Na nossa época de informação onipresente, é fácil procurar a biografia de uma celebridade ou de um político, uma vez que a história está melhor preservada do que nunca. Infelizmente, nem sempre foi assim. Os fatos sobre muitas figuras históricas não foram escritos até anos – às vezes décadas ou mesmo séculos – depois de supostamente viverem. Dada esta quantidade de tempo, a evidência da própria existência do indivíduo pode ter se deteriorado completamente, além das próprias histórias.
Com isso em mente, abaixo estão alguns exemplos de pessoas famosas cujos nomes você vai reconhecer, mas que muito provavelmente nunca existiram, pelo menos em sua forma popular.
Jesus
Os pesquisadores que se dedicaram ao estudo das origens do cristianismo sabem que, desde o Século II de nossa era, tem sido posta em dúvida a existência de Cristo. Muitos até mesmo entre os cristãos procuram provas históricas e materiais para fundamentar sua crença. Infelizmente, para eles e sua fé, tal fundamento jamais foi conseguido, porquanto, a história cientificamente elaborada denota que a existência de Jesus é real apenas nos escritos e testemunhas daqueles que tiveram interesse religioso e material em prová-la.
Desse modo, a existência, a vida e a obra de Jesus carecem de provas indiscutíveis. Nem mesmo os Evangelhos constituem documento irretorquível. As bibliotecas e museus guardam escritos e documentos de autores que teriam sido contemporâneos de Jesus, os quais não fazem qualquer referência ao mesmo. Por outro lado, a ciência histórica tem-se recusado a dar crédito aos documentos oferecidos pela Igreja, com intenção de provar-lhe a existência física. Ocorre que tais documentos, originariamente, não mencionavam sequer o nome de Jesus; todavia, foram falsificados, rasurados e adulterados visando suprir a ausência de documentação verdadeira.
Uma pesquisa recente na Inglaterra, por exemplo, descobriu que cerca de 40% da população daquele país não acreditava que Jesus fosse uma pessoa real. Se fosse, Jesus provavelmente teria sido um homem que viveu durante a ocupação romana do atual Israel. Um pregador judeu com muitos seguidores, que as autoridades romanas, eventualmente, executaram. Se ele realizou todos os feitos divinos descritos na Bíblia está aberto à interpretação religiosa individual. No entanto, se ele era divino, um homem comum, ou uma figura mitológica, ele certamente está entre os indivíduos mais influentes da história.
Sócrates
Sócrates é uma espécie de mito pois não se conhece nada escrito por ele nem se sabe direito onde e quando viveu boa parte da vida. Provavelmente, nasceu, viveu e morreu em Atenas, entre 469 e 399 A.C.
Também como Jesus, suas palavras foram registradas postumamente por seus seguidores e o dever para os historiadores é classificar quantas das contas de sua vida são precisas ou plausíveis.
Ele escolheu não escrever, para ser coerente com sua filosofia, mas por outro lado há evidências documentais suficientes de seus alunos (Alcibiades, Antisthenes, Isocrates, Xenofonte, Platão) e outros contemporâneos (Aristophanes, Gorgias, Critias, Eurípides, Sófocles, Diógenes, Prodicus) que ele existia.
Praticamente, tudo que se conhece sobre Sócrates vem dos escritos de Platão, que foi seu discípulo. Aristófanes pôs Sócrates em algumas de suas peças. Temos, portanto, que acreditar nas versões desses contemporâneos para conhecer sobre a vida e a obra de Sócrates.
Shakespeare
Como é possível que um plebeu provinciano tenha se tornado um dos escritores mais prolíficos, mundanos e eloquentes da história? Até mesmo no início da carreira, Shakespeare contava histórias que exibiam conhecimento profundo sobre assuntos internacionais, capitais europeias e história, assim como familiaridade com a corte real e a alta sociedade. As mais de 40 peças e 154 sonetos apresentam um vasto conhecimento em diversas áreas, como política, geografia e latim – sendo que Shakespeare só teria passado apenas cinco ou seis anos na escola, segundo historiadores. Além disso, as obras utilizam mais de 29 mil palavras diferentes, um vocabulário maior que o do dicionário de inglês da época.
Por essa razão, alguns teóricos sugeriram que um ou vários autores que queriam esconder sua verdadeira identidade usaram a pessoa de William Shakespeare como fachada. Os candidatos incluem Edward de Vere, Francis Bacon, Christopher Marlowe e Mary Sidney Herbert.
A maioria dos estudiosos e historiadores da literatura continuam céticos com relação a essa hipótese, embora muitos suspeitem que Shakespeare, às vezes, tenham colaborado com outros dramaturgos. Por outro lado também era comum um dramaturgo se inspirar em outro ou mesmo escrever a quatro ou mais mãos. Quando um texto era vendido para uma companhia de teatro, ele não pertencia mais aos autores.
Aleijadinho
Para algumas pessoas, o artista Antônio Francisco Lisboa não passa de uma lenda. O historiador paulista Dalton Sala é autor de uma tese de doutorado em que afirma que Aleijadinho é um mito criado pelo Estado Novo, comandado pelo presidente Getúlio Vargas. Para Sala, o mito foi criado para a construção da identidade nacional, como foi Tiradentes, sendo um protótipo do brasileiro típico: superou as dificuldades por meio da criatividade.
Waldemar de Almeida Barbosa, no livro O Aleijadinho de Vila Rica, apresenta algumas contradições na vida do artista, como a indefinição da data de seu nascimento, mas não nega a existência do artista. Barbosa apresenta a biografia de Rodrigo Bretas e conclui que ele não poderia ser pessoa leviana: “Devia, ao contrário, ser reto, merecedor de confiança”. No capítulo Lendas e Exageros, Waldemar Barbosa apresenta equívocos relativos à vida e à obra de Aleijadinho, como obras da igreja de São Francisco, de Mariana – o artista não trabalhou nesta igreja. Há ainda obras em Caeté atribuídas ao Aleijadinho, mas o mestre nunca esteve nessa localidade.
Homero
Homero foi um poeta grego, autor de dois épicos mitológicos: Odisséia e Ilíada. Apesar da popularidade e importância desses livros, Homero continua envolto em mistérios. Por um lado, acredita-se que Homero não é o verdadeiro autor dessas obras, que de acordo com o historiador Adam Nicolson, teriam precedido seu suposto autor em, mais ou menos, mil anos. Outros dizem que Homero era cego, enquanto alguns afirma que era, na verdade, uma mulher. Não apenas, alguns historiadores também acreditam que Homero era um grupo de estudiosos gregos.
Provavelmente nunca saberemos se essas personalidades famosas realmente existiram ou não. Mas, de uma coisa temos certeza, seus legados permanecerão. E para encerrar (ou apimentar) a discussão, Carlos Drummond de Andrade escreveu:
“Aleijadinho, simples mito?
Nunca existiu? Tanto melhor.
Shakespeare também, e é infinito.
Homero é o tal. Fica maior.”
O que você acha sobre a existência (ou não existência) desses famosos? Quais outros deveriam estar na lista? Compartilhe suas ideias nos comentários!
12 de abril de 2018
arteref.com/arte
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