Muito além das Conversas de Botequim
“Seu garçom faça o favor de me trazer depressa, uma delação que não seja requentada... Um escândalo bem quente e com prova à beça... E uma cerveja bem gelada... Fecha a porta da canhota, com muito cuidado, que não estou disposto a ficar exposto à corrupção... Vá perguntar ao seu freguês do lado, qual foi o resultado no tribunal... Telefone ao menos uma vez, para o otário grampeado da vez... E ordene, ao Temerário, que aguarde a denúncia que farei antes de deixar o escritório... Seu garçom me empreste algum dinheiro, porque o Geddel perdeu o meu e o do empreiteiro... E vá dizer ao ex-Presidente, que o Moro o não perdoa quem mente na sua frente”...
É Flórida... Estava monitorando o furacão irma, em tempo real, com um aplicativo climático, quando recebo a ligação do Negão da Chatuba, pt da vida com a derrota do Flamengo para o Botafogo. Antes da providencial reclamação, o Negão reproduziu esta paródia que ele jura ter psicografado do Noel Rosa. Comentei com o Afrodescendente flamenguista da Baixada Fluminense: “Esta sua Conversa de Botequim bem que podia ter sido cantarolada pelo Rodrigo Janot, enquanto tomava aquela deliciosa saideira com um advogado do Joesley, naquele encontro casual em um boteco de uma cidade que não tem esquina, como Brasília”. O Negão disse que só gostou da qualidade da foto indiscreta – que mais parecia uma propaganda gratuita das melhores marcas de cerveja...
Perguntei ao sapientíssimo Negão da Chatuba se ele não viu mais nada, além das caixas e canecas de louras geladas, naquela foto. Certamente, ali não se travou o papo esquisito do Joesley Batista com seu executivo Ricardo Saud, definido como “conversa de bêbados”... Será que Janot bebeu a cerveja “Miller”? Como não creio, consultei o Negão. Experiente juiz aposentado de futebol de várzea, Chatubão vestiu sua toga espiritual e, magistralmente, emitiu sua “interpretação” legal do casual encontro etílico: “Olha a cara do Janot... Ele só pode ter dado um recado para o causídico do chefão da JBS... Ou ele conta tudo que sabe de verdade, ou vai se transformar em um Marcelo Odebrecht ou Marcos Valério... O brinde foi para Joesley soltar o verbo, ou não ser solto tão cedo”...
Quem sabe o Negão da Chatuba acerta mais uma flechada no alvo... O franco atirador Rodrigo Janot, que agora parece estar “bem na foto” (incluindo aquela providencialmente vazada no botequim), deve consagrar sua última semana de trabalho armando alguma denúncia contra o Presidente Michel Temer e seus fieis escudeiros, os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha... Na saideira da PGR, Janot vai faturar o que puder da prisão provisória (que pode até virar preventiva) de Joesley e Ricardo... Janot também deve tirar algum proveito da temporada de Geddel Vieira Lima na Papuda... Aposta-se que o baiano, acuado, abra o bico sobre a companheirada do PMDB... Indiretamente, Janot tira outra casquinha do depoimento de Lula a Sérgio Moro, na quarta-feira...
Enquanto o dia 18 não chega, para que Janot se aposente e se prepare para virar escritor ou consultor empresarial em Compliance, o Procurador-Geral da República ficará de olho no comportamento de um poderoso desafeto: Gilmar Mendes... O supremo magistrado deixou muitos juristas, juízes, desembargadores e colegas ministros intrigados com um recente ofício enviado ao ministro da Justiça, Torquato Jardim. Gilmar mandou a Polícia Federal investigar uma reportagem da revista Veja, na qual a advogada Renata Gerusa Prado de Araújo, próxima ao grupo J&F, relatou uma conversa com Dalide Corrêa, uma funcionária do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), que pertence a Gilmar.
Gilmar ficou pt da vida ao ler na Veja que Dalide procurou Renata preocupada com a possibilidade de a delação dos executivos da JBS vir a comprometer o polêmico supremo magistrado. Na versão contada, Dalide também teria procurado a desembargadora Maria do Carmo Cardoso, do Tribunal Federal da 1ª Região, a quem manifestou a mesma preocupação. A magistrada é mãe da Renata. A advogada teria comentado que Dalide teria dito que Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico da JBS, seria a única pessoa capaz de frear eventuais implicações da delação dos executivos contra Gilmar.
O grupo J&F era patrocinador do Instituto de Gilmar. Tanto que o ministro mandou devolver R$ 650 mil “doados” para bancar um seminário que o IDP promoveu em Lisboa, no mês de abril. A devolução ocorreu 12 dias após a revelação de que executivos da JBS firmaram acordo de colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República. Fofocas brasilienses propagaram que Joesley Batista teria mandado avisar que não gostou do gesto de devolução do patrocínio...
O imperdoável Negão da Chatuba até me perguntou, entre uma olhada no furacão e outra molhada na palavra, muito injuriado com a vitória do Botafogo sobre o Mengão do Rueda: “Já imaginou o que pode acontecer se o sistema de sorteio do STF escalar Gilmar para avaliar um eventual pedido de soltura de Joesley? Será que o ministro, desta vez, se julgará impedido?”...
Encarei-o com severidade, olhei para o monitor meteorológico e sentei o dedo: “O furacão do Estado-Ladrão do Brasil causa mais estragos morais e materiais que o da Flórida... A Polícia Federal e o MPF já começaram a madrugada desta segunda-feira nas ruas... Quem quiser que já escolha o nome preferido de furacão, no meio da nossa infindável lista de bandidos... Aqui é Flórida, Negão da Chatuba”...
Releia o artigo: Domingão de Furacão... Em Brasília...
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Gritinhos secretos
Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus. Nekan Adonai!
11 de setembro de 2017
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.
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