Como se não bastassem as dificuldades enfrentadas pelo governo interino, a divulgação de áudios e de novas delações têm servido para justificar a disposição de alguns senadores de reavaliar suas posições a favor do impeachment.
O suficiente para que o presidente revele desconforto e exaustão com a barganha e as exigências feitas pelos indecisos. Logo ele, um expert experimentado nas artes do pragmatismo e do senso de sobrevivência política que parecem justificar as concessões às pressões da base, à espera de que os choques de gestão e de credibilidade tenham seus efeitos reconhecidos. Sim, o presidente de tudo tem feito para evitar confrontos com o Congresso e com as ruas. Vale até medida contraditória que colida com o discurso defendido pela equipe econômica, contanto que a aprovação siga a lógica peculiar da política.
Mas pressão e chantagem já viraram práticas banais na incipiente história do nosso presidencialismo de coalizão. Nesse contexto, a benevolência em relação às exigências de uma base hipertrofiada é o principal meio de assegurar as condições para a governabilidade, com benefícios para todas as partes.
O governo da presidente Dilma é exemplo de fracasso na tentativa de reformar o sistema sem buscar apoio político ou da sociedade. E o PMDB, partido do presidente, tradicionalmente é visto como o grande mediador de apoio parlamentar, fabricante de coalizões.
Reitero um comentário aqui feito: assistimos com complacência a barganha de benefícios individuais transformada em fato político corriqueiro pelo nosso Parlamento. Uma questão que há muito está a exigir enfrentamento, pois a chantagem, se generalizada e associada à barganha, transforma todos em inimigos potenciais, soldados perdidos de uma guerra hobbesiana “de todos contra todos”.
Tal prática social coercitiva e exploradora do velho jogo do toma lá, dá cá, é o que o ex-presidente FHC convencionou chamar de “pacto com o demônio”. Realidade de um Brasil onde “a modernização se faz com a podridão, a velharia”.
Na gravíssima crise política e econômica que ora padecemos, em que velhas lideranças estão rendidas pela corrupção, um dos riscos é a cristalização de um Estado Judicial ou, na pior das hipóteses, policialesco para compensar os desequilíbrios do sistema.
A dependência do Executivo com relação ao Legislativo não apenas afasta os postulados do princípio de separação do poder, mas elege a lógica mercantilizada que rege as disputas, blindando o sistema político contra a sociedade. Temos de pensar, debater e exigir uma forma de se fazer política com coerência e sentido de futuro.
11 de junho de 2016
Erick Wilson Pereira
Reitero um comentário aqui feito: assistimos com complacência a barganha de benefícios individuais transformada em fato político corriqueiro pelo nosso Parlamento. Uma questão que há muito está a exigir enfrentamento, pois a chantagem, se generalizada e associada à barganha, transforma todos em inimigos potenciais, soldados perdidos de uma guerra hobbesiana “de todos contra todos”.
Tal prática social coercitiva e exploradora do velho jogo do toma lá, dá cá, é o que o ex-presidente FHC convencionou chamar de “pacto com o demônio”. Realidade de um Brasil onde “a modernização se faz com a podridão, a velharia”.
Na gravíssima crise política e econômica que ora padecemos, em que velhas lideranças estão rendidas pela corrupção, um dos riscos é a cristalização de um Estado Judicial ou, na pior das hipóteses, policialesco para compensar os desequilíbrios do sistema.
A dependência do Executivo com relação ao Legislativo não apenas afasta os postulados do princípio de separação do poder, mas elege a lógica mercantilizada que rege as disputas, blindando o sistema político contra a sociedade. Temos de pensar, debater e exigir uma forma de se fazer política com coerência e sentido de futuro.
11 de junho de 2016
Erick Wilson Pereira
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