A Justiça Federal decidiu manter as prisões preventivas do ex-diretor de engenharia da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, e apontado como operador de recursos do PSDB, e de José Geraldo Casas Vilela, ex-gerente da estatal paulista, porque os dois estariam por trás de ameaças que uma ex-funcionária da empresa diz ter sofrido. Ela também é ré no processo em que os três são acusados de formação de quadrilha, peculato (apropriação ou subtração de bem) e inserção de dados falsos em sistema público de informação.
A vítima das coações, cuja identidade é preservada pela Justiça, tem colaborado com a investigação feita pela força-tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo. A ré atribui a Paulo Preto e a Vilela três ameaças sofridas entre 2015 e 2016, inclusive uma ameaça velada de morte.
AGRESSÃO – Em um dos episódios, ela disse que foi agredida. A juíza federal Maria Isabel do Prado entendeu que a liberdade dos dois acusados representaria “imediato risco à colheita das provas testemunhais”. Ambos negam envolvimento com as ameaças.
Paulo Preto foi preso pela Polícia Federal na última sexta-feira (6). Daniel Bialski, seu advogado, alega que o cliente nunca ameaçou nem mandou ameaçar a ré. Geraldo Vilela entregou-se à polícia no mesmo dia. O advogado Fernando Agrela Araneo, que o representa, também alegou que seu cliente não tem ligação com as supostas ameaças. Os dois advogados entraram nesta quinta-feira (12) com pedidos de habeas corpus para tentar a soltura dos clientes.
A denúncia da Lava Jato indica que quase 1.800 pessoas foram incluídas indevidamente em programas de reassentamento de famílias desalojadas por grandes obras viárias do Dersa, o que resultou em um desvio de R$ 7,7 milhões (valor sem correção) entre os anos de 2009 e 2011.
COMANDANTE – Paulo Preto é apontado pelo Ministério Público Federal como o comandante do esquema. A psicanalista Tatiana Arana Souza Cremonini, que é filha dele, e a irmã da ex-funcionária da Dersa também foram denunciadas pela força-tarefa.
As obras investigadas são o trecho sul do Rodoanel, o prolongamento da avenida Jacu Pêssego e a Nova Marginal Tietê, na região metropolitana de São Paulo.
De acordo com documentos do processo disponíveis no site da Justiça Federal, a ex-funcionária da estatal contou ao Ministério Público Federal que Geraldo Vilela trabalhava a mando de Paulo Preto e que ambos a pressionavam a “conseguir nomes para serem inseridos no sistema como se fossem nomes de moradores do traçado da obra”.
NA PRAÇA DA SÉ – “A pressão era tão grande que Geraldo dizia que quem não tinha CPF de amigo ou familiar para indicar tinha que arrumar na [praça da] Sé um CD com números de CPF.” Ela relatou que, em fevereiro de 2015, recebeu de Vilela uma oferta inicial de R$ 87,3 mil para assumir a culpa pelos desvios na Dersa. A ré afirmou que, logo depois disso, começou a receber ameaças que atribui a Paulo Preto e a Vilela em função do teor de seus depoimentos nas investigações feitas pela própria estatal e pelo Ministério Público estadual.
Em março daquele ano, disse a ré, um desconhecido a abordou na rua e falou “você é o arquivo vivo da Dersa e cuidado para não ser o arquivo morto”.
Ela afirmou que, em junho de 2015, foi empurrada por um homem logo após ser demitida da Dersa. A ex-funcionária teria caído no chão e machucado o braço. “Você tem a língua grande”, teria dito o agressor.
MULHERES DO PCC – Em março de 2016, outro desconhecido chamou-a pelo nome na rua e disse que ela seria presa e que na prisão iria conhecer as mulheres do PCC (a facção criminosa Primeiro Comando da Capital).
Depois deste episódio, ela disse que mudou de endereço várias vezes, hospedando-se na casa de amigos, e que até hoje se sente ameaçada.
Em sua decisão, a juíza Maria Isabel do Prado afirmou que os cuidados tomados pela ex-funcionária para não ser localizada podem ter evitado novas coações. “A manutenção da prisão não apenas é necessária em proteção da ré colaboradora, mas também para preservação do livre e espontâneo depoimento das 17 testemunhas arroladas pela acusação, havendo entre elas diversos funcionários da empresa Dersa”, acrescentou a juíza.
FALSOS MORADORES – A magistrada realçou o risco para as testemunhas citando o fato de uma pessoa ter mudado o teor de seu depoimento entre 2015 e 2017.
Trata-se de uma babá que trabalhou para a filha de Paulo Preto. Inicialmente, ela afirmou que recebeu um imóvel destinado a famílias removidas por uma obra da Dersa sem que fosse moradora de área. Depois, recuou e disse que morava na região desde 2006.
A denúncia da Lava Jato aponta que seis funcionárias da família de Paulo Preto, incluindo três babás, estão entre os 1.800 nomes inseridos indevidamente no cadastro de beneficiados da Dersa.
De acordo com o Ministério Público Federal, Paulo Preto e Vilela podem ser condenados a penas de 15 anos a 81 anos de prisão mais o agravante do crime continuado. Por colaborarem com a investigação, a ex-funcionária da Dersa e a irmã dela podem ser beneficiadas com uma redução de um a dois terços da pena.
DINHEIRO NA SUÍÇA – Documentos obtidos pelo Ministério Público Federal revelam que Paulo Preto tinha R$ 113 milhões em contas bancárias na Suíça. Ele também é investigado em inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a suspeita de ser operador do senador José Serra (PSDB-SP) em desvios de recursos do Rodoanel.
Na audiência de custódia da última sexta, ele procurou rechaçar a acusação. “Eu não sou nem do partido (PSDB). Sou gestor público”, afirmou Paulo Preto, que está preso no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
13 de abril de 2018
Wellington Ramalhoso
Folha
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