"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

AGENDA MOSTRA QUE PAULO BERNARDO ERA INTERLOCUTOR DA ANDRADE GUTIERREZ

Advogada de Bernardo confirma que havia o relacionamento


A agenda de compromissos em 2014 do então ministro das Comunicações Paulo Bernardo (PT-PR) indica que era ele o interlocutor de mensagens interceptadas pela Polícia Federal no telefone do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. Em relatório na Operação Lava Jato, a PF apontou que o celular que registrou trocas de mensagens com Azevedo “possivelmente” pertenceria a Paulo Bernardo.

A dúvida sobre a identidade surgiu porque o contato de Azevedo, um celular de Brasília, aparece registrado em nome de duas pessoas ao mesmo tempo: Paulo Bernardo e também João Rezende, possível referência ao presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), pessoa próxima do ex-ministro.

Nas comunicações feitas por um aplicativo, o interlocutor de Azevedo cobra a confirmação de “nossa conversa” e um dia depois o empreiteiro informa que “caiu agora”, uma provável referência, segundo a PF, a um depósito.

COINCIDÊNCIAS – Levantamento feito pela Folha na agenda de Paulo Bernardo mostra pelo menos três pontos coincidentes e reforça a suspeita de que o celular era mesmo usado pelo ex-ministro.

Em 25 de abril de 2014, o interlocutor diz a Azevedo que estaria no Rio de Janeiro para uma “reunião na Finep”, referência a uma empresa pública de fomento à ciência e tecnologia. No mesmo dia, a agenda de Paulo Bernardo apontou como compromisso do então ministro, no Rio, uma reunião no conselho administrativo da Finep.

Em outro ponto da troca de mensagens, o interlocutor de Azevedo afirma que no dia 29 de maio de 2014 estaria “em viagem à Bahia”, mas voltaria na tarde do mesmo dia. A agenda do então ministro informa que, às 11h daquele dia, ele participou da cerimônia de inauguração de um centro digital na cidade de Vitória da Conquista (BA).

NO AEROPORTO – Já no dia 21 de maio de 2014, o interlocutor do empreiteiro indaga se eles poderiam se encontrar “no aeroporto”, sem citar a cidade, no dia seguinte, 22 de maio. Na agenda oficial de Paulo Bernardo, consta que ele estava em Curitiba (PR) em 23 de maio.

No relatório da PF que integra as investigações da Operação Lava Jato, os investigadores ressaltam, entre outras, mensagens entre 30 de agosto e 3 de setembro de 2014 que, segundo a PF, “parecem sugerir que Paulo Bernardo estaria questionando Otávio de forma velada acerca de depósito [bancário]”.

Bernardo foi preso em junho na Operação Custo Brasil, um desdobramento da Lava Jato, que investiga desvios do Ministério do Planejamento. Ele ficou por seis dias na carceragem e foi solto por ordem do ministro do STF Dias Toffoli, segundo quem não havia motivos que justificassem a manutenção da prisão, como risco de fuga.

PROPINAS – Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, o petista é suspeito de ter se beneficiado de propina de contratos do Ministério do Planejamento que perduraram de 2010 a 2015. A Operação Lava Jato investiga lobby da Andrade Gutierrez na Anatel no período em que Bernardo era ministro das Comunicações.

A advogada do ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo, Verônica Sterman, não negou que ele seja o interlocutor de Otávio Azevedo nas trocas de mensagens. Ela afirmou que seu cliente não se recorda em que contexto ocorreu a conversa, em 2014, na qual Azevedo usou a expressão “caiu agora”.

Em nota, a advogada também disse que Bernardo possuía o telefone de Azevedo, assim como o de vários outros empresários, e por vezes se comunicava com eles. “Não há nem nunca houve nada de errado ou ilícito no teor dessas conversas. As mensagens são claras e não há qualquer ‘mensagem velada'”, afirmou a advogada.


18 de julho de 2016
Rubens Valente
Folha

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