"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

OS SETE MITOS DA POLÍTICA QUE TRUMP DERRUBOU PARA CHEGAR À CASA BRANCA



Direito de imagem GETTY IMAGES Image caption Donald Trump ganhou a disputa pela presidência dos EUA contrariando apostas e pesquisas de intenção de votos

O empresário Donald Trump, presidente eleito dos EUA, fez praticamente o oposto do que recomendam manuais de política e a maioria dos marqueteiros eleitorais. O jogo às avessas funcionou.

Trump desafiou o Partido Republicano ao se candidatar e derrotar todos os correligionários na disputa interna. Financiou boa parte da sua própria candidatura. E abusou do politicamente incorreto e de uma retórica agressiva durante toda a campanha.
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Inicialmente, a candidatura do empresário não foi levada à sério - em grande parte pelo estilo pouco convencional do norte-americano e pelo fato dele ser um novato na política. De piada, Trump passou a ser encarado como ameaça.

O triunfo de Trump sobre os rivais republicanos e sobre a principal adversária, a democrata Hillary Clinton, joga por terra pelo menos sete mitos - ou, até então, regras consideradas básicas - da política.
1. Estar alinhado com o "establishment"

Ainda nas primárias republicanas, Donald Trump se recusou a assinar o juramento de lealdade ao partido, comprometendo-se a desisitir de concorrer à eleição como candidato independente caso não vencesse a disputa interna.

Naquela época, em agosto de 2015, o empresário já se mostrava em descompasso com importantes segmentos da elite política, financeira e social, conhecida em inglês como "o establishment".

Muitos nomes de peso do Partido Republicano não se opuseram abertamente à candidatura de Trump, tampouco fizeram qualquer tipo de esforço para apoiá-lo.

No lado democrata, Hillary, por sua vez, tinha a seu favor praticamente toda a estrutura do partido.

Mas Trump remou contra a maré e venceu.

"Ele surpreendeu as elites republicanas nas primárias e fez o mesmo com os democratas na eleição geral, repetindo o golpe de judô no qual reverteu o peso do 'establishment' sobre ele", escreveu o jornal The New York Times em editorial.
2. Contar com experiência política e de governo no currículo

Trump chegou ao dia da eleição presidencial sem nenhuma experiência político-governamental. Nunca foi do Executivo nem do Legislativo. Empresário toda a vida, tornou-se estrela de TV ao apresentar durante a década passada o programa O Aprendiz, um reality show de negócios.

Além de Trump, somente Dwight Eisenhower foi eleito presidente dos EUA em 1952 sem nenhuma experiência política. Eisenhower era, no entanto, um general cinco estrelas que se destacou pela liderança durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Repetindo tendência que parece estar crescendo também no Brasil, uma das principais credenciais do norte-americano era justamente não ser "político de profissão". Assim, atraiu votos de quem não tolera a classe política e avalia que todos os políticos são corruptos.
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Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionA principal credencial de Donald Trump, estrela do programa O Aprendiz, era não ser político

Trump, contudo, conseguiu reverter também a imagem de que "jogava nos dois times". Enquanto apostava na carreira de empresário, ele doou recursos não apenas para a sigla pela qual se elegeu, mas também colaborou no passado com o Partido Democrata.
3. Respeitar as minorias

Sem hesitar, Trump lançou comentários e promessas controversas envolvendo latinos, muçulmanos e afro-americanos.

"Eles estão trazendo drogas, crime, estupradores", disse ele sobre os mexicanos, no discurso em que anunciou sua candidatura presidencial.

"As comunidades negras nunca estiveram em estado pior", declarou sobre a população afro-americana. E ainda ameaçou a monitorar os muçulmanos que vivem nos Estados Unidos e bloquear a entrada no país de adeptos do Islã.



Direito de imagem GETTY IMAGES Image captionDonald Trump abriu sua campanha à Casa Branca acusando imigrantes que "levavam o crime" aos EUA

A falta de cuidado ao citar minorias não o fez cair em descrédito com uma parte significativa do eleitorado. Pelo contrário, muita gente vê Trump como alguém corajoso o suficiente para falar coisas que nenhum político costuma externar tão abertamente.

O empresário Peter Thiel, um dos apoiadores de Trump, disse que um dos grandes erros dos analistas foi interpretar o republicano de forma literal, em vez de analisar como os eleitores recebiam as mensagens.

"Quando ouvem coisas como o comentário sobre os muçulmanos ou a construção do muro (que defendeu na fronteira com o México ), os eleitores de Trump não se perguntam se os EUA vão construir uma parede como a Grande Muralha da China. O que ouvem é que vamos ter uma política de imigração mais saudável e sensata", disse Thiel.
4. Ter apoio declarado da grande imprensa

Vários grandes jornais norte-americanos, incluindo o The New York Times e o Washington Post, declararam apoio a Hillary. Trump, por sua vez, foi desqualificado, na avaliação de alguns analistas, de forma desproporcional por parcela significativa da grande mídia.

"A eleição está sendo manipulada por meios corruptos, jogando contra mim falsas acusações e mentiras deslavadas, em um esforço para eleger a presidente deles", disse Trump em outubro.

Diferentemente de políticos que, muitas vezes, atacaram Trump e depois recuaram, a rejeição ao empresário por parte da grande mídia dos EUA foi uma constante durante praticamente toda a campanha.


Direito de imagem APImage caption Trump acusou os meios de comunicação de serem desonestos em relação a ele

Para Margaret Sullivan, colunista do Washington Post, o erro da imprensa foi não ter feito uma cobertura correta e equilibrada, em especial em relação aos eleitores.

"Um grande número de eleitores norte-americanos queria algo diferente. E, mesmo se gritassem, a maioria dos jornalistas simplesmente não os ouviu, ou não os entendeu"
5. Evitar escândalos

Em um dos momentos mais críticos da campanha de Trump, ele enfrentou várias acusações de abuso sexual de mulheres.

Além disso, em um vídeo de 2005 divulgado durante esta campanha, Trump aparece fazendo comentários obscenos e misóginos. Além disso, pessoas que trabalharam em seu reality show o acusaram de julgar concorrentes mulheres pela aparência.

As denúncias de assédio chegaram a provovar a queda do candidato em pesquisas de intenção de voto tão logo foram divulgadas.
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Trump, contudo, reagiu simplesmente rejeitando as acusações e insistindo no papel de vítima. "Eu aprecio as mulheres, quero ajudar as mulheres", disse.

Ao mesmo tempo, ele endossou propostas mais conservadoras, como impulsionar leis restritivas contra o aborto.

Seu companheiro de chapa e vice-presidente eleito, Mike Pence, ficou conhecido pela política contra o aborto durante sua gestão como governador de Indiana.



Direito de imagem AFP Image caption Melania Trump, mulher de Trump, rechaçou comentários misóginos e obscenos feitos pelo candidato no vídeo de 2005

Apesar dos escândalos e dos comentários, Trump conquistou aproximadamente 42% do voto feminino na eleição presidencial.
6. Ser o mais transparente possível

Nos últimos 40 anos, todos os candidatos presidenciais nos Estados Unidos tornaram públicas as suas declarações de patrimônio e renda antes do início da campanha. Ato que sinalizaria o comprometimento dos candidatos com transparência.

Todos, menos Trump.

O empresário disse que não iria abrir seus dados fiscais "até concluir uma auditoria". A decisão de não divulgar foi amplamente criticada por Hillary, outros políticos e analistas. Também despertou suspeitas entre jornalistas.



Direito de imagem AFP Image caption O tema da declaração de bens e renda de Trump foi tema do primeiro debate com Clinton

Uma investigação jornalística, publicada um mês antes da eleição, mostrou que Trump evitou o pagamento de impostos de renda por 18 anos, graças a manobras fiscais.

"Você pode não querer que o povo americano, todos os que estão esta noite nos assistindo, saiba que você não pagou impostos federais", disse Hillary ao atacar o rival no primeiro debate presidencial.

"Isso me faz inteligente", retrucou Trump.
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7. Medir palavras

A campanha de Trump foi marcada por uma verborragia incomum para uma campanha presidencial. Por mais de uma vez, contudo, ele precisou recuar.

Os pedidos de desculpas de Trump normalmente são pouco usuais, assim como sua retórica de campanha.

"Às vezes, no calor do debate (...) não escolho as palavras certas ou digo algo errado. Se eu tenho feito isso, acredite ou não, lamento e lamento especialmente quando possa ter causado dor."

Foi exatamente com essa frase que ele tentou se desculpar após classificar como "falidas" as comunidades afro-americanas, em agosto.

Uma das marcas de Trump sempre foi o improviso, em especial ao fazer discursos, nos quais dispensava a leitura de declarações preparadas por sua equipe.



Direito de imagemGETTY IMAGESImage caption 
A autencidade é, para muitos eleitores. é o ponto forte de Trump, que não repete regras seguidas por políticos profissionais

Fanático, racista, misógino, vulgar, rude e valentão foram alguns dos adjetivos usados por políticos e estrategistas republicanos para definir Trump.

Entre seus eleitores, contudo, nada disso colou. Muita gente avalia que Trump adaptou a retórica de campanha para falar a mesma língua dos eleitores que queria conquistar: representantes da classe trabalhadora com menor formação acadêmica, submetidos por más condições de trabalho e que se consideram esquecidos pelo sistema.
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"Os seguidores de Trump o querem, especialmente, porque ele não fala como todos os políticos que prometeram muito e fizeram pouco", explica Katty Kay, âncora da BBC em Washington.

Em maio passado, a jornalista já advertia: "O manual do jogo político foi quebrado e Donald Trump odeia perder quase mais do que ele gosta de ganhar."
(13 novembro 2016)



05 de fevereiro de 2017
postado por m.americo

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