Deu no “Estadão”: “Três múmias encontradas na Cordilheira dos Andes em 1999 foram usadas na defesa do jogador peruano Paolo Guerrero diante das acusações de doping nas eliminatórias para a Copa da Rússia”. Guerrero, como se sabe, foi suspenso por terem encontrado em seu xixi, depois de um jogo pelo Peru, vestígios da substância ilícita benzoilecgonina, “um metabólito comum à cocaína e à folha de coca”. As múmias, velhas de 500 anos, tinham folhas de coca entre os dentes e também acusavam a substância. Isso demonstra que a droga encontrada em Guerrero não se referia necessariamente a uso antes do dito jogo.
Fico me perguntando se o futuro terá solicitações a ponto de, um dia, precisar buscar provas em algo cometido por nossos contemporâneos – pessoas, por exemplo, como Lula, Michel Temer, Aécio Neves, José Sarney, Paulo Maluf.
SEM QUEBRAR – Tal busca não dependerá da sobrevivência desses indivíduos como múmias. Se, hoje, um fio de cabelo ou milímetro de unha já é suficiente para se levantar o DNA completo de alguém, imagine em 500 anos – a simples menção de seus nomes para uma máquina permitirá saber muito mais sobre eles do que pensamos conhecer hoje, com a Lava Jato e tudo.
Minha preocupação é sobre o juízo que o futuro fará de nós se eles resolverem pesquisar os citados. Com certeza se interessarão em saber como um mesmo país conseguiu produzir –e na mesma época!– pessoas tão semelhantes em ambição, cinismo, caráter (ou falta de), capacidade de iludir e desfaçatez pela coisa pública. Seria alguma coisa na atmosfera ou na água? Talvez organizem expedições às ruínas de Brasília, assim como, hoje, escavamos o Egito em busca das tumbas dos faraós.
Mas acho que o que mais os impressionará será: como o Brasil conseguiu não quebrar para sempre, tendo essa turma no poder?
04 de janeiro de 2018
Ruy Castro
Folha
Ruy Castro
Folha
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