A pessoa, vale lembrar, não mora em programa eleitoral. Mora em casa.
Pela sétima vez depois da redemocratização, os brasileiros foram às urnas para eleger o presidente da República e postulantes a mandatos estaduais e federais. É fato memorável. Há 30 anos, mais de 1 milhão de pessoas tomaram as ruas das principais cidades para exigir o direito de escolher o mandatário diretamente, sem intermediários.
Em junho do ano passado, multidão de jovens de norte a sul do país manifestou-se publicamente não mais para reivindicar o legítimo exercício da cidadania, mas avanços sociais garantidos pela democracia. Ontem, o quarto colégio eleitoral do mundo deu demonstração de maturidade.
Depois de campanha marcada pela imprevisibilidade, solavancos e apelo a jogos baixos, milhões de cidadãos, cumpriram o dever cívico de votar. Graças à organização do Tribunal Eleitoral e a civilidade do eleitor, o evento transcorreu sem maiores transtornos. Ocorrências que contrariaram a legislação, como boca de urna e distribuição de propaganda, tiveram a resposta adequada sem comprometer o resultado.
Vale, pois, lembrar frase de Livingstone Bituraldo. "Quem ganha", escreveu ele, "não é quem vence as eleições, mas quem vota com inteligência". O formato da campanha, porém, não permitiu o conhecimento das propostas de quem pleiteia mandato. Entregues a marqueteiros, as peças publicitárias não apresentaram nem discutiram programas.
O cidadão acaba assinando cheque em branco. Daí por que muitos não se sentem representados pelos vitoriosos nas urnas. Em consequência, não fiscalizam o eleito. É sabido, porém, que ninguém se senta em cadeira no Legislativo e no Executivo levado apenas pela vontade de lá chegar. Presidente, governador, senador, deputado, prefeito e vereador são conduzidos pela mão do voto.
Problemas cruciais têm de ser debatidos. Que proposta concreta tem o candidato para chegar à educação que dê acesso ao conhecimento; oferecer saúde que salva em vez de matar; dar segurança que assegure o direito de ir e vir sem risco de ser molestado, ferido ou morto; manter o poder de compra do salário; garantir mobilidade com transporte público rápido, pontual e abrangente; combater efetivamente a corrupção; simplificar a burocracia e aplicar melhor os recursos públicos?
O segundo turno abre a possibilidade de correção de rumos. Campanhas indiretamente pagas pelos impostos arrecadados da sociedade precisam informar. Têm de ser propositivas. Espera-se que peças de ficção sejam substituídas pela realidade - que pode e deve ser mudada. A pessoa, vale lembrar, não mora em programa eleitoral. Mora em casa.
07 de outubro de 2014
Editorial Correio Braziliense
Em junho do ano passado, multidão de jovens de norte a sul do país manifestou-se publicamente não mais para reivindicar o legítimo exercício da cidadania, mas avanços sociais garantidos pela democracia. Ontem, o quarto colégio eleitoral do mundo deu demonstração de maturidade.
Depois de campanha marcada pela imprevisibilidade, solavancos e apelo a jogos baixos, milhões de cidadãos, cumpriram o dever cívico de votar. Graças à organização do Tribunal Eleitoral e a civilidade do eleitor, o evento transcorreu sem maiores transtornos. Ocorrências que contrariaram a legislação, como boca de urna e distribuição de propaganda, tiveram a resposta adequada sem comprometer o resultado.
Vale, pois, lembrar frase de Livingstone Bituraldo. "Quem ganha", escreveu ele, "não é quem vence as eleições, mas quem vota com inteligência". O formato da campanha, porém, não permitiu o conhecimento das propostas de quem pleiteia mandato. Entregues a marqueteiros, as peças publicitárias não apresentaram nem discutiram programas.
O cidadão acaba assinando cheque em branco. Daí por que muitos não se sentem representados pelos vitoriosos nas urnas. Em consequência, não fiscalizam o eleito. É sabido, porém, que ninguém se senta em cadeira no Legislativo e no Executivo levado apenas pela vontade de lá chegar. Presidente, governador, senador, deputado, prefeito e vereador são conduzidos pela mão do voto.
Problemas cruciais têm de ser debatidos. Que proposta concreta tem o candidato para chegar à educação que dê acesso ao conhecimento; oferecer saúde que salva em vez de matar; dar segurança que assegure o direito de ir e vir sem risco de ser molestado, ferido ou morto; manter o poder de compra do salário; garantir mobilidade com transporte público rápido, pontual e abrangente; combater efetivamente a corrupção; simplificar a burocracia e aplicar melhor os recursos públicos?
O segundo turno abre a possibilidade de correção de rumos. Campanhas indiretamente pagas pelos impostos arrecadados da sociedade precisam informar. Têm de ser propositivas. Espera-se que peças de ficção sejam substituídas pela realidade - que pode e deve ser mudada. A pessoa, vale lembrar, não mora em programa eleitoral. Mora em casa.
07 de outubro de 2014
Editorial Correio Braziliense
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