"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ASSUNTO: VOCÊ, CHICO E EU

De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff

ucho_23Como sempre faço na abertura dos nossos colóquios redacionais, Dilma, lembro que abdico da formalidade do tratamento para não comprometer a fluidez do texto.
Até porque, se sua fala é desconexa – sem começo, meio e fim – o raciocínio não deve ser diferente.
Espero que, ao ler este artigo, você esteja sozinha para, à vontade, gaguejar de nervoso e não constranger eventuais convivas, pois nos bastidores sua fama passa longe da diplomacia.
 
Por certo você não sabe, Dilma, mas há muito me dedico a pesquisar música, em especial a música negra norte-americana dos anos 70, 80 e 90. Sei que os Estados Unidos não frequentam a cartilha dos comunistas, que sempre disparam salamaleques peçonhentos na direção da terra do Tio Sam, mas confesso que meu ouvido é apuradíssimo.

Daí você pode imaginar a extensão da minha felicidade quando ouço seus discursos mentirosos, sempre recheados de coisas que seu governo não fez. Mas tudo bem, Dilma, afinal o Brasil ainda é uma democracia e você tem o direito de acionar o besteirol oficial, inclusive de mentir.
 
Mas não foi por causa das besteiras que você regurgita sobre a população incauta que decidi trocar o ócio sabático por estas linhas. Na verdade, Dilma, o meu propósito é discorrer sobre seu mais ilustre cabo eleitoral, o Chico Buarque de Holanda. Desde que me entendo por gente tento compreender essa coisa de Chico ser cantor.

O sujeito canta mal, fez sucesso com meia dúzia de músicas compostas ao longo da ditadura militar, em cima do palco parece que está fazendo um enorme favor, mas o universo feminino da nossa querida e amada Botocúndia derrete-se diante do desafinado representante da esquerda caviar, aquele grupelhos de falsos ideólogos esquerdistas que adoram as benesses do capitalismo.
É o seu caso e o do lobista de empreiteira, que um dia acordou ainda mais insano e acreditando que você é uma ode à competência.
 
É fato que a democracia, Dilma, se sustenta no equilíbrio de opiniões divergentes, desde que haja espaço para o contraditório. Acontece que vocês – assim você se refere aos tucanos e a FHC -, comunistas de camelô, estabeleceram que os críticos do PT são golpistas, os aduladores são herdeiros de Aladim.

Os números da economia, por exemplo, não permitem que vocês transformem o direito ao contraditório em monumento à verdade. Dilma, você diz que a inflação está sob controle, possivelmente porque acredita que é pessimista o trabalhador que fica enfurecido quando o salário acaba e o mês continua por mais duas semanas. Mesmo assim, candidata, o Chico disse que votará na Dilma por causa da Dilma.
 
Dilma, cá entre nós, sem que ninguém nos ouça. Você, em sã consciência, votaria na Dilma? Se a resposta for positiva, de fato estamos diante de um caso que merece camisa de força, medicamento tarja preta e choque elétrico.
Você arruinou a economia brasileira, solapou a indústria nacional, enganou a população o tempo todo, conviveu e incentivou os corruptos do Petrolão, mas está certa de que é a melhor solução para o País. O pior não é isso, presidente! O Chico disse que votará na Dilma por causa da Dilma.
 
Dilma, sempre achei o Chico Buarque um blasé desafinado que posa de esquerdista porque é politicamente correto. Mesmo que tivesse um apartamento em Paris, com adega repleta até o teto de champagne “comme Il faut” (se não souber o significado procure um dicionário), eu não votaria em você.
Não que um bangalô de luxo na Ile-de-France não faça a alegria de qualquer mortal, pelo contrário, mas é que não conseguiria contemplar a beleza e o charme da Cidade-Luz porque seria obrigado a andar cabisbaixo de vergonha. Desperdiçar o voto apostando fichas em alguém incompetente, que alimenta a catapulta da corrupção, é passar recibo de cretinice.
 
Aliás, Dilma, eu sempre soube que musicalmente o Chico era desafinado, mas essa coisa de declarar voto em você é o mesmo que atravessar a nota no estribilho da coerência. Candidata, o Chico Buarque, seu cabo eleitoral de luxo, é daqueles falsos comunistas que adoram viver como nababos. Por isso a veneração míope do Chico em relação ao assassino Fidel Castro, outro frequentador inveterado do capitalismo. Você, Estela, quer dizer Dilma, e a “companheirada” fazem o mesmo, apenas porque creem que ser perseguido por um ditador comunista é a senha para o paraíso.
 
Voltando à sua majestosa competência (sic), você empurrou a população na vala do endividamento, permitiu que a inflação corroesse os salários, contribuiu sobremaneira para que a inadimplência chegasse à estratosfera, mas o Chico diz que votará na Dilma por causa da Dilma.

Você não acha que esse tal de Chico é incoerente, Dilma? Quando ouvi essa declaração, que de tão ridícula chega a ser torpe, pensei o seguinte: ele, o Chico, não tinha o que falar e acabou dizendo que votará na Dilma por causa da Dilma. É o mesmo que um eleitor tucano dizer que vota no Aécio por causa do Aécio.

Ou seja, elementar meu caro Watson, quer dizer, minha cara Dilma. A bizarrice tornou-se ainda maior quando o Chico disse que em 2010 votou na Dilma por causa do Lula. Em outras palavras, o Chico votou no fantoche por causa do Ali Babá, mas você, Dilma, ousa falar em conquistas. OK, tudo muito bem e sigamos adiante.
 
Dilma, você pode até achar que é ridículo de minha parte, mas vou revelar um segredo, desde que você prometa que ninguém mais saberá disso. Torço pelo Corinthians porque o meu time do coração é o Corinthians. Ridículo, não é, Dilma? Assim é o seu cabo eleitoral, que pensa estar a população à toa na vida esperando a banda passar.
E não pense que vou chamar você de meu amor, pois não estou em campanha e fora dela jamais cometeria essa loucura. Mesmo que você me presenteasse com o Ministério da Cultura, permitindo que liberasse financiamentos para metade da família e mais alguns penduricalhos parentais.
 
Ao longo de mais de cinquenta anos, Dilma, nunca cometi a irresponsabilidade de comprar um disco do Chico. Há de surgir a turma do contra para me acusar de louco, mas, como destaquei acima, o Brasil ainda é uma democracia e ouço aquilo que quiser.
E ai daquele que ousar interferir na minha vitrola. Pelo fato de jamais ter comprado um disco do Chico ou ido a um dos seus shows, não conheço a fundo o seu repertório musical, mas forçando o pensamento lembrei-me de ao menos duas músicas.
 
Como se estivesse naquelas enfadonhas e melancólicas madrugadas de outrora, no “interiorzão” do Brasil, reavivei na memória os tempos em que se telefonava para a rádio e pedia à produção uma música, com direito a dedicatória. Certo de que sua certidão de nascimento foi expedida muito antes da minha, você, creio, sabe do que estou falando. De voz grave, pausada e sensual, o locutor da rádio debruçava a agulha da vitrola sobre a bolacha de vinil, anunciava o nome da música e lascava no ar a dedicatória.
 
Nesse momento de nostalgia faço o mesmo, porque sinto-me na obrigação de agradecer por tudo o que você e o seu partido fizeram pelo País e pelos brasileiros. Aliás, não sei se você conhece aquele famoso comunista de botequim que certa vez disse “nunca antes na história deste país”. Embalado por essa pérola filosofal, faço deste artigo, mesmo que por alguns instantes, uma réplica das saudosas rádios de interior, com direito a dedicatórias.
A você, prezada e genial candidata, dedico a música “Geni e o Zepelim”, do “companheiro” Chico Buarque. Temendo que você não conheça a música, transcrevo um trecho da letra, que no seu desenrolar me sugeriu uma rápida substituição de nomes. Assim cantou o seu cabo eleitoral: “Joga pedra na Geni!/ Joga bosta na Geni! / Ela é feita pra apanhar / Ela é boa de cuspir”…
 
Elegante que sou, afinal fui criado para ser um cavalheiro, jamais jogaria pedra em “Geni” alguma, mesmo que as minhas “Genis” só atendam por esse nome no meu imaginário. Também não jogaria bosta nas “Genis, muito menos nelas cuspiria.
Mas confesso que em algumas poucas “Genis” tenho vontade de jogar tudo o que estiver à minha frente. Por sorte a sua mãe, na pia batismal, lhe deu o nome de Dilma, mas metade da nação entraria em êxtase se fosse Geni. Não por causa do Chico que diz que votará na Dilma por causa da Dilma, mas porque tem gente de sobra no País achando que você merece ao menos uma estrofe da música.
 
Para evitar a ciumeira entre os companheiros, todos injustiçados pela opinião pública elitista e vítimas da imprensa golpista, passo para a segunda música da noite (pode ser do dia, também), até porque seu partido faz por merecer: “Ópera do Malandro”. E que seus sequazes fiquem à vontade para encarnar o malandro, o que fazem com extrema maestria, porque de ópera eles nada sabem.
 
Sempre soube que o voto era secreto, mas agora, em tempos de Justiça Eleitoral sob rédeas dúbias, decidi soltar o verbo e revelar o candidato em que votarei, porque já tem gente fazendo isso até diante da urna.
Voltando ao Chico, descobri que seu cabo eleitoral não é tão inútil como pensava. Com sua pífia declaração de voto, Chico, o desafinado musical e politicamente, me ajudou a descobrir algo interessante: ele vota na Dilma por causa da Dilma, mas eu voto no Aécio por causa da Dilma. Resumindo, você, candidata, pode até vencer a eleição, mas perde para a Dilma por causa da Dilma. Passe bem, Geni, quer dizer, Dilma!

27 de outubro de 2014
Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

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