Triste afirmar, mas o Brasil está à deriva, com a cidadania assemelhada a náufragos, flutuando aos caprichos da sorte e do imprevisível.
Algo nunca visto em nossa história política: já às vésperas das eleições gerais e não há nomes consistentes lançados para presidência da República e governador de estado.
O desejo coletivo é que surja nesse deserto, um líder do tipo comandante Ernest Shackleton, descrito no livro de Alfred Lansign, que mesmo com o navio à deriva na Antártida, destruído pelos bancos de gelo do mar de Weddell, conseguiu conduzir os seus comandados à sobrevivência.
Muito recordam Diógenes, que vagava pelas ruas de Atenas, com uma lanterna buscando “a “verdade” ou “um homem honesto”.
Tripulantes dessa embarcação chamada Brasil, todos nós navegamos em agitadas correntes marinhas.
O dado preocupante é a corrosão dos três poderes: o executivo, maculado pela corrupção; o judiciário, ora intimidado pelas pressões, ora protagonista de cenas grotescas, como confrontos de baixo nível entre magistrados; e o legislativo, com a marca cumulativa da omissão e da submissão.
Há exceções, porém poucas.
Como desejamos permanecer numa sociedade democrática, a saída terá que ser via classe política.
Qualquer improviso agravará a crise e conduzirá ao inadmissível regime autoritário.
Nessa ótica, volta a prevalecer o pessimismo, quando se vê o recente papelão do PSDB, um partido que nasceu em 1988 com dissidentes do PMDB, discordantes de práticas fisiológicas, no governo Sarney.
Passaram-se 30 anos, e o PSDB, que seria uma esperança na eleição de 2018, volta a ser o que o PMDB era em 1988.
O senador Aécio Neves, que na vida pública já nasceu dentro de “carro chapa branca”, mesmo acossado como está, implodiu o seu próprio partido.
Ao “destituir” com mão de ferro um dos poucos homens públicos de credibilidade, o senador Tasso Jereissati, assemelhou o seu tresloucado gesto ao incitamento de um suicídio político dos tucanos, em praça pública, na cidade de Brasília, DF.
Do ponto de vista político-eleitoral, Aécio ajuda a volta do ex-presidente Lula, ao inviabilizar a oposição.
Aliás, nesse particular, outro “colaborador” no retorno de Lula, caso possa ser candidato, é o governo Temer, quando insiste em “dosagens exageradas” na proposição de mudanças, que mesmo necessárias, provocam impactos sociais desfavoráveis e comprometedores, sobretudo em relação à classe média, servidores, pequenos e médios empresários, assalariados, aposentados e trabalhadores, todos chamados para “pagar o pato”.
Temer “abriu os braços” e foi engolido, em certas ocasiões, pela ganância do mercado, impondo para tudo e para todos as “leis da oferta e da procura”, transformando o seu governo em “rua de mão única”.
Como “a dor ensina a gemer”, a escassez de apoio no Congresso leva o governo a aplicar a regra da prudência em relação à reforma da previdência, aceitando que “qualquer reforma será melhor do que nada”.
Mesmo diante do abismo em que se encontra o país e a urgência de certas reformas, é necessário seguir o conselho de Montaigne, de que às vezes somente existe uma maneira de andar para frente: “é dar um passo atrás”!
15 de novembro de 2017
Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal
Algo nunca visto em nossa história política: já às vésperas das eleições gerais e não há nomes consistentes lançados para presidência da República e governador de estado.
O desejo coletivo é que surja nesse deserto, um líder do tipo comandante Ernest Shackleton, descrito no livro de Alfred Lansign, que mesmo com o navio à deriva na Antártida, destruído pelos bancos de gelo do mar de Weddell, conseguiu conduzir os seus comandados à sobrevivência.
Muito recordam Diógenes, que vagava pelas ruas de Atenas, com uma lanterna buscando “a “verdade” ou “um homem honesto”.
Tripulantes dessa embarcação chamada Brasil, todos nós navegamos em agitadas correntes marinhas.
O dado preocupante é a corrosão dos três poderes: o executivo, maculado pela corrupção; o judiciário, ora intimidado pelas pressões, ora protagonista de cenas grotescas, como confrontos de baixo nível entre magistrados; e o legislativo, com a marca cumulativa da omissão e da submissão.
Há exceções, porém poucas.
Como desejamos permanecer numa sociedade democrática, a saída terá que ser via classe política.
Qualquer improviso agravará a crise e conduzirá ao inadmissível regime autoritário.
Nessa ótica, volta a prevalecer o pessimismo, quando se vê o recente papelão do PSDB, um partido que nasceu em 1988 com dissidentes do PMDB, discordantes de práticas fisiológicas, no governo Sarney.
Passaram-se 30 anos, e o PSDB, que seria uma esperança na eleição de 2018, volta a ser o que o PMDB era em 1988.
O senador Aécio Neves, que na vida pública já nasceu dentro de “carro chapa branca”, mesmo acossado como está, implodiu o seu próprio partido.
Ao “destituir” com mão de ferro um dos poucos homens públicos de credibilidade, o senador Tasso Jereissati, assemelhou o seu tresloucado gesto ao incitamento de um suicídio político dos tucanos, em praça pública, na cidade de Brasília, DF.
Do ponto de vista político-eleitoral, Aécio ajuda a volta do ex-presidente Lula, ao inviabilizar a oposição.
Aliás, nesse particular, outro “colaborador” no retorno de Lula, caso possa ser candidato, é o governo Temer, quando insiste em “dosagens exageradas” na proposição de mudanças, que mesmo necessárias, provocam impactos sociais desfavoráveis e comprometedores, sobretudo em relação à classe média, servidores, pequenos e médios empresários, assalariados, aposentados e trabalhadores, todos chamados para “pagar o pato”.
Temer “abriu os braços” e foi engolido, em certas ocasiões, pela ganância do mercado, impondo para tudo e para todos as “leis da oferta e da procura”, transformando o seu governo em “rua de mão única”.
Como “a dor ensina a gemer”, a escassez de apoio no Congresso leva o governo a aplicar a regra da prudência em relação à reforma da previdência, aceitando que “qualquer reforma será melhor do que nada”.
Mesmo diante do abismo em que se encontra o país e a urgência de certas reformas, é necessário seguir o conselho de Montaigne, de que às vezes somente existe uma maneira de andar para frente: “é dar um passo atrás”!
15 de novembro de 2017
Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal
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