Os investigadores do inquérito dos portos, que tem entre os alvos o presidente Michel Temer, miram uma nova linha de investigação: informações prestadas pelo advogado Flávio Calazans na delação premiada. Ele revelou que seu escritório serviu como centro de lavagem de dinheiro para Milton Lyra, apontado como operador do MDB. As operações, segundo Flávio Calazans, eram para Lyra “gerar caixa” para o esquema, e, por isso, “o dinheiro entrava na conta do escritório”.
Em nota, a defesa afirmou que Lyra “nunca fez ou mandou fazer qualquer depósito em favor do escritório de Flávio Calazans.”
NÃO ADVOGA – Apesar de Flavio Calazans integrar um escritório de advocacia, ele é somente bacharel em direito. A OAB de São Paulo procurou o blog para informar que ele não é registrado na entidade como advogado.
O dinheiro, segundo a delação, foi repassado pela empresa Pérola, do Grupo Rodrimar. O grupo, do setor portuário, é alvo do inquérito dos portos. A PF suspeita que um decreto assinado por Temer em 2017 beneficiou a empresa.
Esse repasse da Pérola, segundo a delação premiada, entrou na conta do escritório de Calazans entre 18 de junho de 2014 e 20 de março de 2015, em dez transferências mensais, no valor de R$ 37.500 cada uma.
DELAÇÃO PREMIADA – As informações constam no acordo de colaboração de Calazans, que foi adicionado no inquérito dos Portos. O depoimento do advogado foi incluído a pedido do Ministério Público Federal. Agora, a Polícia Federal enviou as informações para análise.
O blog obteve acesso ao depoimento, prestado pelo advogado no dia 26 de março deste ano, na sede da Procuradoria Geral da República em São Paulo.
No acordo, Calazans diz que “existia uma conta-corrente de operações entre ele e Victor Colavitti e Rodrigo Britto, sendo que o dinheiro que entrava na conta do escritório saía, imediatamente, ou alguns dias após, para contas indicadas por Rodrigo e Victor”.
INTERMEDIÁRIO – No depoimento, Rodrigo e Victor foram apontados por Calazans como intermediários de Lyra. “Afirma que 90% das operações realizadas por Victor e Rodrigo eram operações para Milton Lyra, sendo que precisavam ‘gerar caixa’ e, por isso, o dinheiro entrava na conta do escritório e 97% a 95% era devolvido às contas por eles indicadas”, diz um trecho do depoimento do advogado.
Lyra é citado em delações premiadas devido à relação com políticos. Em abril, ele teve a prisão decretada no âmbito da Operação Rizoma, que investiga prejuízos no Postalis, fundo de pensão dos funcionários nos Correios. Ele é suspeito de envolvimento no esquema que desviou recursos do fundo. Em maio, o ministro Gilmar Mendes, do STF, mandou soltar Lyra.
Sobre o repasse do Grupo Pérola, o delator apontou a existência de um grupo de empresas do setor marítimo e de portos que recebeu solicitações de Rodrigo Britto para realizarem operações financeiras.
CONTRATOS FALSOS – Calazans também disse que se reuniu com Rodrigo Brito, no escritório, dele, na Avenida Faria Lima, em meados de 2014, quando foram acertadas as operações”. Segundo o advogado, Brito elaborou minutas de contratos com as empresas em questão, “os quais eram fictícios, mas serviriam para dar suporte aos recebimentos”.
Calazans informou também que chegou a se encontrar com Ricardo Mesquita, executivo da Rodrimar, no escritório de Rodrigo Brito, mas disse que ele não participou de reunião sobre operações.
O nome da Rodrimar surgiu no meio das investigações feitas a partir da delação da JBS. A empresa é especializada em comércio exterior, atua no setor de portos, com base em Santos. Ricardo Mesquita, então executivo da empresa, apareceu no café onde o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, do MDB, que ficou conhecido como “homem da mala da JBS”, se reuniu com o executivo da J&F, Ricardo Saud.
24 de maio de 2018
Andréia Sadi e Marcelo Parreira
G1 Brasília
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