"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

LULA BRINCA DE DOUTOR VICTOR FRANKESTEIN

Lula, tenha vergonha na cara e apoie o governo que ajudou a eleger e reeleger; não venha agora brincar de doutor Victor Frankenstein…

Coitado do Lula! Não fosse ele absolutamente indigno da minha pena porque muito poderoso, eu estaria aqui a lamentar a sua sorte. Afinal de contas, o homem armou a reação à esquerda contra a presidente Dilma Rousseff, e o tiro saiu pela culatra. Depois de incentivar os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Lindbergh Farias (PT-RJ) a liderar um movimento anti-Dilma, o Babalorixá de Banânia resolveu recuar e, agora, decidiu pedir que os esquerdistas, seus amigos, tenham mais tolerância com ela.
Que coisa, hein? Primeiro ele colabora para demonizar a presidente da República e depois, procura assoprar, afirmando não ser bem assim… Eu fico muito impressionado ao constatar como Lula perdeu a biruta. Comete, hoje em dia, erros incompreensíveis, que não cometeria há alguns anos. É fadiga de material. Lula perdeu a utilidade.
E por que é assim? Porque o PT jamais foi governo em tempos de escassez. O partido existe e se formou para denunciar injustiças reais ou imaginárias, pouco importando se as respostas que oferecia à sociedade eram ou não viáveis.
Tomem como exemplo o fator previdenciário. O chefão petista foi presidente da República por longos oito anos. Não mexeu na questão. Dilma governou por mais quatro. Também ignorou o tema. Um deputado da base aliada decidiu propor a extinção do mecanismo. Como essa tal base aliada está notavelmente desarticulada, a proposta passou na Câmara.
Muito bem! A única coisa razoável, segundo a matemática, que a presidente tem a fazer é vetar a medida. Ocorre que Lula e os petistas decidiram transformar o que é uma questão contábil numa tema de natureza moral. Até porque, com o baixo pragmatismo que sempre os orientou, argumentam que o fim do fator previdenciário vai começar a onerar o governo do sucessor de Dilma. Sendo assim, que mal tem?
Sobra, no entanto, um pouco de bom senso à presidente e, caso não mude de ideia, ela está mesmo disposta a vetar a mudança se for aprovada também no Senado. Agora Lula se diz preocupado com os desdobramentos. É mesmo? Justamente ele, que está na raiz da reação ao possível veto? Justamente ele, que, segundo o senador Paulo Paim, estimulou os companheiros do partido a votar contra a orientação do governo?
Lula foi, nos tempos da abastança, o Midas da política. Parecia transformar em ouro tudo aquilo em que tocava. Como as circunstâncias da economia internacional eram favoráveis ao país — e até as da crise mundial o foram —, ele podia pontificar à vontade. Aquela realidade não existe mais. O cenário é adverso. E os erros que se acumularam em 12 anos de gestão cobram agora a sua fatura.
Momentos assim pedem realismo do governante ou do homem de estado, ainda que o preço seja a impopularidade, momentânea ou nem tanto. Não, senhores! Lula não está preparado para isso. Ele só sobe prometer e anunciar generosidades. E julgou que conseguiria, a um só tempo, apoiar Dilma e lhe fazer oposição. Viu, no entanto, que isso não é possível. Ou por outra: pouco importa se a oposição que ele lidera está à esquerda; o fato é que ela colabora para gerar a sensação de que, “com esse governo, não dá”.
Ocorre que isso, obviamente, não é bom também para o seu partido. Para a infelicidade de Lula, aos olhos do eleitorado, Dilma é o PT, e o PT é Dilma, o que, convenham, é um fato. O ex-Poderoso Chefão tentou a quadratura do círculo, que consistiu em se opor às medidas de ajuste propostas pela presidente, porém preservando-a da hostilidade popular. A operação, obviamente, era impossível. Ademais, ninguém precisa de petistas para enxovalhar o governo nas ruas. A população faz isso por conta própria.
Lula, em suma, resolveu brincar de oposição, acreditando que isso lhe acarretaria, e ao partido, algum bem. O tiro saiu pela culatra. Os que se opõem ao petismo há mais tempo rejeitam a sua companhia no terreno da oposição. Os que se opõem ao petismo há mais tempo cobram de Lula que tenha vergonha na cara e saia em defesa de Dilma. Os que se opõem ao petismo há mais tempo repudiam seu oportunismo. Afinal, um criador não abandona assim a sua criatura. O senhor Luiz Inácio Lula da Silva não venha agora posar de doutor Victor Frankenstein, arrependido de ter dado à luz a sua criação.
Tenha a decência, Lula, de apoiar o governo que você ajudou a eleger e a reeleger. Você não é bem-vindo, Lula, na oposição.

03 de junho de 2015
Reinaldo Azevedo

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