Desde a eleição indireta de 1985, a cúpula do poder militar nunca esteve tão atenta a uma corrida presidencial quanto na disputa deste ano. Depois de perder prestígio nas três décadas posteriores ao fim da ditadura, as Forças Armadas enxergam uma oportunidade de recuperar influência institucional e política.
Integrantes da ativa e da reserva monitoram o que classificam como um ambiente de instabilidade em torno da eleição. A deterioração dos partidos e de líderes políticos na crise aberta pela Lava Jato faz com que parte deles projete a continuidade dessa tensão mesmo com a formação do novo governo em 2019.
CONTRARIEDADE – É especialmente indisfarçável a contrariedade de figurões da caserna com a esquerda e com o ex-presidente Lula. A quase soltura do petista há três domingos e o protesto do grupo que jogou tinta vermelha no Supremo são tratados (exageradamente) como articulações perigosas.
O primeiro passo desta nova etapa da marcha política dos militares foi dado em abril. Não foi acidente a mensagem pública em que o comandante do Exército, general Villas Boas, manifestou “repúdio à impunidade” na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula no STF.
Desde então, Villas Boas recebeu dez pré-candidatos à Presidência. Só não esteve com Guilherme Boulos (PSOL), que declarou que não aceitaria o convite. A prática é incomum: em 2014, o comandante Enzo Peri não incluiu na agenda nem um cafezinho com postulantes ao Planalto.
ALINHAMENTO – Na ponte que liga os quartéis aos palácios, observa-se um alinhamento nítido entre a tropa e Jair Bolsonaro (PSL), que vai além do discurso de repulsa à corrupção. Os militares, que subiram degraus no governo Michel Temer, ganhariam mais peso ao lado de um ex-colega de farda.
Não há zumbido de golpe no topo da hierarquia. As prioridades são um orçamento polpudo para reequipar as Forças, uma blindagem à Previdência das tropas e espaços no poder. Depois que Temer instalou dois militares em seu ministério, não se cogita bater em retirada.
31 de julho de 2018
Bruno Boghossian
Folha
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