas eleitorais, que é chegada a hora de legalizarmos a corrupção. Segundo os extravagantes critérios morais em vigor, ela alcançou entre nós um nível de tolerância, quando não os aplausos de fã-clube, que tornou rotunda “hipocrisia” combatê-la. Com a legalização, os tributos estabelecidos permitirão que, em vez de perdermos 100%, recuperemos uma boa terça parte do que nos levam. E os mercados dormirão em paz.
São tolices que fazem lembrar Tito Lívio, sobre a Roma de seu tempo: “Chegamos a um ponto em que já não podemos suportar nossos vícios nem os remédios que os poderiam curar”.

03 de outubro de 2018
Percival Puggina
Gazeta do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário