"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

NOVA NARRATIVA DO "BAIXO NÚMERO DE VOTOS VÁLIDOS" É OUTRO TRUQUE PETISTA. VOCÊ VAI CAIR NELE?



Eram quase 20 horas da noite do dia 3 de outubro quando chegou o Uber. A corrida demoraria 40 minutos, tempo suficiente para um papo descompromissado com o motorista sobre política.

Quase todos os uberistas odeiam o PT, até porque muitos são vítimas do desemprego causado pelo partido, intencionalmente. Não haveria de ser diferente: o motorista comemorava a derrota humilhante do totalitarismo petista nas eleições.

Porém, a certo momento ele comentou: “Pena que tivemos tantos votos brancos, nulos e abstenções”. Eu disse: “E daí?”. Ele seguiu: “Isso é um sinal de baixa representatividade”. Eu questionei: “Por qual razão?”. Resultado: tela azul do Windows.

Não demorou muito tempo para ficar perceptível que ele era mais um incauto enrolado pela nova narrativa desonesta do momento e, como não poderia deixar de ser, encomendada pelos petistas: “essas eleições ficaram marcadas pela alta taxa de abstenções e votos brancos e nulos”.

No fundo é um grande truque para tentar amenizar o sabor absurdamente amargo da derrota fragorosa do PT. Por isso, hoje os sites Brasil247 e Congresso em Foco, em textos diferentes, utilizaram uma expressão dizendo que essa foi a eleição vencida por “ninguém”.

No Brasil247 se escreve: “Foi o caso de São Paulo, com João Doria (PSDB), eleito no primeiro turno com 3.085.181 votos, ou 53,2% dos votos válidos. ‘Ninguém’, por outro lado, alcançou 3.096.186 votos na capital paulista.”

Eles seguem: “O mesmo ocorreu no Rio de Janeiro, onde a soma de abstenções, brancos e nulos foi maior do que o número de votos do primeiro colocado, Marcelo Crivella (PRB), que disputará o segundo turno com Marcelo Freixo (PSOL). Em Curitiba, aconteceu o mesmo com Rafael Greca (PMN), entre várias outras cidades.”

Até o presidente Michel Temer caiu na esparrela e disse: ““Devo registrar uma preocupação: acabei de verificar um número imenso de abstenções, votos em branco e nulos , o que revela o que ouso dizer ‘a indispensável necessidade’ de uma reforma política do país, algo que penso que o Congresso Nacional deva cuidar com muita propriedade.”

O papo é furadíssimo, como lembra Reinaldo Azevedo: “No tempo da ditadura, os eleitores compareciam quase religiosamente para votar — menos para prefeitos de capitais, governadores e presidente —, e, no entanto, por óbvio, a democracia não vivia crise nenhuma porque democracia não havia. Acho que Temer falou aquilo que sabia que queriam ouvir. Imaginem se ele diz: ‘Ah, esse negócio de abstenção não tem a menor importância’.”

Mas se ele dissesse que o alto índice de abstração não tem a menor importância ele estaria correto.

Eis que leio o seguinte no site Implicante: “Barack Obama conseguiu em 2012 o direito de continuar na Casa Branca por mais quatro anos graças a 65,9 milhões de americanos. Naquela votação, 129 milhões de votantes se pronunciaram nas urnas. Mas o total de cidadãos aptos a votar era de 235,2 milhões. Ou seja… Nada menos do que 106,2 milhões de eleitores simplesmente se abstiveram, um número 61% maior do que o montante que legitimou o cargo da pessoa mais poderosa do mundo.”

Obviamente, isso não torna Barack Obama um presidente menos legítimo do que os candidatos vencedores em eleições com menores taxas de abstenções. Na realidade, o número de abstenções não significa absolutamente nada em relação à legitimidade do vencedor.

Enfim, nenhum palhaço veio encher o saco quando Obama venceu perdendo em quantidade de votos para os brancos, nulos e abstenções nos Estados Unidos. Então, por que esse é um problema no Brasil? É claro que tem gente tentando te enrolar…

O fato é que isto não é um problema coisíssima alguma. Um sistema democrático é aquele onde as pessoas escolhem votar do jeito que quiserem. Na Constituição existe algo escrito contra os votos nulos, brancos e as abstenções? Não, não tem. Logo, fim de conversa. Quem quiser que lute para mudar a lei ou então que vá reclamar com o bispo.

Diante de quem estiver choramingando por que o PT tomou uma sova, lembre que o alto número de abstenções significa menos votos ainda para os perdedores. Quer dizer, a derrota petista é ainda mais retumbante. Em suma: para quem venceu, a alta taxa de abstenções não fede nem cheira, mas, para quem perdeu, a coisa é amplificada em termos de humilhação.

O resto é choro de perdedor desonesto.

05 de outubro de 2016
ceticismo político

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