Lembrete às messalinas fantasiadas de vestais: Ruth Cardoso tinha 77 anos, filhos e netos quando foi insultada pelo dossiê criminoso forjado por Dilma Rousseff
PUBLICADO EM 16 DE JUNHO
Encenado para disfarçar o nocaute sonoro sofrido por Dilma Rousseff no Itaquerão, o espetáculo da hipocrisia protagonizado pela seita lulopetista confirma o parecer do deputado paulista Duarte Nogueira: “Eles são incapazes capazes de tudo”. Messalinas de longo curso capricham na pose de virgem profissional para ensinar que não se faz uma coisa dessas com alguém que, mais que presidente, é mulher, mãe, avó e quase setentona. O comentarista Eduardo Henrique lembra que Ruth Cardoso tinha 77 anos, filhos e netos em 2008, quando foi vítima da infâmia tramada por Dilma, então chefe da Casa Civil, em parceria com a amiga e quadrilheira Erenice Guerra.
Os que nunca enxergaram limites para nada fingem que perderam o sono com o desabafo da multidão de brasileiros cansada de ser tratada pelo governo como um bando de idiotas. São os mesmos que não viram nada de mais no caso do dossiê forjado para jogar lama na imagem da mulher de FHC. Na página 224 do livro Ruth Cardoso: Fragmentos de uma Vida, o escritor Ignácio de Loyola Brandão recorda o ataque traiçoeiro, repulsivo e muito mais doloroso que qualquer palavrão. Confira:
“Ruth Cardoso tinha razão quanto a querer se distanciar da política como ela é feita no Brasil e em certos setores de Brasília. Ela, que sempre foi uma pessoa célebre pela integridade e pelo cuidado com a coisa pública, se viu ameaçada pela então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com um escândalo em torno de um dossiê sobre os gastos corporativos da Presidência, em que alegava que Ruth havia despendido milhares de reais ou dólares em compras fúteis, inúteis e banais, em vinhos e comidas. Caiu mal no mundo político, no qual Ruth sempre foi respeitada até mesmo pelos adversários mais ferrenhos. O jornalista Augusto Nunes, que tem um blog dos mais visitados, não resistiu e comentou: “Dilma foi a primeira a agredir uma mulher gentil, suave, e também por isso tratada com respeito até por ferozes inimigos do marido”. Pegaram pesado e Ruth sentiu o baque, logo ela que sempre teve o cuidado de separar o privado do público, até mesmo no aluguel de filmes exibidos no palácio. O dossiê teria sido preparado pela secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. As reações contra o dossiê foram imediatas e a chefe da Casa Civil se desculpou, voltou atrás. Ruth, elegantemente, ainda que magoadíssima, aceitou as desculpas, porém o círculo íntimo sabe quanto isso a feriu e atingiu um coração já afetado.”
A frase citada por Loyola é um trecho do post publicado em 26 de novembro de 2009 com o título Ruth Cardoso vs Dilma: 400 a 0. Leia a íntegra do texto:
Ruth Cardoso foi a prova definitiva de que milagres civilizatórios ocorrem mesmo nos grotões do planeta. A discreta e talentosa paulista de Araraquara, que se casou muito jovem com o sociólogo carioca Fernando Henrique Cardoso, seria a única primeira-dama a desembarcar em Brasília com profissão definida, luz própria e opiniões a emitir ─ sempre com autonomia intelectual e, se necessário, elegante contundência. Durante oito anos, o brilho da mulher que sabia o que dizia somou-se à luminosidade da antropóloga respeitada em muitos idiomas para clarear o coração do poder.
No fim de 1994, por não imaginarem com quem logo lidariam, muitos jornalistas ouviram com ceticismo a justificativa apresentada pelo presidente eleito para a viagem à Rússia: “Vou como acompanhante da Ruth”. Ela participaria como palestrante de um congresso de antropologia promovido em Moscou, ele aproveitaria para descansar alguns dias. Nenhum repórter cuidou de conferir o desempenho da palestrante. Perderam todos a chance de descobrir que Ruth era muito mais que a mulher do n° 1.
A melhor e mais brilhante das primeiras-damas abdicou do título já no dia da posse do marido. “Isso é uma caricatura do original americano, esse cargo não existe”, resumiu numa entrevista. Se não existia, Ruth inventou-o. Sem pompas nem fitas, longe de fanfarras e rojões, montou o impressionante conjunto de ações enfeixadas no programa Comunidade Solidária. Em dezembro de 2002, os projetos em execução mobilizavam 135 mil alfabetizadores, 17 mil universitários e professores, 2.500 associações comunitárias, 300 universidades e 45 centros de voluntariado.
Acabou simbolicamente promovida a primeira-dama da República no dia da morte que pareceria prematura ainda que tivesse mais de 100 anos. A cerimônia do adeus comprovou que o Brasil se despedia, comovido, de alguém que o fizera parecer menos primitivo, mais respirável, menos boçal. E que merecia ter morrido sem conhecer a fábrica de dossiês cafajestes da Casa Civil chefiada por Dilma Rousseff.
Instruída para livrar o governo da enrascada em que se metera com a gastança dos cartões corporarativos, Dilma produziu um papelório abjeto que tentava reduzir Fernando Henrique e Ruth Cardoso a perdulários incuráveis, uma dupla decidida a desperdiçar o dinheiro da nação em vinhos caros e futilidades gastronômicas. Dilma foi a primeira a agredir uma mulher gentil, suave, e também por isso tratada com respeito até por ferozes inimigos do marido.
A fraude que virou candidata à presidência anda propondo que o país compare Fernando Henrique a Lula. “O Lula ganha de 400 a 0″, delira. Qualquer partido mais competente e menos poltrão teria topado há muito tempo esse confronto entre a seriedade e a bravata, entre o conhecimento e a ignorância, entre o moderno e o antigo, entre o real e o imaginário. Em vez de capitular sem combate, o PSDB poderia ao menos sugerir que se compare Dilma Rousseff a Ruth Cardoso. A Mãe do PAC aprenderia o que é perder por um placar de 400 a zero.
Passados quatro anos e meio, o que Dilma ouviu no Itaquerão mostrou que 400 a 0 é pouco.
PUBLICADO EM 14 DE MARÇO
Imagine um zagueiro que, aos 45 minutos do segundo tempo, ignora as advertências dos companheiros e faz o gol contra que leva à prorrogação. No intervalo, o dono da bola aproveita a saída involuntária de um craque do time que dominava a partida para substituí-lo por um novato disposto a ajudar o adversário. O truque não impede a derrota da equipe credenciada pelo apreço ao jogo sujo a conquistar a taça do campeonato dos presidiários. Mas a vitória fica com cara de empate. Em vez de envergonhar-se da jogada irresponsável que mudara o rumo da partida, o zagueiro trapalhão usa os segundos finais para caprichar em embaixadas, passes de trivela e outras firulas inúteis.
O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, primeiro condenou com singular veemência os quadrilheiros do mensalão. Em seguida, resolveu socorrê-los com a aceitação de embargos infringentes de aplicação tão duvidosa que foram rejeitados por cinco ministros. O voto de Celso de Mello forçou um segundo julgamento. Graças a mudanças espertas na composição do Supremo Tribunal Federal, os culpados já se haviam livrado da acusação por formação de quadrilha quando Celso de Mello começou a ler o seu palavrório. Sem aparentar remorso, voltou a afirmar que os corruptos juramentados são também quadrilheiros. Merecem, portanto, ficar um bom tempo na cadeia da qual logo sairão graças à vaidade e à teimosia do decano.
Celso de Mello é o zagueiro de toga.
PUBLICADO EM 10 DE ABRIL
“Faz muitos anos que eu queria olhar nos olhos do senhor e fazer essas perguntas”, disse a deputada Mara Gabrilli em meio à interpelação que interrompeu a procissão de platitudes que o ministro Gilberto Carvalho desfiava, no fim da tarde desta quarta-feira, durante a sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. Por mais de seis minutos, a parlamentar do PSDB paulista acuou o secretário-geral da Presidência com a evocação de perturbadoras agravantes que envolvem o assassinato do prefeito Celso Daniel, ocorrido em janeiro de 2002. Tentando controlar a emoção que em alguns momentos embargou a voz sempre suave, a deputada que um acidente de carro imobilizou na carreira de rodas abriu a ofensiva com a história do pai, dono de uma empresa de ônibus.
Vítima do esquema corrupto montado na prefeitura de Santo André para extorquir empresários do setor, e irrigar com boladas de bom tamanho as campanhas eleitorais do PT, ele era pressionado todos os meses “por uma gangue” ─ liderada, segundo Mara, por Klinger de Souza (subsecretário de Celso Daniel), Ronan Pinto (hoje proprietário do Diário do Grande ABC) e Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, denunciado pelo Ministério Público como mandante do crime. “O senhor sempre foi conhecido como o homem do carro preto”, disse a deputada ao ministro. “Era a pessoa que realmente pegava essa coleta de dinheiro extorquido de empresários e levava para o capo, como era conhecido o José Dirceu. Isso eu não li. Isso eu vivenciei”.
Depois de invocar os testemunhos dos irmãos de Celso Daniel e o depoimento de Romeu Tuma Junior, ex-secretário nacional de Justiça, publicado no livro “Assassinato de Reputações”, a deputada seguiu alternando acusações e cobranças. Quis saber se Carvalho também acha que os fins justificam os meios e estranhou o descaso do ministro pelo esclarecimento de um episódio que comoveu e continua intrigando o país inteiro. “Por que o senhor não ajuda a apressar o julgamento do Sombra?”, perguntou, identificando pelo apelido o réu Sérgio Gomes da Silva, processado como mandante do assassinato. “O senhor não se incomoda com isso?”
Desconcertado, Carvalho reprisou o palavrório que recita há mais de dez anos. Alegou que “foi a Polícia Civil de São Paulo comandada pelo PSDB” que reduziu a crime comum uma execução encomendada. Como fez há três meses, prometeu acionar judicialmente Romeu Tuma Junior. E jurou que ninguém sofreu tanto quanto ele com a morte do “amigo e mestre” Celso Daniel. Caprichando na pose de quem acabou de chegar ao velório, declamou mais de uma vez o mantra predileto: “Isso dói”.
Certamente doeu mais a surra verbal que levou de Mara Gabrilli.
PUBLICADO EM 20 DE NOVEMBRO
O que há com a oposição brasileira ressuscitada por 51 milhões de eleitores que a impede de avançar pelo caminho mais curto para o Planalto, desbravado pela Polícia Federal, balizado pelo Ministério Público e pavimentado pela Justiça Federal? O que falta para os engajados nos protestos de rua entenderem que o escândalo da Petrobras, mais que qualquer outro caso político-policial da era lulopetista, tira o sono do governo e expõe a presidente Dilma Rousseff ao enquadramento judicial que tornará inevitável o pedido de impeachment?
“Nosso foco tem que ser o Petrolão”, afirmou o senador paulista Aloysio Nunes na tarde de 15 de novembro, enquanto aguardava na Avenida Paulista o início da manifestação convocada para aquele sábado. “Precisamos exigir a apuração das denúncias que envolvem a Petrobras e a punição dos responsáveis pelo esquema de corrupção. O impeachment é questão a ser examinada quando houver provas que confirmem a participação da presidente em fatos criminosos”, resumiu o candidato a vice-presidente de Aécio Neves, um dos raros tucanos que usam frequentemente a tribuna para fustigar sem clemência o governo que pariu e amamentou o Petrolão.
Por enquanto, é diminuta a bancada de parlamentares que, como Aloysio, compreenderam que a Operação Lava Jato depositou no colo da oposição a bandeira agregadora com que sonha todo partido ou movimento político. A maioria dos congressistas contempla com placidez a procissão de ineditismos, recordes e cifras de espantar banqueiro americano. Pelo menos 10 bilhões de dólares saíram pelo ralo das propinas. A quadrilha juntou diretores da Petrobras, grandes empreiteiros, figurões do PT e de outros partidos governistas, especialistas em lavagem de dinheiro, deputados, senadores, ministros de Estado, governadores, policiais delinquentes.
As propinas eram calculadas em milhões de dólares. Um bilhão de reais virou unidade monetária. Nunca antes neste país uma empresa subordinada ao governo foi saqueada com tanta gula, por tanto tempo e com tanta desfaçatez. Nunca antes neste planeta se roubou tanto dinheiro. Sobram provas e evidências contundentes de que Lula e Dilma Rousseff sabiam do que se passava nas catacumbas da Petrobras. Tanto o padrinho quanto a afilhada ignoraram advertências do Tribunal de Contas da União e mantiveram abertas as porteiras pelas quais passaram incontáveis contratos aditivados e contas superfaturadas.
A sorte do Brasil decente é que o bando de larápios cinco estrelas topou com homens da lei decididos a impedir que, como sempre ocorre no faroeste à brasileira, a história terminasse com o triunfo do vilão. A performance dos xerifes superou em competência e audácia o desempenho da bandidagem. Nenhuma operação da PF foi tão ágil e precisa quanto a Lava Jato. Os representantes do Ministério Público fizeram as perguntas certas e extraíram dos depoentes informações que completaram o quebra-cabeças. E o juiz federal Sérgio Moro é o homem certo no lugar certo.
Desde o começo do caso, Moro tem aplicado exemplarmente o principio constitucional segundo o qual todos são iguais perante a lei. Ninguém é mais igual que os outros, acabam de aprender os quadrilheiros que tiveram a prisão temporária transformada em prisão preventiva. Confrontados com um magistrado sem medo, delinquentes de fina estampa acharam mais sensato devolver as fortunas tungadas e contar o que sabiam em troca de penas menos severas. Pela primeira vez desde o Descobrimento, ricaços inimputáveis foram transferidos sem escalas do topo da pirâmide social para uma cela em Curitiba.
Empreiteiros que vão de jatinho até ao clube ali na esquina estão dormindo na cadeia. Compreensivelmente, a fila de candidatos à delação premiada é de dar inveja ao INSS ─ e vai crescer muitos metros com a iminente entrada em cena do bloco dos políticos. Lula perdeu a voz e sumiu, como sempre faz quando sobram culpas e faltam álibis. Dilma ainda convalesce da viagem que começou na Austrália e terminou no olho do furacão. Graça Foster faz o que pode para escapar do desemprego. Advogados pagos em dólares por minuto recorrem a palavrórios de rábula para explicar o inexplicável.
Os balidos do rebanho sem pastores repetem que a corrupção nasceu já no Dia da Criação. Fingem ignorar que foi elevada à categoria de arte pelo PT, e com tamanho atrevimento que até o Departamento de Justiça dos EUA e o governo holandês resolveram entrar no saloon dominado pelos pistoleiros. Os vencedores da eleição estão nas cordas ─ e grogues. Antes que tentem debitar também o Petrolão na conta de FHC, os oposicionistas têm o dever de lutar pela punição dos autores do crime.
A decomposição financeira e moral da Petrobras é a mais recente e repulsiva obra da seita cujo primeiro mandamento ensina que os fins justificam os meios. O aparelhamento amoral, a revogação da meritocracia, a remoção da fronteira que separa o público e o privado, a subordinação dos interesses nacionais a afinidades ideológicas, o assassinato da ética, a compulsão liberticida, a corrupção institucionalizada, a inépcia paralisante ─ todos os tumores que infestam o PT desde o nascimento se conjugaram para levar ao estado de coma o que já foi uma potência mundialmente respeitada.
O Petrolão avisa aos berros que chegou a hora de forçar o recuo dos celebrantes de missa negra. Para tanto, a oposição democrática só precisa avançar sem hesitação pelo caminho que devassa as catacumbas da Petrobras antes de chegar à Praça dos Três Poderes.
PUBLICADO EM 23 DE SETEMBRO
Instituída no governo Lula, a política externa da canalhice foi encampada com muita animação por Dilma Rousseff. Ao longo de oito anos, o padrinho sempre escolheu o lado errado. Nesta terça-feira, ao baixar em Nova York, a afilhada confirmou que nunca perde alguma chance de envergonhar o país que presta. Ao comentar a ofensiva militar americana contra o Estado Islâmico, Dilma solidarizou-se com a turma da caverna e garantiu que, embora não pareça, até decepadores de cabeças aceitam convites para um diálogo civilizado. “Lamento enormemente os ataques na Síria”, recitou em dilmês primitivo. “Nos últimos tempos, todos os últimos conflitos que se armaram tiveram uma consequência: perda de vidas humanas dos dois lados”.
O choro de Dilma depende da nacionalidade do morto. Ela não derramou uma única e escassa lágrima pelas incontáveis vítimas do bando de fanáticos. Não deu um pio sobre a decapitação ─ em ritos repulsivos filmados pelos carrascos e transformados em programas de TV ─ de dois jornalistas e um agente humanitário. Não emitiu nenhum sinal de desconforto com os massacres intermináveis, os estupros selvagens, a rotina da tortura, a pena de morte por heresia aplicada a quem não se subordina aos dogmas da seita. A presidente só “lamenta enormemente” a perda de aliados na guerra irremediavelmente perdida que move desde a juventude contra o imperialismo ianque.
Erguido durante a entrevista coletiva convocada pela doutora em nada, o monumento ao cinismo foi implodido por uma nota subscrita por Ban Ki-Moon, secretário-geral da Organização das Nações Unidas. Além de endossar os bombardeios americanos, Ki-Moon lembrou que os devotos da barbárie só serão contidos por mais operações militares semelhantes às executadas pelos Estados Unidos. Sem ter lido o documento, Dilma avisou que o besteirol seria reprisado em seu discurso na ONU. Caso cumpra a promessa, todos os presentes entenderão por que um representante do governo de Israel, inconformado com o ostensivo apoio do governo lulopetista ao Hamas, qualificou o país de “anão diplomático”
Entre o governo constitucional paraguaio e o presidente deposto Fernando Lugo, Dilma escolheu o reprodutor de batina. Também se juntou aos patifes da vizinhança na conspiração que afastou do Mercosul o Paraguai e permitiu a entrada da Venezuela chavista, fez todas as vontades do bolívar-de-hospício que virou passarinho, arranjou até um estoque de papel higiênico para adiar o naufrágio de Nicolás Maduro, curvou-se aos caprichos do lhama-de-franja que reina na Bolívia, presenteou a ditadura cubana com o superporto que o Brasil não tem e transformou a Granja do Torto em residência de verão de Raúl Castro. Fora o resto.
O apoio enviesado ao Estado Islâmico é também uma prova de coerência. Só poderia agir assim quem fez há pelo menos 12 anos a opção preferencial pela infâmia.
PUBLICADO EM 09 DE SETEMBRO
“A Petrobras já está privatizada”, informa o título do post publicado em 10 de junho de 2010. Aparecem no texto, inspirado no surto de chiliques provocado pela criação de uma CPI incumbida de investigar a estatal, personagens que acabam de sair da caixa preta em poder do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Confira: O presidente Lula ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Depois de ter feito o possível para interromper a gestação, agora faz o possível para matá-la no berço. Baseado no critério do prontuário, entregou a Renan Calheiros o comando do grupo de extermínio montado para o justiçamento. O senador do PMDB alagoano, diplomado com louvor na escolinha que ensina a delinquir impunemente, é especialista no assassinato de qualquer coisa que ponha em risco o direito conferido aos congressistas leais ao Planalto de roubar sem sobressaltos. O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Caprichando no palavrório que identifica os nacionalistas de galinheiro, qualificou de “inimigos da pátria” os partidários da devassa na empresa ─ o que promove automaticamente a defensores da nação em perigo os que tentam manter fechada a caixa preta. Gente como Renan Calheiros. Ou Ideli Salvatti. Ou Fernando Collor. Ou Romero Jucá, em aquecimento para encarnar o papel de relator que impede a coleta de relatos relevantes. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Governista seja qual for o governo, o agregado da Famiglia Sarney conhecido na Polícia Federal pela alcunha de Magro Velho alegou que iluminar os porões de uma empresa que é a cara do Brasil Maravilha espanta clientes, fornecedores e possíveis parceiros. Se conhecessem a folha corrida de Lobão, todos os clientes, fornecedores e possíveis parceiros já teriam saído em desabalada carreira das cercanias da Petrobrás e do gabinete do ministério. Os modernos pelegos ficaram muito irritados com a instauração da CPI da Petrobras. Jovens velhacos da UNE berraram que o petróleo é nosso para plateias insuficientes para eleger um vereador de grotão. Velhos velhacos da CUT garantiram que CPI gera desemprego para gente mais interessada no kit dupla sertaneja+pão com mortadela+tubaína. Vigaristas do PT, do PP e do PMDB lembraram aos sussurros que o petróleo é nosso, mas a eles compete a escolha dos diretores incumbidos de cuidar dos interesses dos padrinho, do partido e do país, nessa ordem. Tudo somado, e embora a CPI nem tenha ainda saído do papel, ficou mais difícil acusar os partidos de oposição, a elite golpista, os paulistas quatrocentões, os capitalistas selvagens e os loiros de olhos azuis de tramarem nas sombras a privatização da Petrobrás. A empresa já foi privatizada ─ sem licitação. O novo dono é o PT, que arrendou parte do latifúndio à base alugada. Em 29 de outubro de 2009, os representantes da oposição abandonaram a CPI. “Todos os requerimentos importantes são arquivados sem discussão pela maioria governista”, disse o senador Álvaro Dias, que propusera a instauração da comissão. Em 17 de dezembro, ao fim de 14 sessões reduzidas a shows de cinismo, foi aprovado o papelório de 359 páginas “destinado a contribuir com a Petrobras e com o Brasil” . O relator Jucá concluiu que todos os culpados eram inocentes, não enxergou nenhuma irregularidade na compra de plataformas e viu apenas maledicências nas denúncias de superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Jucá, Lobão, Renan, chefões do PP, cardeais do PMDB, Altos Companheiros do PT ─ um a um, os saqueadores da Petrobras, abraçados aos comparsas que ampliaram a quadrilha nos últimos anos, vão sendo expelidos do baú de bandalheiras aberto por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento e Refino. Foi para seguir embolsando sem sobressaltos propinas bilionárias que os assassinos de CPIs escavaram em 2009 a cova rasa prestes a acolher outras duas comissões que agonizam no Congresso. O enterro de CPIs não impediu a exumação das verdades que têm assombrado desde sábado o Brasil que presta. Para resgatar os fatos, foi suficiente que uma oportuníssima conjunção dos astros juntasse agentes da Polícia Federal, procuradores de Justiça e um magistrado desprovidos do sentimento do medo. O acordo de delação premiada foi consequência do trabalho exemplar dos que investigaram, da altivez dos que acusaram e, sobretudo, da coragem do juiz federal Sergio Moro, que tornou a prender o ex-diretor da Petrobras inexplicavelmente libertado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. O acordo que induziu Paulo Roberto Costa a abrir o bico, aliás, precisa ser homologado por Zavascki. Precavido, Moro deixou claro ao depoente que, para livrar-se de envelhecer na prisão, teria de fornecer nomes e provas que permitissem a completa desmontagem do esquema criminoso e, portanto, justificassem a delação premiada. É o que o ex-diretor da Petrobras tem feito nos interrogatórios diários que duram em média quatro horas. A menos que tenha perdido o juízo, restará a Zavascki chancelar o acordo sem falatórios em juridiquês. O país decente acaba de descobrir que a praga da corrupção impune pode ser erradicada sem que parlamentares e ministros togados ajudem. Basta que não atrapalhem. Basta que não tentem eternizar o faroeste à brasileira — único do gênero em que o vilão sempre escapa do xerife e nunca perde o controle da terra sem lei.
PUBLICADO EM 18 DE AGOSTO
PUBLICADO EM 30 DE JULHO
Até o colunista acharia que o título do post é coisa da elite golpista, gente que acorda e dorme debochando da presidente da República, se não pudesse apresentar como prova o vídeo que registra um trecho das considerações finais de Dilma Rousseff na sabatina da CNI. A candidata à reeleição começa discorrendo sobre as variações do preço do gás no mercado internacional, estaciona de novo em reticências bêbadas e diz o seguinte:
“Na Ucrânia pagam 13 dólares o… o milhão de BTU. Mas.. 4 pra 13 dá sete.. pagam… quanto é que paga? Depois do furacão.. (Uma alma caridosa na plateia corrige a maluquice aritmética: NOVE!). Aliás 4 pra 13 dá 9.. eu tô pensando no furacão Ka.. o furacão não.. em Fugujima (sic)… Como é que chama.. no Japão.. O tsunami…”
Pena que o vídeo não tenha incluído o fecho recitado em dilmês erudito: “No Japão a diferença é aquela que eu disse”. O Japão jamais saberá que diferença é essa. Mas todos os japoneses sabem que Fukushima nunca foi “Fugujima” sempre foi Fukushima. E aprendem ainda na infância que 13 menos 4 jamais será igual a 7.
PUBLICADO EM 5 DE MAIO
Nada como uma vaia atrás da outra para embaralhar a partitura da ópera dos malandros, desafinar o coro dos contentes, tirar o sono dos sacerdotes da seita, emudecer o seu único deus, escancarar a indigência mental da guardiã do rebanho, abalar a fé do mais fanático devoto, induzir convertidos de aluguel a flertar com outros altares. Nada como uma vaia atrás da outra para assombrar as madrugadas de quem até outro dia dormia contando votos da vitória no primeiro turno e acordava sonhando com a proclamação da república bolivariana.
As manifestações de rua de 2013 implodiram a farsa do Brasil Maravilha, mas os alvos dos protestos não foram identificados tão claramente quanto neste outono. Os destinatários das mensagens sonoras agora têm nome, sobrenome, endereço e filiação partidária. Cresce em progressão geométrica a imensidão de brasileiros que enxergam as coisas como as coisas são. Milhões de lesados descobriram que o bando acampado no coração do poder foi longe demais até para os padrões do País do Carnaval.
Todos constataram que o governo lulopetista recruta e acoberta corruptos. Que a roubalheira impune agora é medida em bilhões de dólares. Que os ineptos e os larápios se associaram para enterrar em estádios padrão Fifa o dinheiro que poderia abrandar pavorosas carências no universo da saúde e da educação. Que as promessas não descem dos palanques. Constataram, enfim, que lidam há 12 anos com vendedores de nuvens e camelôs de si próprios.
Alheio às alterações na paisagem, o marqueteiro João Santana imaginou, depois de consumir uma semana na releitura de pesquisas recentes, que a curva descendente da candidata à reeleição seria invertida por outro comício eletrônico transmitido em cadeia nacional. Péssima ideia: a discurseira na véspera do Dia do Trabalho só serviu para comprovar que as cartas na manga vão minguando, que as mágicas de picadeiro vão perdendo o prazo de validade e que truques outrora infalíveis ficaram grisalhos.
Habituada a conjugar impunemente os três verbos preferidos de Lula — mentir, tapear, distorcer —, Dilma descobriu que o senador Aécio Neves e o ex-governador Eduardo Campos não pretendem deixar nenhum embuste sem revide. Dispostos a provar que a oposição voltou de vez das férias, os candidatos do PSDB e do PSB acabarão assumindo o papel de porta-vozes dos descontentes. Só assim conseguirão sintonizar-se com os milhões de integrantes da resistência democrática, que desde sempre combate sem tréguas a tropa mobilizada para transformar o Brasil numa Venezuela que fala português.
Dilma garantiu, por exemplo, que “a inflação continuará rigorosamente sob controle”. Ouviu que não se pode continuar o que não começou. Ao “reafirmar o compromisso do governo com o combate incessante e implacável à corrupção”, foi convidada a suspender a guerra de extermínio movida contra quem se atreve a investigar patifarias bilionárias consumadas nas catacumbas da Petrobras. E a tentativa de responsabilizar a oposição pelos estragos na imagem da estatal saqueada soou como anedota improvisada por patriotas de galinheiro.
“Os brasileiros não aceitam mais a hipocrisia”, recitou no fim do comício. Não aceitam mesmo, reiteraram as comemorações do Primeiro de Maio em São Paulo. Pela primeira vez desde a fundação do PT em 1980, figurões do Partido dos Trabalhadores foram impedidos de discursar no Dia do Trabalho. O ministro Ricardo Berzoini e o prefeito Fernando Haddad, por exemplo, não conseguiram abrir a boca sequer no palanque da CUT, controlada desde sempre por pelegos companheiros. Lula e Dilma nem deram as caras por lá. Na tarde seguinte, obrigada a visitar a Expozebu, a presidente reencontrou em Uberaba — três vezes — as vaias das quais escapara na véspera.
Nas primeiras 72 horas de maio, João Santana aprendeu, entre outras lições sempre úteis, que o país que não é para amadores também trata sem clemência adivinhos de botequim. Confrontado com a epidemia de apupos (e com mais uma pesquisa atulhada de más notícias para o Planalto), ele certamente se lembrou da entrevista, concedida em dezembro de 2010, em meio à qual resolveu restaurar a monarquia, transformar o gabinete presidencial em sala do trono e coroar Dilma Rousseff.
“Como se trata de uma figura única, que uma nação precisa de séculos pra construir, a ausência de Lula deixa uma espécie de vazio oceânico”, pontificou o arauto do reino. Apesar disso, ou por isso mesmo, Dilma tinha tudo para transformar-se na herdeira que todo súdito pede a Deus. “A República brasileira não produziu uma única grande figura feminina, nem mesmo conjugal”, ensinou Santana. “O espaço metafórico da cadeira da rainha só foi parcialmente ocupado pela princesa Isabel. Dilma tem tudo para ocupar esse espaço”.
Em novembro de 2012, festejou o acerto da profecia. “Foi uma metáfora que está se cumprindo simbolicamente”, cumprimentou-se o imaginoso baiano. “Grandes camadas da população têm um respeito, uma admiração e um carinho tão sutil por Dilma que chega até a ser de uma forma majestática”. Os fatos já aposentaram faz tempo o professor de história e o vidente. O marqueteiro só sobreviverá se esquecer os escombros do trono e concentrar-se nas rachaduras do palanque.
Mas vai perder seu tempo se ceder à tentação de descobrir a cura da vaia. E acabará perdendo o emprego.
PUBLICADO EM 26 DE ABRIL
Ainda convalescendo de discursos recentes, o jornalista CELSO ARNALDO ARAÚJO foi abalroado pelo palavrório de Dilma Rousseff no Pará. Imediatamente, mandou três trechos escoltados por observações que imploram por internações no Sanatório Geral. Mas uma trinca de comentários de Celso Arnaldo é coisa para o Direto ao Ponto. Confira. (AN) De tempos em tempos, a Dilma faz um discurso que supera os anteriores e passa a vigorar, pelo menos por alguns dias, como o pior de todos os tempos. Este, feito ontem no interior do Pará, em mais uma daquelas transcendentais entregas da santíssima trindade “retroescavadeira, motoniveladora e pás carregadeiras” para municípios com menos de 50 mil habitantes, é quase imbatível. Pelo menos até o próximo… Sem nenhum esforço, a esmo, pincei três passagens que, na verdade, falando sério, simbolizam, no reino das palavras e das ideias, o maior enigma da História do Brasil e de suas brasileirices – como alguém como Dilma Rousseff chegou à Presidência da República? A DILMA COMO ELA É “Vocês vejam como é que é a vida. Eu nunca acho uma Dilma, e hoje uma Dilma fala e a outra Dilma depois fala”. (Na abertura do discurso na entrega de 32 máquinas a municípios do Pará, dirigindo-se à prefeita de Belterra, Dilma Serrão, ao confirmar que ainda não se achou e que, de todas as Dilmas do Brasil, ela é a única que não fala português) TEORIA GERAL DA DILMA “O início do Brasil e o fim do Brasil e o meio do Brasil são os municípios, porque não existe, de fato… nem é União, nem é um estado, um estado fisicamente. Existem, fisicamente, os municípios, as cidades e as zonas rurais”. (Ao admitir que o Brasil não precisa de uma presidente da República) PRA FRENTE, PARÁ “Então, eu vou concluir dizendo para a maioria e para a minoria, para todos, por que é que eu dei esse exemplo? Eu dei esse exemplo pelo seguinte, eu quero dizer para vocês que o Brasil só vai para frente se o Pará for para frente”. (No fecho do discurso, ao anunciar que, se o Pará for para frente, o Brasil – onde maioria e minoria formam o todo – ganha mais um pedaço do Oceano Atlântico)
05 de janeiro de 2015
Coluna do Augusto Nunes, Veja
PUBLICADO EM 16 DE JUNHO
Encenado para disfarçar o nocaute sonoro sofrido por Dilma Rousseff no Itaquerão, o espetáculo da hipocrisia protagonizado pela seita lulopetista confirma o parecer do deputado paulista Duarte Nogueira: “Eles são incapazes capazes de tudo”. Messalinas de longo curso capricham na pose de virgem profissional para ensinar que não se faz uma coisa dessas com alguém que, mais que presidente, é mulher, mãe, avó e quase setentona. O comentarista Eduardo Henrique lembra que Ruth Cardoso tinha 77 anos, filhos e netos em 2008, quando foi vítima da infâmia tramada por Dilma, então chefe da Casa Civil, em parceria com a amiga e quadrilheira Erenice Guerra.
Os que nunca enxergaram limites para nada fingem que perderam o sono com o desabafo da multidão de brasileiros cansada de ser tratada pelo governo como um bando de idiotas. São os mesmos que não viram nada de mais no caso do dossiê forjado para jogar lama na imagem da mulher de FHC. Na página 224 do livro Ruth Cardoso: Fragmentos de uma Vida, o escritor Ignácio de Loyola Brandão recorda o ataque traiçoeiro, repulsivo e muito mais doloroso que qualquer palavrão. Confira:
“Ruth Cardoso tinha razão quanto a querer se distanciar da política como ela é feita no Brasil e em certos setores de Brasília. Ela, que sempre foi uma pessoa célebre pela integridade e pelo cuidado com a coisa pública, se viu ameaçada pela então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com um escândalo em torno de um dossiê sobre os gastos corporativos da Presidência, em que alegava que Ruth havia despendido milhares de reais ou dólares em compras fúteis, inúteis e banais, em vinhos e comidas. Caiu mal no mundo político, no qual Ruth sempre foi respeitada até mesmo pelos adversários mais ferrenhos. O jornalista Augusto Nunes, que tem um blog dos mais visitados, não resistiu e comentou: “Dilma foi a primeira a agredir uma mulher gentil, suave, e também por isso tratada com respeito até por ferozes inimigos do marido”. Pegaram pesado e Ruth sentiu o baque, logo ela que sempre teve o cuidado de separar o privado do público, até mesmo no aluguel de filmes exibidos no palácio. O dossiê teria sido preparado pela secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. As reações contra o dossiê foram imediatas e a chefe da Casa Civil se desculpou, voltou atrás. Ruth, elegantemente, ainda que magoadíssima, aceitou as desculpas, porém o círculo íntimo sabe quanto isso a feriu e atingiu um coração já afetado.”
A frase citada por Loyola é um trecho do post publicado em 26 de novembro de 2009 com o título Ruth Cardoso vs Dilma: 400 a 0. Leia a íntegra do texto:
Ruth Cardoso foi a prova definitiva de que milagres civilizatórios ocorrem mesmo nos grotões do planeta. A discreta e talentosa paulista de Araraquara, que se casou muito jovem com o sociólogo carioca Fernando Henrique Cardoso, seria a única primeira-dama a desembarcar em Brasília com profissão definida, luz própria e opiniões a emitir ─ sempre com autonomia intelectual e, se necessário, elegante contundência. Durante oito anos, o brilho da mulher que sabia o que dizia somou-se à luminosidade da antropóloga respeitada em muitos idiomas para clarear o coração do poder.
No fim de 1994, por não imaginarem com quem logo lidariam, muitos jornalistas ouviram com ceticismo a justificativa apresentada pelo presidente eleito para a viagem à Rússia: “Vou como acompanhante da Ruth”. Ela participaria como palestrante de um congresso de antropologia promovido em Moscou, ele aproveitaria para descansar alguns dias. Nenhum repórter cuidou de conferir o desempenho da palestrante. Perderam todos a chance de descobrir que Ruth era muito mais que a mulher do n° 1.
A melhor e mais brilhante das primeiras-damas abdicou do título já no dia da posse do marido. “Isso é uma caricatura do original americano, esse cargo não existe”, resumiu numa entrevista. Se não existia, Ruth inventou-o. Sem pompas nem fitas, longe de fanfarras e rojões, montou o impressionante conjunto de ações enfeixadas no programa Comunidade Solidária. Em dezembro de 2002, os projetos em execução mobilizavam 135 mil alfabetizadores, 17 mil universitários e professores, 2.500 associações comunitárias, 300 universidades e 45 centros de voluntariado.
Acabou simbolicamente promovida a primeira-dama da República no dia da morte que pareceria prematura ainda que tivesse mais de 100 anos. A cerimônia do adeus comprovou que o Brasil se despedia, comovido, de alguém que o fizera parecer menos primitivo, mais respirável, menos boçal. E que merecia ter morrido sem conhecer a fábrica de dossiês cafajestes da Casa Civil chefiada por Dilma Rousseff.
Instruída para livrar o governo da enrascada em que se metera com a gastança dos cartões corporarativos, Dilma produziu um papelório abjeto que tentava reduzir Fernando Henrique e Ruth Cardoso a perdulários incuráveis, uma dupla decidida a desperdiçar o dinheiro da nação em vinhos caros e futilidades gastronômicas. Dilma foi a primeira a agredir uma mulher gentil, suave, e também por isso tratada com respeito até por ferozes inimigos do marido.
A fraude que virou candidata à presidência anda propondo que o país compare Fernando Henrique a Lula. “O Lula ganha de 400 a 0″, delira. Qualquer partido mais competente e menos poltrão teria topado há muito tempo esse confronto entre a seriedade e a bravata, entre o conhecimento e a ignorância, entre o moderno e o antigo, entre o real e o imaginário. Em vez de capitular sem combate, o PSDB poderia ao menos sugerir que se compare Dilma Rousseff a Ruth Cardoso. A Mãe do PAC aprenderia o que é perder por um placar de 400 a zero.
Passados quatro anos e meio, o que Dilma ouviu no Itaquerão mostrou que 400 a 0 é pouco.
Celso de Mello fez o gol contra que deixou a vitória da Justiça com cara de empate
PUBLICADO EM 14 DE MARÇO
Imagine um zagueiro que, aos 45 minutos do segundo tempo, ignora as advertências dos companheiros e faz o gol contra que leva à prorrogação. No intervalo, o dono da bola aproveita a saída involuntária de um craque do time que dominava a partida para substituí-lo por um novato disposto a ajudar o adversário. O truque não impede a derrota da equipe credenciada pelo apreço ao jogo sujo a conquistar a taça do campeonato dos presidiários. Mas a vitória fica com cara de empate. Em vez de envergonhar-se da jogada irresponsável que mudara o rumo da partida, o zagueiro trapalhão usa os segundos finais para caprichar em embaixadas, passes de trivela e outras firulas inúteis.
O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, primeiro condenou com singular veemência os quadrilheiros do mensalão. Em seguida, resolveu socorrê-los com a aceitação de embargos infringentes de aplicação tão duvidosa que foram rejeitados por cinco ministros. O voto de Celso de Mello forçou um segundo julgamento. Graças a mudanças espertas na composição do Supremo Tribunal Federal, os culpados já se haviam livrado da acusação por formação de quadrilha quando Celso de Mello começou a ler o seu palavrório. Sem aparentar remorso, voltou a afirmar que os corruptos juramentados são também quadrilheiros. Merecem, portanto, ficar um bom tempo na cadeia da qual logo sairão graças à vaidade e à teimosia do decano.
Celso de Mello é o zagueiro de toga.
Não perca: no vídeo, a deputada Mara Gabrilli interpela Gilberto Carvalho sobre o caso Celso Daniel e acusa ‘o homem do carro preto’ de repassar a José Dirceu o dinheiro extorquido de empresários
PUBLICADO EM 10 DE ABRIL
“Faz muitos anos que eu queria olhar nos olhos do senhor e fazer essas perguntas”, disse a deputada Mara Gabrilli em meio à interpelação que interrompeu a procissão de platitudes que o ministro Gilberto Carvalho desfiava, no fim da tarde desta quarta-feira, durante a sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. Por mais de seis minutos, a parlamentar do PSDB paulista acuou o secretário-geral da Presidência com a evocação de perturbadoras agravantes que envolvem o assassinato do prefeito Celso Daniel, ocorrido em janeiro de 2002. Tentando controlar a emoção que em alguns momentos embargou a voz sempre suave, a deputada que um acidente de carro imobilizou na carreira de rodas abriu a ofensiva com a história do pai, dono de uma empresa de ônibus.
Vítima do esquema corrupto montado na prefeitura de Santo André para extorquir empresários do setor, e irrigar com boladas de bom tamanho as campanhas eleitorais do PT, ele era pressionado todos os meses “por uma gangue” ─ liderada, segundo Mara, por Klinger de Souza (subsecretário de Celso Daniel), Ronan Pinto (hoje proprietário do Diário do Grande ABC) e Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, denunciado pelo Ministério Público como mandante do crime. “O senhor sempre foi conhecido como o homem do carro preto”, disse a deputada ao ministro. “Era a pessoa que realmente pegava essa coleta de dinheiro extorquido de empresários e levava para o capo, como era conhecido o José Dirceu. Isso eu não li. Isso eu vivenciei”.
Depois de invocar os testemunhos dos irmãos de Celso Daniel e o depoimento de Romeu Tuma Junior, ex-secretário nacional de Justiça, publicado no livro “Assassinato de Reputações”, a deputada seguiu alternando acusações e cobranças. Quis saber se Carvalho também acha que os fins justificam os meios e estranhou o descaso do ministro pelo esclarecimento de um episódio que comoveu e continua intrigando o país inteiro. “Por que o senhor não ajuda a apressar o julgamento do Sombra?”, perguntou, identificando pelo apelido o réu Sérgio Gomes da Silva, processado como mandante do assassinato. “O senhor não se incomoda com isso?”
Desconcertado, Carvalho reprisou o palavrório que recita há mais de dez anos. Alegou que “foi a Polícia Civil de São Paulo comandada pelo PSDB” que reduziu a crime comum uma execução encomendada. Como fez há três meses, prometeu acionar judicialmente Romeu Tuma Junior. E jurou que ninguém sofreu tanto quanto ele com a morte do “amigo e mestre” Celso Daniel. Caprichando na pose de quem acabou de chegar ao velório, declamou mais de uma vez o mantra predileto: “Isso dói”.
Certamente doeu mais a surra verbal que levou de Mara Gabrilli.
Para apressar o fim da era lulopetista, a oposição precisa percorrer sem medo o caminho desbravado pelo Petrolão
PUBLICADO EM 20 DE NOVEMBRO
O que há com a oposição brasileira ressuscitada por 51 milhões de eleitores que a impede de avançar pelo caminho mais curto para o Planalto, desbravado pela Polícia Federal, balizado pelo Ministério Público e pavimentado pela Justiça Federal? O que falta para os engajados nos protestos de rua entenderem que o escândalo da Petrobras, mais que qualquer outro caso político-policial da era lulopetista, tira o sono do governo e expõe a presidente Dilma Rousseff ao enquadramento judicial que tornará inevitável o pedido de impeachment?
“Nosso foco tem que ser o Petrolão”, afirmou o senador paulista Aloysio Nunes na tarde de 15 de novembro, enquanto aguardava na Avenida Paulista o início da manifestação convocada para aquele sábado. “Precisamos exigir a apuração das denúncias que envolvem a Petrobras e a punição dos responsáveis pelo esquema de corrupção. O impeachment é questão a ser examinada quando houver provas que confirmem a participação da presidente em fatos criminosos”, resumiu o candidato a vice-presidente de Aécio Neves, um dos raros tucanos que usam frequentemente a tribuna para fustigar sem clemência o governo que pariu e amamentou o Petrolão.
Por enquanto, é diminuta a bancada de parlamentares que, como Aloysio, compreenderam que a Operação Lava Jato depositou no colo da oposição a bandeira agregadora com que sonha todo partido ou movimento político. A maioria dos congressistas contempla com placidez a procissão de ineditismos, recordes e cifras de espantar banqueiro americano. Pelo menos 10 bilhões de dólares saíram pelo ralo das propinas. A quadrilha juntou diretores da Petrobras, grandes empreiteiros, figurões do PT e de outros partidos governistas, especialistas em lavagem de dinheiro, deputados, senadores, ministros de Estado, governadores, policiais delinquentes.
As propinas eram calculadas em milhões de dólares. Um bilhão de reais virou unidade monetária. Nunca antes neste país uma empresa subordinada ao governo foi saqueada com tanta gula, por tanto tempo e com tanta desfaçatez. Nunca antes neste planeta se roubou tanto dinheiro. Sobram provas e evidências contundentes de que Lula e Dilma Rousseff sabiam do que se passava nas catacumbas da Petrobras. Tanto o padrinho quanto a afilhada ignoraram advertências do Tribunal de Contas da União e mantiveram abertas as porteiras pelas quais passaram incontáveis contratos aditivados e contas superfaturadas.
A sorte do Brasil decente é que o bando de larápios cinco estrelas topou com homens da lei decididos a impedir que, como sempre ocorre no faroeste à brasileira, a história terminasse com o triunfo do vilão. A performance dos xerifes superou em competência e audácia o desempenho da bandidagem. Nenhuma operação da PF foi tão ágil e precisa quanto a Lava Jato. Os representantes do Ministério Público fizeram as perguntas certas e extraíram dos depoentes informações que completaram o quebra-cabeças. E o juiz federal Sérgio Moro é o homem certo no lugar certo.
Desde o começo do caso, Moro tem aplicado exemplarmente o principio constitucional segundo o qual todos são iguais perante a lei. Ninguém é mais igual que os outros, acabam de aprender os quadrilheiros que tiveram a prisão temporária transformada em prisão preventiva. Confrontados com um magistrado sem medo, delinquentes de fina estampa acharam mais sensato devolver as fortunas tungadas e contar o que sabiam em troca de penas menos severas. Pela primeira vez desde o Descobrimento, ricaços inimputáveis foram transferidos sem escalas do topo da pirâmide social para uma cela em Curitiba.
Empreiteiros que vão de jatinho até ao clube ali na esquina estão dormindo na cadeia. Compreensivelmente, a fila de candidatos à delação premiada é de dar inveja ao INSS ─ e vai crescer muitos metros com a iminente entrada em cena do bloco dos políticos. Lula perdeu a voz e sumiu, como sempre faz quando sobram culpas e faltam álibis. Dilma ainda convalesce da viagem que começou na Austrália e terminou no olho do furacão. Graça Foster faz o que pode para escapar do desemprego. Advogados pagos em dólares por minuto recorrem a palavrórios de rábula para explicar o inexplicável.
Os balidos do rebanho sem pastores repetem que a corrupção nasceu já no Dia da Criação. Fingem ignorar que foi elevada à categoria de arte pelo PT, e com tamanho atrevimento que até o Departamento de Justiça dos EUA e o governo holandês resolveram entrar no saloon dominado pelos pistoleiros. Os vencedores da eleição estão nas cordas ─ e grogues. Antes que tentem debitar também o Petrolão na conta de FHC, os oposicionistas têm o dever de lutar pela punição dos autores do crime.
A decomposição financeira e moral da Petrobras é a mais recente e repulsiva obra da seita cujo primeiro mandamento ensina que os fins justificam os meios. O aparelhamento amoral, a revogação da meritocracia, a remoção da fronteira que separa o público e o privado, a subordinação dos interesses nacionais a afinidades ideológicas, o assassinato da ética, a compulsão liberticida, a corrupção institucionalizada, a inépcia paralisante ─ todos os tumores que infestam o PT desde o nascimento se conjugaram para levar ao estado de coma o que já foi uma potência mundialmente respeitada.
O Petrolão avisa aos berros que chegou a hora de forçar o recuo dos celebrantes de missa negra. Para tanto, a oposição democrática só precisa avançar sem hesitação pelo caminho que devassa as catacumbas da Petrobras antes de chegar à Praça dos Três Poderes.
A defesa do Estado Islâmico é uma prova de coerência: a condutora da política externa da canalhice jamais desperdiçou alguma chance de envergonhar o Brasil
PUBLICADO EM 23 DE SETEMBRO
Instituída no governo Lula, a política externa da canalhice foi encampada com muita animação por Dilma Rousseff. Ao longo de oito anos, o padrinho sempre escolheu o lado errado. Nesta terça-feira, ao baixar em Nova York, a afilhada confirmou que nunca perde alguma chance de envergonhar o país que presta. Ao comentar a ofensiva militar americana contra o Estado Islâmico, Dilma solidarizou-se com a turma da caverna e garantiu que, embora não pareça, até decepadores de cabeças aceitam convites para um diálogo civilizado. “Lamento enormemente os ataques na Síria”, recitou em dilmês primitivo. “Nos últimos tempos, todos os últimos conflitos que se armaram tiveram uma consequência: perda de vidas humanas dos dois lados”.
O choro de Dilma depende da nacionalidade do morto. Ela não derramou uma única e escassa lágrima pelas incontáveis vítimas do bando de fanáticos. Não deu um pio sobre a decapitação ─ em ritos repulsivos filmados pelos carrascos e transformados em programas de TV ─ de dois jornalistas e um agente humanitário. Não emitiu nenhum sinal de desconforto com os massacres intermináveis, os estupros selvagens, a rotina da tortura, a pena de morte por heresia aplicada a quem não se subordina aos dogmas da seita. A presidente só “lamenta enormemente” a perda de aliados na guerra irremediavelmente perdida que move desde a juventude contra o imperialismo ianque.
Erguido durante a entrevista coletiva convocada pela doutora em nada, o monumento ao cinismo foi implodido por uma nota subscrita por Ban Ki-Moon, secretário-geral da Organização das Nações Unidas. Além de endossar os bombardeios americanos, Ki-Moon lembrou que os devotos da barbárie só serão contidos por mais operações militares semelhantes às executadas pelos Estados Unidos. Sem ter lido o documento, Dilma avisou que o besteirol seria reprisado em seu discurso na ONU. Caso cumpra a promessa, todos os presentes entenderão por que um representante do governo de Israel, inconformado com o ostensivo apoio do governo lulopetista ao Hamas, qualificou o país de “anão diplomático”
Entre o governo constitucional paraguaio e o presidente deposto Fernando Lugo, Dilma escolheu o reprodutor de batina. Também se juntou aos patifes da vizinhança na conspiração que afastou do Mercosul o Paraguai e permitiu a entrada da Venezuela chavista, fez todas as vontades do bolívar-de-hospício que virou passarinho, arranjou até um estoque de papel higiênico para adiar o naufrágio de Nicolás Maduro, curvou-se aos caprichos do lhama-de-franja que reina na Bolívia, presenteou a ditadura cubana com o superporto que o Brasil não tem e transformou a Granja do Torto em residência de verão de Raúl Castro. Fora o resto.
O apoio enviesado ao Estado Islâmico é também uma prova de coerência. Só poderia agir assim quem fez há pelo menos 12 anos a opção preferencial pela infâmia.
Os saqueadores da Petrobras assassinaram CPIs em vão: a roubalheira foi exumada pela Polícia Federal e por um juiz sem medo
PUBLICADO EM 09 DE SETEMBRO
“A Petrobras já está privatizada”, informa o título do post publicado em 10 de junho de 2010. Aparecem no texto, inspirado no surto de chiliques provocado pela criação de uma CPI incumbida de investigar a estatal, personagens que acabam de sair da caixa preta em poder do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Confira: O presidente Lula ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Depois de ter feito o possível para interromper a gestação, agora faz o possível para matá-la no berço. Baseado no critério do prontuário, entregou a Renan Calheiros o comando do grupo de extermínio montado para o justiçamento. O senador do PMDB alagoano, diplomado com louvor na escolinha que ensina a delinquir impunemente, é especialista no assassinato de qualquer coisa que ponha em risco o direito conferido aos congressistas leais ao Planalto de roubar sem sobressaltos. O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Caprichando no palavrório que identifica os nacionalistas de galinheiro, qualificou de “inimigos da pátria” os partidários da devassa na empresa ─ o que promove automaticamente a defensores da nação em perigo os que tentam manter fechada a caixa preta. Gente como Renan Calheiros. Ou Ideli Salvatti. Ou Fernando Collor. Ou Romero Jucá, em aquecimento para encarnar o papel de relator que impede a coleta de relatos relevantes. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ficou muito irritado com a instauração da CPI da Petrobras. Governista seja qual for o governo, o agregado da Famiglia Sarney conhecido na Polícia Federal pela alcunha de Magro Velho alegou que iluminar os porões de uma empresa que é a cara do Brasil Maravilha espanta clientes, fornecedores e possíveis parceiros. Se conhecessem a folha corrida de Lobão, todos os clientes, fornecedores e possíveis parceiros já teriam saído em desabalada carreira das cercanias da Petrobrás e do gabinete do ministério. Os modernos pelegos ficaram muito irritados com a instauração da CPI da Petrobras. Jovens velhacos da UNE berraram que o petróleo é nosso para plateias insuficientes para eleger um vereador de grotão. Velhos velhacos da CUT garantiram que CPI gera desemprego para gente mais interessada no kit dupla sertaneja+pão com mortadela+tubaína. Vigaristas do PT, do PP e do PMDB lembraram aos sussurros que o petróleo é nosso, mas a eles compete a escolha dos diretores incumbidos de cuidar dos interesses dos padrinho, do partido e do país, nessa ordem. Tudo somado, e embora a CPI nem tenha ainda saído do papel, ficou mais difícil acusar os partidos de oposição, a elite golpista, os paulistas quatrocentões, os capitalistas selvagens e os loiros de olhos azuis de tramarem nas sombras a privatização da Petrobrás. A empresa já foi privatizada ─ sem licitação. O novo dono é o PT, que arrendou parte do latifúndio à base alugada. Em 29 de outubro de 2009, os representantes da oposição abandonaram a CPI. “Todos os requerimentos importantes são arquivados sem discussão pela maioria governista”, disse o senador Álvaro Dias, que propusera a instauração da comissão. Em 17 de dezembro, ao fim de 14 sessões reduzidas a shows de cinismo, foi aprovado o papelório de 359 páginas “destinado a contribuir com a Petrobras e com o Brasil” . O relator Jucá concluiu que todos os culpados eram inocentes, não enxergou nenhuma irregularidade na compra de plataformas e viu apenas maledicências nas denúncias de superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Jucá, Lobão, Renan, chefões do PP, cardeais do PMDB, Altos Companheiros do PT ─ um a um, os saqueadores da Petrobras, abraçados aos comparsas que ampliaram a quadrilha nos últimos anos, vão sendo expelidos do baú de bandalheiras aberto por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento e Refino. Foi para seguir embolsando sem sobressaltos propinas bilionárias que os assassinos de CPIs escavaram em 2009 a cova rasa prestes a acolher outras duas comissões que agonizam no Congresso. O enterro de CPIs não impediu a exumação das verdades que têm assombrado desde sábado o Brasil que presta. Para resgatar os fatos, foi suficiente que uma oportuníssima conjunção dos astros juntasse agentes da Polícia Federal, procuradores de Justiça e um magistrado desprovidos do sentimento do medo. O acordo de delação premiada foi consequência do trabalho exemplar dos que investigaram, da altivez dos que acusaram e, sobretudo, da coragem do juiz federal Sergio Moro, que tornou a prender o ex-diretor da Petrobras inexplicavelmente libertado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. O acordo que induziu Paulo Roberto Costa a abrir o bico, aliás, precisa ser homologado por Zavascki. Precavido, Moro deixou claro ao depoente que, para livrar-se de envelhecer na prisão, teria de fornecer nomes e provas que permitissem a completa desmontagem do esquema criminoso e, portanto, justificassem a delação premiada. É o que o ex-diretor da Petrobras tem feito nos interrogatórios diários que duram em média quatro horas. A menos que tenha perdido o juízo, restará a Zavascki chancelar o acordo sem falatórios em juridiquês. O país decente acaba de descobrir que a praga da corrupção impune pode ser erradicada sem que parlamentares e ministros togados ajudem. Basta que não atrapalhem. Basta que não tentem eternizar o faroeste à brasileira — único do gênero em que o vilão sempre escapa do xerife e nunca perde o controle da terra sem lei.
Lula ouve o aviso em forma de choro: até um bebê de colo acha que oportunismo tem limite
PUBLICADO EM 18 DE AGOSTO
Os políticos presentes ao velório de Eduardo Campos cumprimentaram com sobriedade a viúva, sussurraram duas ou três palavras de consolo a algum parente que estivesse por perto e saíram do foco das câmeras. Os limites da circunspecção foram respeitados por todos ─ com uma única e previsível exceção. Lula, vaiado na chegada, não perdeu a chance de produzir uma imagem que sugerisse um alto grau de intimidade (que nunca existiu) com a família do morto.
Ao topar com Renata Campos, o palanque ambulante capturou o caçula Miguel, até então posto em sossego nos braços da mãe, e posou para os fotógrafos beijando a testa do garotinho de sete meses. O truque eleitoreiro resultaria numa cena e tanto se o pequeno coadjuvante não tivesse rasgado o roteiro: assim que foi levantado por Lula, Miguel caiu no choro. Até bebê de colo acha que oportunismo tem limite.
Dilma na sabatina da CNI: a doutora em preço de gás diz que 13 menos 4 é igual a 7, viaja da Ucrânia para o Japão em menos de um minuto, confunde usina nuclear com furacão e submerge num tsunami
PUBLICADO EM 30 DE JULHO
Até o colunista acharia que o título do post é coisa da elite golpista, gente que acorda e dorme debochando da presidente da República, se não pudesse apresentar como prova o vídeo que registra um trecho das considerações finais de Dilma Rousseff na sabatina da CNI. A candidata à reeleição começa discorrendo sobre as variações do preço do gás no mercado internacional, estaciona de novo em reticências bêbadas e diz o seguinte:
“Na Ucrânia pagam 13 dólares o… o milhão de BTU. Mas.. 4 pra 13 dá sete.. pagam… quanto é que paga? Depois do furacão.. (Uma alma caridosa na plateia corrige a maluquice aritmética: NOVE!). Aliás 4 pra 13 dá 9.. eu tô pensando no furacão Ka.. o furacão não.. em Fugujima (sic)… Como é que chama.. no Japão.. O tsunami…”
Pena que o vídeo não tenha incluído o fecho recitado em dilmês erudito: “No Japão a diferença é aquela que eu disse”. O Japão jamais saberá que diferença é essa. Mas todos os japoneses sabem que Fukushima nunca foi “Fugujima” sempre foi Fukushima. E aprendem ainda na infância que 13 menos 4 jamais será igual a 7.
Nada como uma vaia atrás da outra para abalar a fé dos devotos, emudecer o chefe da seita e tirar o sono da guardiã do rebanho
PUBLICADO EM 5 DE MAIO
Nada como uma vaia atrás da outra para embaralhar a partitura da ópera dos malandros, desafinar o coro dos contentes, tirar o sono dos sacerdotes da seita, emudecer o seu único deus, escancarar a indigência mental da guardiã do rebanho, abalar a fé do mais fanático devoto, induzir convertidos de aluguel a flertar com outros altares. Nada como uma vaia atrás da outra para assombrar as madrugadas de quem até outro dia dormia contando votos da vitória no primeiro turno e acordava sonhando com a proclamação da república bolivariana.
As manifestações de rua de 2013 implodiram a farsa do Brasil Maravilha, mas os alvos dos protestos não foram identificados tão claramente quanto neste outono. Os destinatários das mensagens sonoras agora têm nome, sobrenome, endereço e filiação partidária. Cresce em progressão geométrica a imensidão de brasileiros que enxergam as coisas como as coisas são. Milhões de lesados descobriram que o bando acampado no coração do poder foi longe demais até para os padrões do País do Carnaval.
Todos constataram que o governo lulopetista recruta e acoberta corruptos. Que a roubalheira impune agora é medida em bilhões de dólares. Que os ineptos e os larápios se associaram para enterrar em estádios padrão Fifa o dinheiro que poderia abrandar pavorosas carências no universo da saúde e da educação. Que as promessas não descem dos palanques. Constataram, enfim, que lidam há 12 anos com vendedores de nuvens e camelôs de si próprios.
Alheio às alterações na paisagem, o marqueteiro João Santana imaginou, depois de consumir uma semana na releitura de pesquisas recentes, que a curva descendente da candidata à reeleição seria invertida por outro comício eletrônico transmitido em cadeia nacional. Péssima ideia: a discurseira na véspera do Dia do Trabalho só serviu para comprovar que as cartas na manga vão minguando, que as mágicas de picadeiro vão perdendo o prazo de validade e que truques outrora infalíveis ficaram grisalhos.
Habituada a conjugar impunemente os três verbos preferidos de Lula — mentir, tapear, distorcer —, Dilma descobriu que o senador Aécio Neves e o ex-governador Eduardo Campos não pretendem deixar nenhum embuste sem revide. Dispostos a provar que a oposição voltou de vez das férias, os candidatos do PSDB e do PSB acabarão assumindo o papel de porta-vozes dos descontentes. Só assim conseguirão sintonizar-se com os milhões de integrantes da resistência democrática, que desde sempre combate sem tréguas a tropa mobilizada para transformar o Brasil numa Venezuela que fala português.
Dilma garantiu, por exemplo, que “a inflação continuará rigorosamente sob controle”. Ouviu que não se pode continuar o que não começou. Ao “reafirmar o compromisso do governo com o combate incessante e implacável à corrupção”, foi convidada a suspender a guerra de extermínio movida contra quem se atreve a investigar patifarias bilionárias consumadas nas catacumbas da Petrobras. E a tentativa de responsabilizar a oposição pelos estragos na imagem da estatal saqueada soou como anedota improvisada por patriotas de galinheiro.
“Os brasileiros não aceitam mais a hipocrisia”, recitou no fim do comício. Não aceitam mesmo, reiteraram as comemorações do Primeiro de Maio em São Paulo. Pela primeira vez desde a fundação do PT em 1980, figurões do Partido dos Trabalhadores foram impedidos de discursar no Dia do Trabalho. O ministro Ricardo Berzoini e o prefeito Fernando Haddad, por exemplo, não conseguiram abrir a boca sequer no palanque da CUT, controlada desde sempre por pelegos companheiros. Lula e Dilma nem deram as caras por lá. Na tarde seguinte, obrigada a visitar a Expozebu, a presidente reencontrou em Uberaba — três vezes — as vaias das quais escapara na véspera.
Nas primeiras 72 horas de maio, João Santana aprendeu, entre outras lições sempre úteis, que o país que não é para amadores também trata sem clemência adivinhos de botequim. Confrontado com a epidemia de apupos (e com mais uma pesquisa atulhada de más notícias para o Planalto), ele certamente se lembrou da entrevista, concedida em dezembro de 2010, em meio à qual resolveu restaurar a monarquia, transformar o gabinete presidencial em sala do trono e coroar Dilma Rousseff.
“Como se trata de uma figura única, que uma nação precisa de séculos pra construir, a ausência de Lula deixa uma espécie de vazio oceânico”, pontificou o arauto do reino. Apesar disso, ou por isso mesmo, Dilma tinha tudo para transformar-se na herdeira que todo súdito pede a Deus. “A República brasileira não produziu uma única grande figura feminina, nem mesmo conjugal”, ensinou Santana. “O espaço metafórico da cadeira da rainha só foi parcialmente ocupado pela princesa Isabel. Dilma tem tudo para ocupar esse espaço”.
Em novembro de 2012, festejou o acerto da profecia. “Foi uma metáfora que está se cumprindo simbolicamente”, cumprimentou-se o imaginoso baiano. “Grandes camadas da população têm um respeito, uma admiração e um carinho tão sutil por Dilma que chega até a ser de uma forma majestática”. Os fatos já aposentaram faz tempo o professor de história e o vidente. O marqueteiro só sobreviverá se esquecer os escombros do trono e concentrar-se nas rachaduras do palanque.
Mas vai perder seu tempo se ceder à tentação de descobrir a cura da vaia. E acabará perdendo o emprego.
O discurso no Pará aprofunda o maior enigma da História do Brasil e de suas brasileirices: como alguém como Dilma chegou à Presidência da República?
PUBLICADO EM 26 DE ABRIL
Ainda convalescendo de discursos recentes, o jornalista CELSO ARNALDO ARAÚJO foi abalroado pelo palavrório de Dilma Rousseff no Pará. Imediatamente, mandou três trechos escoltados por observações que imploram por internações no Sanatório Geral. Mas uma trinca de comentários de Celso Arnaldo é coisa para o Direto ao Ponto. Confira. (AN) De tempos em tempos, a Dilma faz um discurso que supera os anteriores e passa a vigorar, pelo menos por alguns dias, como o pior de todos os tempos. Este, feito ontem no interior do Pará, em mais uma daquelas transcendentais entregas da santíssima trindade “retroescavadeira, motoniveladora e pás carregadeiras” para municípios com menos de 50 mil habitantes, é quase imbatível. Pelo menos até o próximo… Sem nenhum esforço, a esmo, pincei três passagens que, na verdade, falando sério, simbolizam, no reino das palavras e das ideias, o maior enigma da História do Brasil e de suas brasileirices – como alguém como Dilma Rousseff chegou à Presidência da República? A DILMA COMO ELA É “Vocês vejam como é que é a vida. Eu nunca acho uma Dilma, e hoje uma Dilma fala e a outra Dilma depois fala”. (Na abertura do discurso na entrega de 32 máquinas a municípios do Pará, dirigindo-se à prefeita de Belterra, Dilma Serrão, ao confirmar que ainda não se achou e que, de todas as Dilmas do Brasil, ela é a única que não fala português) TEORIA GERAL DA DILMA “O início do Brasil e o fim do Brasil e o meio do Brasil são os municípios, porque não existe, de fato… nem é União, nem é um estado, um estado fisicamente. Existem, fisicamente, os municípios, as cidades e as zonas rurais”. (Ao admitir que o Brasil não precisa de uma presidente da República) PRA FRENTE, PARÁ “Então, eu vou concluir dizendo para a maioria e para a minoria, para todos, por que é que eu dei esse exemplo? Eu dei esse exemplo pelo seguinte, eu quero dizer para vocês que o Brasil só vai para frente se o Pará for para frente”. (No fecho do discurso, ao anunciar que, se o Pará for para frente, o Brasil – onde maioria e minoria formam o todo – ganha mais um pedaço do Oceano Atlântico)
05 de janeiro de 2015
Coluna do Augusto Nunes, Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário