A corrupção, por definição, é sempre bilateral. De um lado, o corrupto, tipicamente participante de uma entidade pública. Do outro, o corruptor, tipicamente participante de uma entidade privada. No escândalo da operação Lava Jato, o segredo começou a ser desvendado pelo lado público, na Petrobras. Em paralelo, outro nó começa a ser desatado pelo lado dos corruptores – no caso, empresas privadas multinacionais. Os jornais “Huffington Post” (britânico) e “The Age” (australiano) publicaram uma série de reportagens com base nos e-mails vazados de uma empresa sediada em Mônaco, chamada Unaoil.
Os jornais chamaram este de “o maior caso de propina do mundo” e, curiosamente, não inclui a Petrobras. Na lista de entidades corruptas, a empresa Petronas (estatal da Malásia) e os governos do Iraque (pós-guerra), Síria, Líbia, Nigéria, Cazaquistão,.
O que chama mais a atenção é a lista de corruptores: nela repetem-se os atores do programa faraônico de investimentos que colocou a corda no pescoço da Petrobras: SBM (plataformas), Saipem (plataformas), Rolls Royce (motores), MAN turbo (turbinas), Technip (dutos flexíveis), FMC (sistemas submarinos), Samsung (máquinas e construção pesadas), Hyundai (máquinas e construção pesadas), Keppel (estaleiros), entre outras.
O caso da SBM talvez mereça atenção especial pela recorrência: a empresa já foi condenada na Holanda e pagou 400 milhões de dólares devido ao esquema de propina operado junto à Petrobras. Aqui no Brasil, foi assinado um acordo de leniência no qual a SBM pagará/pagaria à Petrobras R$ 1 bilhão para manter sem alteração os contratos vigentes (assinados no vício da propina).
ESPELHO MACABRO
É como um espelho macabro da sucessão presidencial: tirando o corrupto de plantão (empreiteiras brasileiras), entram os próximos da fila de sucessão (multinacionais), que já vinham comendo pelas beiradas há algum tempo.
A inexplicável pressa dos dirigentes da Petrobras em alavancar o desenvolvimento da empresa em uma velocidade assombrosa com captações (empréstimos) nunca antes vistos, que acabou deixando as rédeas da estatal com o mercado financeiro, talvez possa ser explicada pelo incentivo das propinas globalizadas, que atingem igualmente nacionais e multinacionais. Até o esquema de apelidos para os corruptos é idêntico.
O governo/Agência Nacional do Petróleo, ao chancelar sem questionamentos o plano megalomaníaco, incentivou o sobreinvestimento (para não falar sobrepreço), na expectativa de obter sobreprodução do óleo bruto, com o sonho da exportação desnecessária do excedente. Desta forma, falhou em defender o interesse na segurança energética, no desenvolvimento sustentável de uma matriz nacional com o mínimo de investimento estrangeiro necessário (o andar com as próprias pernas).
Hoje, fica bastante claro que o “plano de investimento arrojado” na verdade não seria desenvolvimentista, mas sim uma máquina de alimentar o monstro da propina e corrupção.
E para piorar, ninguém se salva neste lamaçal: nenhum fornecedor, da SBM à Samsung, passando por Odebrecht e Sete Brasil. Porque no mundo de hoje até a corrupção é globalizada.
E para piorar, ninguém se salva neste lamaçal: nenhum fornecedor, da SBM à Samsung, passando por Odebrecht e Sete Brasil. Porque no mundo de hoje até a corrupção é globalizada.
10 de abril de 2016
Carlos Newton
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