"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 21 de janeiro de 2017

MORTE DE TEORI EXACERBA CULTURA DA CONSPIRAÇÃO E FAZ CRESCER O IMPONDERÁVEL




Tem muita gente que não se esforça para entender o quadro. Alguns não entendem mesmo. Outros posam de sabichões. Há quem pegue a parte pelo todo e há quem se satisfaça em pegar uma evidência isolada para transformá-la em explicação definitiva. Todos, abraçados ou não, formam uma legião de agitadores, pescadores de águas turvas, inocentes úteis e inúteis. Assim caminha a humanidade. No Brasil, sobretudo. Não há muito o que fazer.

Nessa turma, há quem ache que Moro está lavando a alma da República e há quem o veja como o bandido da história, aquele que faz o trabalho sujo.

São pessoas que não conseguem compreender a envergadura da operação – sua objetividade, sua execução “dura”, seu apoio nos fatos – e a reduzem a uma espécie de caça seletiva ao Lula. Ou a uma faxina ética geral, contra todos os políticos.

Trata-se de gente que flutua: que aplaude quando um tucano cai na rede e vaia quando a presa é um petista. Ou vice-versa.

EMOÇÃO ADICIONAL – Pessoas assim formam a linha de frente das conspirações. Fornecem o caldo de cultura de que elas necessitam, pois sempre pensam que os conspiradores estão logo ali, na primeira curva. No fundo, torcem para que suas fantasias se convertam em realidade. Querem um pouco de emoção adicional.

Não é por outro motivo que todos os que integram essa turma vejam na morte de Teori a mão suja do atentado criminoso.

Nem bem se organizaram as exéquias das vítimas e sem nem dar tempo dos familiares chorarem suas perdas, uns passam a dizer que a queda do avião foi planejada por Romero Jucá, outros porque acham que aconteceu para salvar a pele do Lula. Agiram assim quando JK morreu na Dutra, quando Jango não acordou depois de ter ido dormir, quando caíram o helicóptero de Ulysses Guimarães em 1992 e o avião de Eduardo Campos em 2014. Viram as garras do demônio até mesmo no acidente da Chapecoense. E, evidentemente, na morte de Hugo Chávez.

Dá para imaginar o que seria dito se algum acidente afetasse Lula, Temer ou Alckmin. Ou Tite. Papa Francisco, Trump ou Obama.

ATENTADOS E ACIDENTES – Lembremo-nos de Dom Quixote: “yo non creo en brujas, pero que las hay, las hay”. É um erro descartar sumariamente atentados políticos: eles existem e são praticados com frequência. Tão grave quanto, é um erro esquecer que acidentes também. Falhas humanas ou técnicas, armadilhas do destino, azares do clima.

O importante é investigar e descobrir tudo, sempre, até o osso. Mas ainda mais importante é enxergar por entre a névoa e avaliar os desdobramentos: o processo.

Nisso a morte de Teori introduz um complicado fator de imponderabilidade, que não pode ser desprezado. Perde-se o homem, perde-se o juiz competente e discreto, peça-chave da Lava Jato. Uma mola escapa, desarranja o fluxo e faz crescer a confusão. De inocentes, ingênuos e apressados o inferno está cheio.



21 de janeiro de 2017

Marco Aurélio Nogueira, Estadão

NOTA AO PÉ DO VÍDEO

Esqueceu-se o nobre jornalista de acrescentar ao rol dos analfabetos funcionais, ditos 'conspiradores de boa ou má fé', 'inocentes úteis ou inúteis',  os que minimizam situações dramáticas que envolvem não apenas a vítima, no caso o juiz Teori Zavascki, mas o contexto que as cercam.
O que já foi dito e redito exaustivamente, e que causa um certo 'suspense' e justifica as impressões dos acusados de 'conspiradores', é que não se tratava apenas de um juiz, mas do relator da operação Lava Jato, no justo momento em que estava em seu poder a maior delação do esquema criminoso que envolve a Odebrecht. E segundo os seus pares, um juiz eminentemente técnico, de julgamento apolítico.
Segue-se ainda a informação de que teria sido apagado, digamos, os dados informativos,  o 'GPS' da torre de controle que orienta o piloto em sua navegação, impedindo o seu voo cego. Se realmente for verdadeira a informação, eis a causa e a origem do mal.
E acrescenta a pimenta venenosa de que tal ação teria sido da responsabilidade do sargento Marcondes, coincidentemente filiado ao PT.
Um alimento e tanto aos tais 'conspiradores' que não acreditam no chapeuzinho vermelho... Não acreditam também em coincidências... E não acreditam em súbitas mudanças, sem planejamento, no tabuleiro de xadrez da política.
Até podemos crer no destino, mas que esse tal destino talvez possa ter um nome, ou vários, é o que fica martelando na cabeça dos 'conspiradores' e de todos os que se abraçam nas águas turvas desse imenso lamaçal em que se transformou a política brasileira.
Lota-se o inferno não de ingênuos, inocentes e apressados (o que parece o texto insinuar, 'dos maledicentes'), mas também dos pecadores insensatos que atentam contra a possibilidade da verdade, tenha ela a dimensão que tiver. 
E o que é a verdade? - já perguntava o Mestre. E alguém poderia atrever-se a responder: o que habita a consciência e a razão dos homens. E que por fim, culmina em seus atos...
E por ela seremos julgados...
m.americo

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