Na reta final do julgamento do escândalo de corrupção na Fifa, nesta segunda-feira (dia 11), a defesa do ex-presidente da CBF José Maria Marin resolveu trazer à tona o atual presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, e comparar sua situação à de Marin. Ambos os dirigentes são acusados pela Justiça dos Estados Unidos de cobrarem propina de empresas de marketing esportivo em troca de contratos com a confederação.
Marin, que está em julgamento, vive em prisão domiciliar em Nova York. Já Del Nero, atual presidente da CBF, não viaja para o exterior desde seu indiciamento, em dezembro de 2015, e foi o único presidente de confederação a não ir ao sorteio dos grupos da Copa da Rússia.
SEMPRE JUNTOS – Na sessão desta segunda-feira, fotos de Marin e de Del Nero, que era vice-presidente da CBF na gestão de Marin, foram exibidas aos jurados. Os dois aparecem dividindo palcos em cerimônias oficiais, num jatinho rumo a uma reunião da Conmebol, e fazendo o “V da vitória”, junto com Juan Ángel Napout, dirigente da confederação paraguaia que também é réu no processo.
“Quase sempre eles [Marin e Del Nero] estavam juntos”, disse o advogado James Mitchell, que defende Marin. Ele interrogava o investigador da Receita Federal americana Steve Berryman, que é testemunha de acusação e depõe desde a última quinta (7).
Para Mitchell, a conduta da Fifa com Marin, que foi banido da instituição, não foi a mesma com Del Nero, e isso contraria a suposta política de “tolerância zero” da entidade contra corrupção e fraude. Eles frequentavam as mesmas reuniões e estavam sujeitos ao mesmo código de ética, argumentou o defensor.
LINHA DE DEFESA – A juíza Pamela Chen, porém, interrompeu as perguntas, retirou os jurados da sala, ouviu as partes e decidiu que não iria permitir a linha de argumentação, por considerar que ela não prova nada sobre os fatos contra Marin, e que a Fifa e seu posicionamento em relação aos investigados não está em jogo.
A magistrada chegou a afirmar que isso só provaria que “Del Nero tem mais amigos em esferas superiores do que Marin”.
Nas duas horas de interrogatório, Mitchell também fez perguntas sobre a conta da Firelli Internacional, pertencente a Marin e baseada no exterior, que teria recebido US$ 2 milhões em transações de propina, segundo a acusação.
LAVAGEM DE DINHEIRO – O investigador Steve Berryman detalhou as transações de lavagem em seu depoimento, que já dura três dias. A acusação havia mostrado despesas de US$ 118 mil com roupas de grife, feitas pela conta Firelli em lojas de Paris, Las Vegas e Nova York.
O advogado destacou a existência de documentos que revelem os beneficiários da conta, sediada no banco Morgan Stanley, nos EUA. Disse que a investigação recebeu toda a documentação bancária em menos de dez dias, assim que obteve os mandados judiciais. “Estava claro para o banco que o sr. Marin era associado a essa conta”, afirmou Mitchell, argumentando que Marin era “um homem muito rico” antes mesmo de virar presidente da CBF, por ser dono de negócios imobiliários e de estações de rádio.
A previsão é que os jurados comecem a deliberar até o fim dessa semana, com o encerramento das testemunhas e as considerações finais das partes.
13 de dezembro de 2017
Estelita Hass Carazzai
Folha
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