"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O PT É TAMBÉM CULPA DA ELITE

Qual foi o marco zero do descalabro que aí está? Em que momento o petrolão e outros aumentativos degradantes começaram a ser gestados?

O ponto inicial, acho eu, se deu quando Lula conseguiu atrair para o seu circo setores importantes da burguesia nacional ou internacionalizada, que o viram, de um lado, com olhos benevolentes, e de outro, quem sabe?, com paixão cúpida.

Por benevolente, a elite econômica resolveu reconhecer as iniquidades sociais do Brasil, e a parolagem distributivista de Lula lhe pareceu moralmente legítima. Por cúpida, percebeu que um governo com deficit de confiança e excesso de entusiasmo popular poderia trilhar um de dois caminhos: ou o populismo virulento ou o mercadismo com coração. Deu mercadismo com coração.

E Lula se tornou, então, na feliz definição de um empresário com quem conversei nesta semana, "o pai dos pobres e a mãe dos ricos". E não pensem que ignorasse o feito. Ele mesmo já afirmou que os bancos nunca lucraram tanto como no seu governo. E não só eles, como pode atestar o BNDES.

Quantos, a tempo, se dispuseram a ouvir que o modelo –ou fosse lá como se chamasse aquilo– era insustentável? Ao contrário até. A crítica era percebida como coisa de gente de maus bofes, que se negava a reconhecer a sapiência natural de um operário.

Ouvi muitas vezes empresários a dizer que Lula tinha muito mais paciência para falar com eles do que FHC, que alguns tomavam como excessivamente frio. E o petista, não duvidem, sabe como fazer um assunto de Estado se parecer com uma conversa pessoal, recheada de imagens fesceninas.

Não há, e é para este aspecto que chamo a atenção dos leitores, uma só característica da crise que seja surpreendente. Absolutamente nada! O que se tem aí é o resultado de uma equação.

Alguém vai me dizer que o empresariado ignorava que o crescimento percentual de gastos sempre acima da receita termina em deficit? Que o crescimento da massa salarial sempre acima da produtividade termina em inflação? Que o crescente engessamento do Orçamento, com desembolsos obrigatórios, impede a competente gestão do Estado?

Talvez seja o caso de dar a mão à palmatória. Lula e o PT fingiram que haviam se convertido à economia de mercado, dispuseram-se a ser os gerentes do capitalismo nativo, assenhorearam-se dos bens do Estado, e isso, à larga maioria, pareceu razoável porque, sejamos claros, os petistas sempre foram muito bons para fazer, digamos, "negócios".

Mesmo a extorsão que se passou a praticar à larga parou de doer. Os empreiteiros enrolados na Lava Jato são testemunhas de que eles próprios já não sabem quando estavam corrompendo ou sendo corrompidos, quando estavam pagando propina ou sendo extorquidos.

"Ah, está dizendo que a corrupção começou com o PT?..." Não! Começou com a serpente. Eu estou sustentando, sim, que foi com o petismo que ela se transformou num modelo de gestão do Estado. E só foi tão longe porque amplas fatias do capital viram nos companheiros uma oportunidade de negócios.

Talvez um dia a burguesia brasileira consiga acreditar nos valores morais e espirituais –vejam que palavra emprego!– que a levam a empreender e a produzir. E, quem sabe?, surjam então empresários liberais no Brasil, que combatam o petismo, em vez de se unir a ele em nome do patriotismo, que é sempre um péssimo refúgio para o erro ou para a cupidez.



23 de outubro de 2015
Reinaldo Azevedo

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