"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A CAUSA PÚBLICA

O historiador José Murilo de Carvalho foi buscar em Aristides Lobo, propagandista da República, o desapontamento do povo que assistira bestializado à Proclamação da República, sem compreender o que se passava, julgando ver talvez uma parada militar... E vai Carvalho referir a outra frase, tristemente famosa, de Louis Couty, sábio francês aqui residente: “O Brasil não tem povo”.

Ou o povo que tem, ao que parece, continua bestializado.

O brilhante José Murilo de Carvalho garimpa Artur Azevedo em O Tribofe de 1892:

“Das algibeiras some-se o cobre, como levado por um tufão:

Carne de vaca não come o pobre, qualquer dia não come pão.”

O que fizemos da República, da gestão da coisa pública? O que há a comemorar nesta data que marca o fim da monarquia e o advento da república? As instituições em crise, o federalismo em risco, a nação e a soberania sob ameaça.

A república é verdadeiramente república quando a coisa pública se confunde com a causa pública, no interesse de todos os cidadãos na expressão máxima da cidadania, e não no assalto nada republicano de piranhas ávidas e interesseiras ao naco maior da coisa pública.

Neste momento, o jogo corre e a geral, indulgente, está de costas. As elites, nas cadeiras de cima, a tudo assistem desinteressadas de seu papel nos destinos do país; a classe média – ou o que dela restou – apega-se à bóia do salve-se quem puder enquanto foge do assaltante da esquina, já que não pode fugir dos assaltantes de palácios. O “geraldino”, com o que sobra, vai tomar um pega-pinto ali no Zé da Gruta.

Às vésperas dos 130 anos da República, fica-se entre a débil crença na capacidade das elites para as reformas e a esperança nas forças populares para um 15 de novembro que venha valer a pena.

Mas, como dizem os filósofos: sejamos otimistas, deixemos o pessimismo para tempos melhores...

Há aí, quando os caminhos se fecham e até o passado parece incerto, a oportunidade de se repensar o Brasil, repassá-lo a limpo, convocando, nos 30 anos da Constituição de 88, uma ampla Revisão Constitucional para 2022.

A prudência recomenda um freio de arrumação institucional antes que um novo Lampião venha iluminar a noite e tirar o povo da apatia na qual foi jogado por falta de escolha.


15 de novembro de 2017
Eduardo Simbalista

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