"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

POR QUE O POVO ESCOLHE O "NOSSO CORRUPTO" AO APOIAR LULA?

Eis que temos Lula aparecendo em primeiro lugar nas pesquisas e avançando. Antes, vamos aos fatos.

Auditores são acostumados a lidar com indicadores inconsistentes ou enviesados, pois, mesmo assim, eles sempre dizem algumas coisas. O fato é que existem técnicas até mesmo para "marretar" os dados. "Marretar" significa dar uma ajeitada nos dados.

Pelo mesmo princípio, uma pesquisa enviesada (como são as pesquisas do Datafolha), sempre serve para alguma coisa. Mesmo que, como já disse, ela seja enviesada.

Ninguém é doido de meramente "inventar" os dados, pois isso seria absurdo e colocaria o órgão sob risco. Por isso, a "marretagem" entra para dar verossimilhança à armação. Basicamente, eles trabalham em cima da margem de erro, que é de 3% para cima ou para baixo.

Por exemplo, se Lula recebe 29% de aprovação e a agenda pede para ajudá-lo, dá para "marretar" para 32%. Se um candidato que eles não gostam tiver 15%, eles podem baixar para 12%, e daí diriam que está "dentro da margem de erro". Em suma, há padrões para as marretadas.

Se considerarmos essa dinâmica das pesquisas enviesadas, é absurdo ignorá-las. Mesmo as pesquisas marretadas dizem algo, que é o crescimento de Lula nas pesquisas, que é algo que temos que lidar. Mas será que ele possui os números que as pesquisas dizem? Muito provavelmente não, mas é essa a natureza do jogo.

Diante das pesquisas, existem 3 padrões de comportamentos
Aceitá-las dogmaticamente
Rejeitá-las dogmaticamente
Estudá-las, mesmo considerando o padrão de viés

Obviamente os padrões (1) e (2) não nos levam a lugar algum.

Em cima disso, vejamos a opinião de Clovis Rossi, que explica a aparente “contradição” entre as pesquisas colocando Lula em primeiro lugar e as denúncias na Lava Jato:

Para explicar a contradição, recorro antes a uma lenda urbana que corria, nos anos 60, na redação do Estadão.

O jornalista português (e comunista) Miguel Urbano Rodrigues era o principal editorialista do jornal. Não me pergunte como um comunista podia escrever editoriais para um jornal ferozmente anticomunista. Nem Freud nem Marx explicariam.

O fato é que, à certa altura, houve uma ameaça da ditadura da época de prender Miguel Urbano. O diretor e grande patriarca do jornal, Júlio de Mesquita Filho, reagiu com a seguinte frase, segundo a lenda: "É comunista, mas é meu comunista".

Miguel Urbano não foi preso. Júlio de Mesquita Filho fora um dos principais conspiradores para o golpe e, por isso, era respeitado pelos militares.

No caso da pesquisa Datafolha, suspeito que a fatia dos eleitores que quer votar em Lula pensa algo parecido: Lula pode ser corrupto, mas é "nosso corrupto".

Elaborando um pouco: uma parte substancial do público acha que todo político é ladrão. É um preconceito e, como todo preconceito, é injusto. Mas é uma sensação disseminada não é de hoje e não é só no Brasil.

Se todo político, na visão popular, é ladrão, então o voto vai para o político mais próximo do povão, na linguagem, nas origens (por mais que delas se tenha afastado bastante) e no fato de que seu governo melhorou a vida de uma parcela da população.

Se é apontado como corrupto, paciência. Os outros também não o são?

A questão é simples: um sujeito que cometeu estupro, assassinato e assalto não pode ser punido só por "assalto". É preciso distinguir os diferentes tipos de crimes.

Só por causa do clima moralista anti-assalto dizer que "todos são iguais" por que os vários avaliados cometeram assalto só tem a ajudar aquele que cometeu outros crimes além do assalto.

Para o sujeito que estuprou e matou, além de cometer assalto, é uma maravilha que vários professem a narrativa de que "todos são iguais, por causa do assalto".

As comparações acima são apenas um exemplo de como diluir responsabilidades é algo grave no momento de perder a capacidade de distinguir diferentes tipos de atos.

Não há mistério algum nas pesquisa envolvendo Lula. Uma parte considerável da direita escolheu acobertar os principais crimes morais de Lula e do PT para dizer que "todos são iguais". Isso só jogaria areia nos olhos do povo.

A narrativa TSI ("todos são iguais") é tão poderosa que pode aparecer o que for em relação às delações contra o Lula que ele seguirá em crescimento.

Pode-se argumentar que "a pesquisa é do Datafolha", mas as "marretadas" sempre são feitas dentro da margem de erro. Logo o crescimento de Lula existe e não pode ser negado.

Se Lula for presidente em 2018, vamos colocar isso na conta de uma parte da direita por ter criado o MTF ("movimento fora todos").

Em tempo: é possível argumentar que "Lula pode ser preso", mas isso é apenas uma hipótese, já que os petistas estão empreendendo narrativas para dificultar sua prisão. 

Note que na guerra de narrativas, salvo algumas exceções, a direita segue devendo.


03 de maio de 2017
ceticismo político

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