"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

IPEA FOI MESMO PROIBIDO DE DIVULGAR DADOS NEGATIVOS NA ELEIÇÃO



Depoimento de Herton Araújo mostra a que ponto chegou a manipulação
















O ex-diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Herton Araújo contou à Justiça Eleitoral que foi impedido de divulgar, durante a campanha de 2014, dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2013 que mostravam aumento da extrema pobreza no Brasil.
O depoimento foi tomado em 27 de maio e faz parte de uma ação movida no final do ano passado pelo PSDB contra Dilma Rousseff e Michel Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A ação pede a cassação da chapa encabeçada pela petista por abuso de poder econômico e político.
O Ipea é vinculado à SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência), à época comandada pelo economista Marcelo Neri.
No depoimento, a que a Folha teve acesso, Araújo disse que os dados mostravam que a ”pobreza tinha aumentado de 3, alguma coisa para 4, alguma coisa”.
RECEBEU ORDENS
Ele afirmou ter entrado em contato com o então presidente do Ipea, Serguei Soares: “Olha, esse aumento é marginal, e a gente tem que falar isso para a população”. Segundo Araújo, a divulgação da Pnad era praxe. “Aí eu recebi a notícia de que eu não podia falar com a imprensa por causa da lei eleitoral.”
Mais adiante, Araújo conta ter recebido um e-mail de ”um diretor” com os dizeres: “‘É, Herton, acho que nesse período de eleição’, ele até brincou assim, ‘o que é terra vira mar e o que é mar vira terra. Eu estou com um monte de produto aqui que eu estou querendo divulgar e foi pedido para a gente divulgar só depois das eleições’.”
O ex-diretor do Ipea foi interrogado se o assunto foi levado a outras esferas do Poder Executivo, como ministros. Ele disse que, quando entregou sua carta de demissão, o então ministro Marcelo Neri o procurou para tentar reverter a sua decisão.
“[Neri] Sabia que tinha aumentado (…), aí quando o dado foi ruim, ele recuou. Na minha opinião. Como estava aquele contra-ataque na política, a política influenciou muito. Acho que as pessoas ficaram com medo”, disse.
OUTRO LADO
O ex-presidente do Ipea Serguei Soares informou que a decisão de não divulgar o estudo foi tomada pela diretoria colegiada, por unanimidade, antes de o instituto ter acesso aos dados. E que apenas trabalhos com periodicidade regular foram publicados, entre eles uma Carta de Conjuntura com dados negativos da economia brasileira.
“Herton jamais [pode] dizer que foi para beneficiar quem quer que seja.”
O Ipea diz que a decisão da diretoria ocorreu a partir de orientações enviadas pela Controladoria-Geral da União. O órgão, porém, não enviou a ata da reunião em que o tema foi deliberado, conforme a Folha solicitou, nem informou se o procedimento ocorreu em outros anos eleitorais. Marcelo Neri não respondeu à reportagem.
(texto enviado pelo comentarista Mário Assis)

13 de julho de 2015
Andréia Sadi e Gabriel Mascarenhas
Folha

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