No infindável debate sobre reajustes salariais, alguns argumentam que um salário mínimo mais alto fornece um estímulo à economia como um todo. Igualmente, sindicatos alegam que sua política de pressionar patrões a elevar continuamente os salários é benéfica para toda a economia.
Se trabalhadores receberem salários maiores, segue a lógica, irá haver mais dinheiro para gastar, e o aumento do gasto irá turbinar todo o comércio e indústria do país, gerando mais emprego e mais renda para todos, como se fosse um moto-perpétuo.
(Ainda sobre isso, é bastante comum ouvir a imprensa hilariamente dizendo que um aumento do salário mínimo "irá injetar mais dinheiro" na economia — como se empresas e empregadores fossem um Banco Central com capacidade de criar dinheiro do nada e colocar esse dinheiro para circular na economia).
Quando não estão apelando à luta de classes, à teoria da exploração e à mais-valia, sindicalistas e sociólogos defensores de aumentos salariais forçados recorrem à simplória frase de que "Quando há mais dinheiro nas mãos do povo, isso estimula todos os setores da economia".
Já outros ao menos reconhecem que aumentos salariais forçados geram desemprego para os menos qualificados, aqueles cuja produtividade e valor gerado para o empregador são menores que o valor do novo salário estipulado ou pelo governo ou pelos sindicatos. Ainda assim, tais pessoas afirmam que "o benefício para aqueles que receberam o aumento salarial e o benefício para a economia trazido pelo aumento no consumo superam as perdas marginais de empregos".
Mas o fato é que um salário mínimo maior ou aumentos salariais impostos por sindicatos não têm como ajudar a economia. Eles representam custos adicionais à produção.
Pelo bem do debate, vamos aqui ignorar a perda de empregos gerada por aumentos salariais que superam a produtividade do empregado. Por mais óbvio que seja o fato de que você não irá pagar R$ 1.760 (salário mínimo mais encargos sociais e trabalhistas) para quem produz menos que isso, deixemos de lado esse detalhe.
Deixemos de lado também o fato de que um eventual aumento no consumo por aqueles que mantêm os seus empregos e agora recebem salários maiores será, pelo menos parcialmente, contrabalançado pela diminuição do consumo daqueles que perderam seus empregos e daqueles que deixaram de ser contratados por causa desse maior custo trabalhista.
Vamos aqui nos concentrar apenas na afirmação de que há um aumento do consumo por aqueles que agora, por imposição do governo e de sindicatos, recebem salários maiores.
O eventual aumento do consumo dessas pessoas equivale um maior consumo geral?
Não, não equivale.
Esse dinheiro adicional que essas pessoas estão recebendo tem de estar vindo de algum lugar.
Para começar, os salários mais altos que agora os empregadores são obrigados a pagar representam um custo de produção maior. Elevar custos de produção é algo que, por definição, não pode ser benéfico para uma economia. Trata-se de um dinheiro que empreendedores poderiam utilizar de outra maneira, seja na ampliação de seus investimentos, seja na reposição de seus estoques, seja na manutenção de seus equipamentos e instalações, seja na aquisição de melhore equipamentos, seja na expansão de seus negócios, seja até mesmo no salário de um trabalhador adicional.
Mais gastos salariais impostos por governo ou sindicato significam mais custos operacionais. Mais custos operacionais significam menos lucros líquidos. Menos lucros líquidos significam menos investimentos e menos contratações. Menos investimentos significam redução da oferta de bens e serviços disponíveis. Menos bens e serviços disponíveis significam aumento de preços. Aumento de preços significa que eventuais aumentos salariais de nada adiantaram.
Igualmente, menos contratações significam mais desemprego. E agora os desempregados estão em um ambiente com mais inflação de preços, pois a oferta de bens e serviços foi reduzida.
Normalmente, a réplica ao raciocínio acima é que o empregador que não concedesse aumentos salariais forçados iria apenas simplesmente embolsar os lucros, sendo ele o único privilegiado. Outro erro.
Mesmo que o empregador apenas mantivesse o dinheiro como lucro, ele não iria colocá-lo debaixo de um colchão; ele iria investir, de alguma forma, ou numa conta bancária ou em ações de uma empresa. Nesse caso, o banco normalmente iria emprestar o dinheiro a alguém que iria ou investi-lo ou gastá-lo. Igualmente, o vendedor de ações iria gastar esse dinheiro de alguma outra forma. Independentemente do que será feito, o fato é que o dinheiro seria gasto. E aumentar o gasto é exatamente o que querem os defensores de aumentos salariais forçados.
Por isso, aumentos salariais estipulados por governo e sindicatos não aumentam o consumo geral: apenas mudam quem gasta o dinheiro e no que ele é gasto.
Na melhor das hipóteses, o maior consumo se dá à custa da redução do lucro das empresas. Lucro esse que poderia ser reinvestido na compra de bens de capital modernos, que aumentariam a produtividade dos trabalhadores, e, consequentemente, seus salários.
A crença que aumentos forçados nos salários aumentam o consumo total é um claro exemplo do erro que Frédéric Bastiat aponta em seu ensaio "O que se vê e o que não se vê." O erro aqui é ver apenas o aumento no consumo pelos assalariados que recebem um salário maior, e ignorar a diminuição do consumo e do investimento dos empregadores que têm de pagar salários maiores. O ultimo fenômeno anula completamente o primeiro.
Conclusão
Mesmo que nenhum trabalhador seja demitido, aumentar forçosamente os salários ainda assim causa uma perda geral para a economia, pois se está aumentando os custos de produção. Custos de produção artificialmente maiores geram redução na produção.
Suponha, por exemplo, que um poderoso sindicato estipule uma elevação salarial. Suponha também que, quando o salário é elevado, um empregador não demita nenhum funcionário menos produtivo e capacitado. Seu agora maior custo com esses funcionários pouco produtivos ocorre em detrimento de novos investimentos que poderiam ter sido feitos. Um dinheiro que poderia ter sido gasto na troca de equipamentos e maquinários antigos agora é gasto com salários.
Embora o gasto total na economia tenha se mantido igual, a produção total irá diminuir, pois os empregados agora têm de trabalhar com equipamentos antigos em vez de novos, sendo portanto incapazes de produzir mais. O aumento do salário resultou em menos bens e serviços disponíveis para as pessoas.
Salários artificialmente maiores em conjunto com uma menor oferta de bens e serviços significam preços mais altos e, consequentemente, juros maiores.
Não existe mágica em economia. O que permite aumentos salariais é uma maior produtividade. E maior produtividade só é possível quando há bens de capital que tornam o trabalho humano mais eficiente e produtivo.
Salários maiores estipulados arbitrariamente por governos e sindicatos não têm como melhorar a economia.
17 de maio de 2018
Diversos autores
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Howard Baetjer Jr. é professor de economia da Towson University e seminarista do Institute for Humane Studies. Ele é o autor de Free Our Markets: A Citizens' Guide to Essential Economics.
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